Menino de 13 anos quebrou o braço depois de cair de bicicleta. Com a greve dos ortopedistas, o menino teve o atendimento finalizado ontem.
Ortopedistas suspenderam atendimento no Himaba (Foto: Samy Ferreira/ TV Gazeta) |
Uma mãe denunciou o suposto descaso no atendimento do Hospital Infantil de Vila Velha (Himaba) ao Ministério Público do Espírito Santo. Ela e o filho de 13 anos, que está com o braço quebrado, saíram de Alfredo Chaves para uma revisão médica e cirurgia, mas foram surpreendidos pela paralisação dos ortopedistas, na terça-feira (31).
O garoto quebrou o braço em 17 de julho, ao cair de bicicleta. A mãe Marcela Mendes, de 36 anos, e o filho Lucas estiveram no Himaba na segunda-feira (30) para fazer uma revisão. Após o atendimento, foi apontado pelo médico a necessidade de uma cirurgia.
O menino então foi internado na terça-feira (31), ficou em jejum e passou por uma manobra de recolocação do osso. Depois disso, eles foram surpreendidos pela paralisação dos médicos ortopedistas, que alegaram estar há dois meses sem salário, e a cirurgia não aconteceu. O paciente também não foi transferido para outra unidade.
Preocupada com a situação do filho e sem a estimativa da volta dos profissionais, Marcela conta que saiu do Himaba com o garoto para buscar atendimento em outros hospitais da Grande Vitória e fazer a denúncia no MPES. Por isso, o hospital alega que ela colocou em risco a recuperação da criança.
“A greve terminou na quarta. Eles deram a minha saída como evasão e disseram que se o braço dele ficar torto a responsabilidade era minha. Mas meu filho estava com o braço mexido e eles não encaminharam para outro hospital", disse.
De acordo com Marcela, outras mães também deixaram o hospital por falta de atendimento e, durante a paralisação, não havia quantitativo mínimo de profissionais trabalhando.
O menino foi atendido nesta quarta-feira (1) e, após um raio-x, a cirurgia foi descartada. Uma nova consulta de revisão foi marcada para a próxima terça-feira (7).
A mãe reclama do atendimento no hospital e disse que o médico que indicou quebrar o braço do menino para recolocá-lo no lugar atendeu aos gritos, fazendo com que o filho sentisse medo dele. De acordo com Marcela, o atendimento foi denunciado no próprio hospital e também no Ministério Público.
Atraso nas refeições
A mãe ainda declarou que também denunciou no Ministério Público o atraso nas refeições dos pacientes. “Eles estão dando as refeições às 14h. Os funcionários dizem que estão faltando pessoas para fazer a comida”, contou.
O diretor de comunicação do Sindicato dos Trabalhadores da Saúde (Sindsaúde-ES), Valdecir Nascimento, disse que a situação é crônica desde que o Instituto de Gestão e Humanização (IGH) assumiu a gestão do Himaba, em dezembro de 2017. Trata-se de uma Organização Social (OS) privada sem fins lucrativos, que presta serviços terceirizados ao governo do estado.
“Além das refeições serem servidas com atraso, a empresa também cortou alimentos como iogurte, achocolatado e água de coco”, informou o diretor.
Superlotação
Marcela relatou que na recepção do setor de observação, crianças estavam sendo atendidas em 14 macas. Também foi relatado o atendimento no corredor e em cadeiras plásticas.
Pela demora na realização de exames, as mães contaram que algumas crianças ficaram até 17 horas em jejum para fazer ultrassonografia. Duas delas vomitaram por estarem sem comer.
O sindicato confirmou a situação de atendimento no corredor e disse que as crianças são atendidas até perto da porta do refeitório. “Não é só uma avaliação do sindicato que o atendimento piorou, é uma barbaridade o que está acontecendo lá dentro”, disse Valdecir.
Outro lado
A diretora técnica do Himaba, Patricia Helena Simões, disse que nenhuma criança ficou desassistida com a paralisação e as demandas graves foram encaminhadas para outras unidades hospitalares.
“A mãe deixou o hospital com o filho sem alta médica e sem ter garantia de atendimento em outro local. Com isso, ela pode ter prejudicado o tratamento da criança. Caso a paralisação continuasse por mais algum tempo, o hospital teria que contratar profissionais para resolver o problema. Como não foi o caso, a responsabilidade é dela e não tem justificativa para ter feito isso. Quando ela decidiu sair, perdeu o direito”.
Sobre o atraso do salário dos ortopedistas, o que motivou a greve, a diretora informou que o pagamento ainda não foi feito, mas que está agendado para até o dia 10 deste mês. A administração confirmou que durante a greve, o setor ficou totalmente sem atendimento.
Sobre a reclamação da mãe quanto à alimentação, a diretora disse que está normal e que as crianças recebem no período correto. “Esses atrasos não acontecem. Temos horários regulares de alimentação quando os pacientes estão internados e que variam conforme a idade”.
Sobre as crianças que ficaram 17 horas em jejum, Patrícia negou. Ela disse também que a administração não tem registro de superlotação no local porque, segundo ela, os leitos de internação foram aumentados e de observação foram criados.
Sobre o atendimento no corredor, ela confirmou que acontece, mas que não são crianças que estão internadas.
MPES
Em nota, o Ministério Público Estadual (MPES), por meio da Promotoria de Justiça Cível de Vila Velha, informou que já recebeu diversas denúncias envolvendo o Hospital Estadual Infantil e Maternidade Alzir Bernardino Alves (Himaba).
O MPES disse que já requisitou informações ao hospital, Secretaria de Estado de Saúde (Sesa), e tem tomado o depoimento de pessoas envolvidas. Informou também que as denúncias feitas por Marcela serão encaminhadas ao promotor responsável.
O órgão ainda declarou que já tomou medidas relacionadas ao hospital como vistorias regulares e ajuizou Ação Civil Pública (ACP) para que as irregularidades sejam sanadas após vistorias da Vigilância Sanitária, Conselho Regional de Medicina, Conselho Regional de Farmácia, Conselho Regional de Enfermagem, Corpo de Bombeiros Militar e Centro de Apoio Operacional de Implementação das Políticas de Saúde (Caps) do MPES.
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