terça-feira, 3 de julho de 2018

Polícia apura suposto erro médico em morte de mulher no Hospital Ouro Verde, em Campinas

Causa seria uma sobredosagem de morfina na anestesia para uma cirurgia na vesícula; Ministério Público já pediu estudo de 'mortes evitáveis' na instituição.
Polícia investiga possível caso de erro médico em paciente do Hospital Ouro Verde
A Polícia Civil investiga um suposto erro médico no Hospital Ouro Verde, em Campinas (SP), após uma mulher morrer depois de uma cirurgia na vesícula. De acordo um laudo apresentado à família, o problema pode ter sido o excesso de morfina na anestesia para a realização do procedimento. O hospital informou que também vai apurar o caso e, com base no laudo, tomar as medidas "administrativas, éticas e legais" cabíveis.

Rosa D’Arc Leal Bernardes, de 63 anos, foi internada na segunda-feira passada (25) no hospital e morreu no sábado (30). Segundo a família, quando a paciente chegou ao hospital, ela estava bem. Os médicos disseram para os acompanhantes que a cirurgia de retirada das pedras na vesícula ocorreu normalmente e que a complicação teria começado na recuperação da anestesia.

“Do coma induzido, ela teve uma parada cardiorrespiratória, o coração parou por 10 minutos. Isso são os relatos que o médico passou pra gente. E ela teve uma parada, o coração parou. E eles conseguiram reanimar ela, o coração voltou a bater, porém o cérebro já tinha dado falta de oxigênio”, conta Adriano Bernardes, filho de Rosa.

Mulher morreu no Hospital Ouro Verde após cirurgia na vesícula (Foto: Reprodução/EPTV)
O laudo médico fornecido pelo próprio Hospital Ouro Verde diz que a paciente teve uma sobredosagem de morfina. O relatório descreve ainda que além da anestesia geral, foi realizada a raquianestesia, que é voltada para a parte inferior do corpo. O documento aponta ainda como causa provável da morte uma intoxicação.
“Ele [médico] falou para mim que foi o equivalente a 50 vezes mais a dosagem normal para uma cirurgia daquelas”, afirma um sobrinho da vítima, Flávio Bernardes.

Laudo apontou "intoxicação" como possível causa da morte (Foto: Reprodução/EPTV)
Um boletim de ocorrência foi registrado para instaurar o processo investigativo de um possível erro médico. No velório, a família ainda buscava forças pra absorver a noticia da morte.

“Porque não é possível uma senhora de 63 anos passar por tudo que ela passou. Estava saudável, o único problema dela era esse sintomas que ela sentia, que era [de] pedra na vesícula”, diz Adriano.

             “Podia [ser evitado]. Eu acredito que sim. Sinceramente acredito muito que essa morte poderia ter sido evitada. Eu espero justiça, porque interromperam a vida dela. Interromperam”, lamenta o marido da vítima, Francisco Ribeiro Bernardes.

De acordo com a Secretaria de Segurança Pública de São Paulo, o caso foi encaminhado ao 9º Distrito Policial (DP), que investiga o caso. Segundo a pasta, funcionários do Hospital Ouro Verde foram ouvidos e o delegado aguardo o laudo da perícia.

Polícia investiga suposto erro médico no Hospital Ouro Verde (Foto: Carlos Bassan / PMC)
MP pediu investigação de "mortes evitáveis"

No início de abril deste ano, o Ministério Público pediu ao Conselho Regional de Medicina (Cremesp) um estudo de "mortes evitáveis" Hospital Ouro Verde. O pedido engloba o período desde o período em que a gestão era feita pela Associação Paulista para o Desenvolvimento da Medicina (SPDM), entre 2008 e 2016. O Cremesp atendeu ao pedido e prepara laudos sobre os casos.

A solicitação refere-se aos óbitos de pacientes que seriam decorrentes da ausência de estrutura adequada, incluindo pessoal e material. Ela foi feita após vir à tona apuração do Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado (Gaeco) sobre suposto desvio de R$ 4,5 milhões por grupo ligado à Organização Social Vitale - à frente do Ouro Verde entre maio de 2016 e novembro de 2017. Dez pessoas foram denunciadas e presas durante as investigações.

Além disso, um relatório da autarquia enviado para promotora de Justiça Cristiane Hillal indica que, mesmo após intervenção da Prefeitura, há sobrecarga de trabalho e falta de itens na unidade. Em maio deste ano, médicos e enfermeiros do Ouro Verde aceitaram proposta do Ministério Público do Trabalho para acerto de rescisões. A gestão é feita pelo município desde dezembro de 2017.

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