Médica admite que o órgão foi perfurado durante o procedimento. (Foto: Reprodução) |
A médica Geysa Leal Corrêa classificou como “um acidente” a perfuração do intestino da estudante de Educação Física Gabriela Nascimento de Moraes, de 23 anos, que foi internada após passar por uma hidrolipo. Em uma gravação de voz enviada pelo aplicativo WhatsApp ao celular da jovem, a médica admite que o órgão foi perfurado durante o procedimento, mas nega ter ocorrido erro médico. De acordo com o advogado de defesa da vítima, a gravação foi feita entre os dias 18 e 20 de julho, quando a médica foi ao Hospital Federal Cardoso Fontes, em Jacarepaguá, para verificar o estado de saúde da paciente.
Antes de ser internada, a jovem relatou a Geysa que achava que estava saindo comida pelo local onde o procedimento havia sido feito, mas a médica descartou a possibilidade de perfuração. “(…) impossível sair comida. Se eu tivesse perfurado alguma coisa, você já tinha morrido. É simples assim. Perfuração é grave”, disse a médica em uma mensagem de áudio, antes de sugerir que a paciente comesse a secreção para verificar se era realmente comida.
Na última mensagem enviada ao celular da jovem, o tom de Geysa é diferente. A médica admite a perfuração e explica que ela foi provocada por uma hérnia que surgiu na cicatriz de uma cirurgia anterior.
“O que aconteceu foi uma perfuração sim, mas por causa de uma hérnia da época que ela teve apendicite. Por causa da complicação do apêndice, ela fez cirurgia duas vezes, então agarrado àquela cicatriz, que estava muito feia, tinha uma hérnia. Então quando eu soltei aquela cicatriz eu belisquei, peguei uma alça intestinal que estava no caminho errado por causa de uma hérnia. Isso é muito desagradável, é um acidente. Por que é um acidente e não um erro? Porque não era o local de ter uma hérnia ali. A hérnia não era visível, não era palpável. Mas eu assumo toda responsabilidade porque meu compromisso é com a saúde. Sou médica antes de qualquer coisa”, diz a médica.
Áudio
Para o advogado Guilherme Frederico, que representa Gabriela, a mensagem de áudio será uma peça fundamental no processo, já que a médica admite que houve a perfuração. “Esse áudio deixa bem claro que houve uma perfuração. Os complicadores que a Gabriela vem passando são em decorrência dessa perfuração. As palavras são bem claras. Ela não fala que é um erro, mas sim um acidente. A questão é saber se ele poderia ter sido evitado. O que poderia ter sido feito para a Gabriela não passar por esse transtorno todo e chegar à situação crítica em que ela se encontra?”, provoca o advogado, que irá juntar a mensagem de áudio ao inquérito.
Já o advogado Lymark Kamaroff, que defende Geysa, afirma que não houve erro médico e ressalta que não houve assunção de culpa por parte de sua cliente. “O que ela relatou é que houve uma intercorrência técnica, o que nós chamamos de acidente cirúrgico. Não há assunção de culpa no caso de uma intercorrência técnica. Existia uma anomalia anatômica no local, que é a hérnia. Não era prevista ela estar ali”, diz o advogado, acrescentando que a médica não se omitiu: “Ela deu todos os cuidados depois, deu toda a assistência.”
Gabriela segue internada em estado estável na enfermaria da unidade. Como não pode se deslocar até à 77ª DP (Icaraí), onde o caso é investigado, uma equipe da delegacia vai ouvir a jovem no próprio hospital. O depoimento será prestado na segunda-feira.
A jovem realizou o procedimento estético na clínica de Geysa, no último dia 10 de julho, e pagou R$ 4,2 mil à médica. O estabelecimento é o mesmo por onde passou a professora Adriana Ferreira, de 41 anos, que morreu na última segunda-feira, uma semana depois de fazer uma lipoescultura com Geysa.
Assim que chegou em casa, Gabriela começou a sentir muitas dores pelo corpo. No dia seguinte, uma secreção passou a sair da barriga dela. Assustada, a jovem mandou mensagens para para médica em que relatava que havia tomado uma sopa e que tinha a impressão de que o alimento estava saindo pelo ponto por onde havia sido feito o procedimento. Antes de ser internada, a jovem chegou a voltar ao consultório da médica, que receitou muitos antibióticos e anti-inflamatórios, o que gerou uma despesa de mais de R$ 700 para a paciente e mesmo assim não adiantou em nada.
O Sul
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