De acordo com a gestante, foi preciso peregrinar por unidades de saúde. Familiares já prestaram queixa e um inquérito deve ser aberto para saber a causa exata da morte.
Um bebê morreu na barriga da mãe, aos nove meses de gestação, no município de Barra de Santo Antônio, no Litoral Norte alagoano, e a família denuncia que o ocorrido se deu por negligência médica.
Ana Maria dos Santos já prestou queixa com a família na Central de Flagrantes I, em Maceió, e em seguida registrou o Boletim de Ocorrência na delegacia da Barra de Santo Antônio.
Sobre o caso, a polícia confirmou o registro da ocorrência e informou que o inquérito será aberto.
De acordo com Ana, que se preparava para dar à luz ao terceiro filho, tudo correu bem no pré-natal. Entretanto, no dia 25 de junho, ela começou a sentir dores e procurou a unidade de saúde São Sebastião, naquele município, onde recebeu um remédio para a dor e foi para casa.
No outro dia, ao perceber que o bebê não se mexia mais, Ana Maria procurou atendimento em um outro posto de saúde.
“Na terça-feira, eu já não sentia mais meu filho mexer. Não sentia as dores mais. Na quarta, procurei o posto e me encaminharam para a emergência novamente na unidade São Sebastião. O médico colocou o aparelho para escutar o coração, mas nada foi ouvido. Em seguida, fui encaminhada para Maceió”, relatou.
Já na Maternidade Nossa Senhora de Fátima, Ana Maria teve a confirmação de que o bebê estava morto, mas foi liberada sem que a criança fosse retirada.
Logo depois, ela decidiu por conta própria ir até a Maternidade Santa Mônica, mas foi informada que só poderia ser atendida com encaminhamento do Complexo Regulador da Assistência (Cora). Foi quando ela voltou para a Barra de Santo Antônio, ainda com o bebê na barriga.
“Quando foi na quinta, as dores voltaram e aumentaram. Voltei para a emergência do hospital São Sebastião. Chegando lá, outro médico tentou ouvir os batimentos e nada aconteceu. Foi quando ele fez um encaminhamento para a Nossa Senhora de Fátima, e eu expliquei já tinha ido. Mas ele disse que era necessário um ultrassom”, explicou.
A dona de casa contou que voltou à maternidade para fazer o ultrassom, e que no local foi constado que a criança estava morta. Em seguida, ela foi internada e a cirurgia foi realizada.
Após enfrentar o pior pesadelo de toda gestante, a dona de casa contou ainda que teve que fazer uma peregrinação para que o corpo da criança fosse examinado.
"Fiquei aguardando a liberação, para fazer o exame e saber a causa da morte do meu filho. O Serviço de Verificação de Óbito (SVO) disse que o exame seria feito, mas depois me disseram para não ir buscar o corpo porque o carro estava quebrado há dias, e que nós deveríamos levar o corpo. Não somos médicos, é dever deles", desabafou.
Para conhecer o motivo da demora no atendimento, a equipe de reportagem da TV Gazeta esteve na unidade de saúde São Sebastião. O médico que atendeu a dona de casa não quis gravar entrevista, mas disse que a gestante chegou com dores abdominais e recebeu uma medicação para dor.
Ele relatou ainda que não havia sinais de trabalho de parto ou sangramento, e por isso, depois do exame do toque, ela foi liberada. O profissional afirmou que nada do que foi feito no posto São Sebastião poderia comprometer a vida do bebê.
Nova denúncia
Em Alagoas, essa é a segunda denúncia de negligência com relação a bebês registrada nos últimos quinze dias. Entre os casos que a polícia investiga, está um em Teotônio Vilela, onde a mãe teria passado por quatro hospitais até descobrir que o feto estava morto.
Uma das unidades envolvidas é a Maternidade Nossa Senhora de Fátima, a mesma onde Ana Maria foi atendida e fez a cirurgia para a retirada do feto.
Nesta terça-feira (3), a dona de casa procurou o Ministério Público de Alagoas (MP-AL), que deve enviar um ofício para a Secretaria de Saúde da Barra de Santo Antônio pedindo informações sobre o caso, para depois disso, decidir o que vai ser feito.
Liberação do corpo
Sobre o denunciado pela família, o Instituto Médico Legal (IML) informou por meio de nota que não há previsão para que o corpo do bebê seja liberado. Isso acontece porque o SVO já emitiu uma declaração da morte da criança, o que impossibilitaria o IML de fazer o exame no corpo e emitir um laudo. O instituto esclareceu ainda que está em contato com a diretoria do SVO para tentar resolver a situação.
Também sobre o caso, o SVO justificou que o veículo da unidade está em manutenção, e por isso pediu para que a família levasse o corpo do bebê para o IML.
Já em relação ao pedido, a direção do SVO informou que, se a paciente estiver com o carro da funerária, a orientação a ser seguida é essa, e que quando a família não tem plano funerário ou veículo para levar, que o transporte seja feito pelo IML, como acabou sendo mostrado na reportagem.
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