domingo, 5 de julho de 2020

Famílias temem que pacientes com covid-19 morram após serem transferidos para outros hospitais

Uma portaria do Governo do Estado permite que pacientes que apresentem significativa melhora, podem ser transferidos para outras unidades, sem a autorização prévia de parentes


Famílias temem que pacientes com covid-19 morram após serem transferidos para outros hospitais. Foto: Divulgação




A angústia em ter algum parente internado numa Unidade de Terapia Intensiva (UTI) com covid-19, a esperança pela recuperação, o medo da possível transferência do paciente para outro hospital e, no pior dos casos, o medo em perder um ente querido, tem mexido com os sentimentos de inúmeras famílias em todo mundo. 

No Espírito Santo, a situação não é diferente. Após saber que o pai seria levado de um hospital da Serra para outro, em Vila Velha, um jovem tomou a atitude extrema de furar o pneu de uma ambulância, na tentativa de impedir a transferência do idoso para outra unidade.

O caso aconteceu na última terça-feira (16). A polícia foi acionada e, para não ser preso, Lucas Salles teve que pagar por outro pneu. O pai dele acabou sendo levado para outro hospital, mas mesmo tendo gasto quase R$ 1.000,00, o rapaz disse que não se arrepende do que fez na hora do desespero.

"Eu paguei o pneu novo lá na hora, mas a minha tentativa foi desespera para salvar a vida do meu pai. Eu faria tudo de novo", disse Lucas.

Outra família conta que um idoso morreu um dia depois de sair do Hospital Jayme dos Santos Neves e ser levado para uma unidade de Vila Velha. Creonir Nascimento, de 64 anos, procurou atendimento logo nos primeiros sintomas, mas a princípio, foi diagnosticado com chikungunya. Dias depois o quadro de saúde dele piorou.

Segundo Adriana Nascimento, filha do aposentado, ele foi levado às pressas para o hospital Jayme, na Serra, referência no tratamento a covid-19. Ele foi internado e chegou a apresentar melhoras, foi quando os médicos optaram pela transferência do paciente para um Hospital de Vila Velha.

"Eles ligaram para a gente avisando que ele iria ser transferido, mas não nos deram motivo, nem explicação", disse Adriana. Um dia depois, Creonir acabou não resistindo aos efeitos da doença e morreu.

Segundo as famílias, eles não assinaram nenhum papel autorizando as transferências. Isso aconteceu, pois desde o início da pandemia, uma portaria do governo do Estado, por meio da Secretaria de Saúde, permite a ida de um hospital para outro sem a autorização prévia de algum parente.

"Quando já temos um paciente que já está evoluindo para cura, ou que tem um quadro clínico mais simples, e está ocupando leito num hospital de referência, que pode receber pacientes graves, que serão beneficiados com aquele leito, nós estabelecemos a possibilidade de uma norma no Estado do Espírito Santo de fazer uma remoção destes pacientes, garantindo a eles a assistência que eles precisam em outras unidades hospitalares da Grande Vitória ou do interior", disse Nésio Fernandes.

Por nota, a Secretaria de Saúde (Sesa), informou que uma das exigências para a transferência entre unidades hospitalares é a estabilidade do quadro clínico dos pacientes, "o qual era a situação que o senhor Crenoir apresentava naquele momento, tendo condições de transferência para continuar o tratamento em leito de retaguarda".

A secretaria lamentou o falecimento do paciente, e disse que ele recebeu toda a assistência necessária dentro dos protocolos de atendimento a casos suspeitos ou confirmados da Covid-19.
Ainda sobre os critérios adotados pelo Estado, a Sesa diz que "as transferências são necessárias, quando o paciente está estável, para liberar o leito para internação de pacientes graves, já que o Hospital Jayme é a maior unidade pública do Estado para atendimento a pacientes graves/potencialmente graves de casos suspeitos ou confirmados do novo coronavírus".

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