quarta-feira, 4 de julho de 2018

Cremerj abre procedimento e investiga morte de dois bebês em hospital de Petrópolis, no RJ

Mães afirmam que houve negligência médica. Casos aconteceram com intervalo de nove dias.


Maria Caroline estava com 40 semanas de gestação (Foto: Arquivo Pessoal/ Maria Caroline)

O Conselho Regional de Medicina (Cremerj) informou nesta terça-feira (3) que abriu um procedimento para investigar a morte de dois bebês no Hospital Alcides Carneiro (HAC), em Petrópolis, na Região Serrana, em um intervalo de nove dias.


Os dois casos foram registrados na 105ª Delegacia de Polícia e as mães afirmam que houve negligência dos médicos da unidade.

O primeiro caso aconteceu no dia 21 deste mês. A mãe disse ao G1 que esperou mais de 50 horas pelo parto e contou que deu entrada na unidade para fazer uma cesárea e se surpreendeu com a decisão da médica de induzir o parto normal. A polícia pediu a exumação do bebê. De acordo com o Cremerj, a investigação dos casos feita pelo conselho ocorre em sigilo de acordo com o Código de Processo Ético Profissional.

Já o segundo aconteceu com a Maria Caroline Leandro Pereira, de 21 anos. Ela contou à Inter TV que após ter ido duas vezes com dores para o hospital na semana passada foi orientada pelos médicos de plantão a voltar para casa.

No sábado (30), deu entrada na unidade e, segundo ela, foi feita uma cesárea às pressas porque os batimentos do bebê estavam fracos. A filha, Catharina, não resistiu. Segundo o atestado de óbito, ela morreu com falta de oxigenação no cérebro.

Um dia antes do parto, ela contou que esteve no hospital e os médicos a liberaram.

"Eles falavam para eu vir embora, para dançar, varrer, passar pano, namorar. Falou um monte de coisa para eu fazer sendo que eu já estava de 40 semanas".

Maria Caroline disse que toda a gestação foi acompanhada por uma equipe médica do HAC e que foi uma gravidez tranquila e sem risco.

"O quartinho dela tava pronto, sabe? É uma coisa que eu nunca mais vou esquecer porque era minha, só minha. E para tirar assim do nada, sem nenhuma resposta...", afirma Maria Caroline.

O marido, Douglas Cunha, que acompanhou tudo, também lamenta o que aconteceu.

"Entrar para a sala contando que vai sair com a filha nos braços e não poder, né? É muito difícil", disse.

De acordo com informações da assessoria de comunicação da prefeitura, a direção do HAC afirma que em ambos os atendimentos feitos à Maria Caroline não foi constatado o rompimento de bolsa amniótica e os exames não apresentaram alterações que justificassem a permanência na internação ou necessidade de parto.

"Nas duas ocasiões, ela foi avaliada e liberada. A direção do HAC reforça que o caso já foi encaminhado para a direção técnica da unidade para que seja feita uma apuração rigorosa por meio de sindicância - medida adotada em todos os casos em que é constatado óbito de bebê. Se constatada negligência médica, o responsável será punido pela unidade e pelos órgãos competentes", disse a nota enviada pela prefeitura.

Recomendações


A Defensoria Pública do Estado disse, depois de uma reunião com o Ministério Público na manhã desta terça-feira (3), que vai fazer duas recomendações para a Prefeitura de Petrópolis.

A primeira, de acordo com a defensora Andréa Carius, determina que o município tem cinco dias, contados a partir desta quarta-feira (4), para contratar emergencialmente leitos obstétricos em hosptiais particulares. E a outra recomendação é para que nenhuma gestante que esteja no fim da gravidez seja liberada do hospital antes de ser examinada por um médico obstetra.

A Defensoria afirma ainda que qualquer paciente deverá ser submetida a exames físicos e de imagens, já que considera que a dilatação ou falta dela não é o único fator para a realização do parto. Diz também que a gestante não poderá ser liberada sem um laudo médico contendo todas as informações sobre o atendimento e recomendações feitas à paciente.

Posicionamento do município


Com relação aos casos de óbitos dos dois bebês, a Secretaria de Saúde diz que não estão relacionados à lotação da maternidade e afirma que nos dois partos a maternidade não registrava sobrecarga e que os óbitos estão sendo investigados por comissões sindicantes, praxe nestes casos.

A Secretaria de Saúde do município vai acatar a determinação da defensoria pública. Em nota, o órgão disse que após reunião realizada na terça-feira (3) decidiu pela contratação de leitos em hospitais particulares em caso de utilização de todos os leitos da maternidade do Hospital Alcides Carneiro (HAC), única da rede pública em Petrópolis.

Disse também que todos os atendimentos são acompanhados por obstetras e são realizados exames de imagens, protocolos já executados pelo HAC. O hospital afirma que passará a fornecer à gestante laudo por escrito da conduta a ser seguida.







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