A Maternidade de Embu das Artes resolveu fazer o parto normal em uma adolescente de 17 anos, mas realizou o procedimento obstétrico depois do tempo devido e causou a internação de emergência do bebê, que está entre a vida e a morte em uma UTI. A mãe de R. D., a professora Sandra Regina de Souza, que faz a denúncia da negligência médica da maternidade, gerida por uma organização privada, a Edusa, sob supervisão da prefeitura. A menina está em choque.
R. deu à luz um menino na maternidade municipal há cerca de duas semanas, na madrugada do dia 16, por volta de 3h, mas o bebê nasceu em procedimento que se transformou em um tormento para a adolescente e a família, a ponto de ser necessário ser transferido às pressas um dia depois para a unidade de terapia intensiva neonatal do Hospital Geral do Pirajuçara, em Taboão da Serra. “Forçaram parto normal. O cordão umbilical ficou enrolado no pescoço”, diz Sandra.
De acordo com a mãe de R., o bebê nasceu com apgar (índice que avalia a adaptação à vida fora do útero), o primeiro exame no recém-nascido, muito abaixo do normal. “Os primeiros cuidados foram irresponsáveis, o levando quase a óbito. Incompetentes. São relapsos e descompromissados em cuidar da vida humana e promover a saúde e bem estar aos que estão ali. Tratam as pessoas como lixo”, diz a professora, com filha única, aflita com o estado do único neto.
Sandra faz outra denúncia. “Estão negando o prontuário. E estão fazendo alterações no mesmo”, diz. A reportagem questionou o porquê. “Para se isentarem das responsabilidades. São criminosos, negligentes. Sem reputação, já os investiguei. Sei que fazem isso. A legislação diz que ao ser solicitado o prontuário precisa ser entregue ao paciente ou ao familiar autorizado, não cabendo a recusa. Eles me negaram. Hoje irei à polícia fazer boletim de ocorrência”, afirma.
“Não vão conseguir fugir das responsabilidades deles dessa vez. Sou muito correta, conheço meus deveres e também os meus direitos. Quero apenas que a ordem se estabeleça naquele lugar. Estão lidando com vidas. Com vidas. Quero que os culpados sejam penalizados”, afirma, indignada, a professora, que mora e trabalha em outro Estado, no Espírito Santo. “Deixei tudo para estar aqui com a minha filha. Sou horista numa instituição e estou aqui sem trabalhar”, explica.
Sandra não presenciou o atendimento à filha, mas está convicta do descaso. “A minha prima é testemunha, ela esteve com a minha filha o tempo todo na maternidade enquanto eu estava a caminho de Vitória para São Paulo”, relata. Ela conta que foi aconselhada a não denunciar por poder sofrer retaliações e crê que “muitos outros casos virão à tona”. “Não tenho medo do prefeito. Nem de ninguém. Quero fazer com que as pessoas saibam que podem denunciar”, diz.
R. teve uma gravidez – a primeira – tranquila, “sem nenhuma intercorrência”, nas próprias palavras da mãe. Moradora de outra região, em Mogi das Cruzes (leste da Grande SP), a adolescente estava passeando na casa da prima da mãe, quando passou mal – “estava com 38 semanas, quase 39”, diz a mãe de R. “E aí aconteceu tudo isso”, acrescenta Sandra, que procurou e nesta manhã recebeu o VERBO na residência da prima, no Jardim Maria Sampaio (zona sul de SP).
Sandra diz que já pediu acompanhamento psicológico para R. “Ela está triste, abalada”, afirma. “Sei que não posso fazer voltar o tempo e evitar o que aconteceu com a minha filha e o meu neto, mas denunciando isso podemos evitar que outras famílias passem pela mesma dor e sofrimento que estamos passando. Por negligência médica, o meu netinho passou da hora de nascer e na madrugada do dia 17 foi grave para a UTI do Hospital Geral, onde está até hoje”, relata.
OUTRO LADO
Procurado pela reportagem, o secretário de Saúde de Embu, José Alberto Tarifa, disse que “até o momento não foram constatadas irregularidades” no parto, mas que a secretaria e a comissão de ética da maternidade “estão averiguando todos os procedimentos e condutas adotadas, para fins de esclarecimento, reorientações ou até mesmo denúncia ao Conselho Regional de Medicina, no caso de confirmação de irregularidades ou negligências”. Eis a resposta na íntegra:
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José Alberto Tarifa, secretário de Saúde de Embu das Artes – “Conforme documentos comprobatórios, a paciente RD foi acolhida na maternidade no dia 15 de julho de 2018, às 13:30 da tarde, com queixa de dor em baixo ventre ha aproximadamente 3 dias, estando em idade gestacional de 38 semanas e meia. Foram realizados exames preventivos com o objetivo de assegurar a saúde e segurança da parturiente e bebe como: cardiotoco, toque e sangue. No mesmo dia devido a início de dilatação, foi realizada sua internação com indicação de parto normal.
Em 16 de julho de 2018, às 03:14 da manhã, foi realizado o parto no Centro Cirúrgico, acompanhado da neonatologista, ginecologista e enfermeira obstetra. Em prontuário não constam intercorrências com o recém-nascido, sendo ás 05:40 da manhã encaminhado para o alojamento conjunto onde recebeu apoio e passou a ser amamentado pela mãe.
Aproximadamente às 16:00 da tarde do mesmo dia, 16 de julho, o recém-nascido começou a apresentar certo desconforto respiratório, sendo encaminhado assim ao berçário da unidade para procedimentos de ventilação mecânica e observação. Às 02:30 da manhã, do dia 17 de julho, a criança foi transferida para o Hospital Pirajussara para dar seguimento ao tratamento intensivo, onde permanece até esta data.
Até o momento não foram constatadas irregularidades nos procedimentos que se referem ao parto, porém a Secretaria de Saúde juntamente com a Comissão de Ética da Maternidade Alice Campos Machado estão averiguando todos os procedimentos e condutas adotadas, para fins de esclarecimento, reorientações ou até mesmo denúncia ao Conselho Regional de Medicina, no caso de confirmação de irregularidades ou negligências.”
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