Policiais civis denunciam a crítica situação do serviço oferecido pelo Instituto; entre os problemas estão erros de diagnóstico, dificuldade em agendar consultas e a falta de estrutura e médicos
Com um atendimento hospitalar cada vez mais deficitário, os servidores públicos de São Paulo enfrentam uma situação de alerta com relação ao serviço prestado pelo IAMSPE (Instituto de Assistência Médica ao Servidor Público Estadual), responsável pelo atendimento de mais de 3 milhões de usuários, entre servidores e dependentes.
O sinal de alerta partiu, inicialmente, de uma das reuniões de interiorização do SIPESP, quando a diretoria recebeu uma denúncia ligada ao precário atendimento oferecido pelo IAMSPE por investigadores da região de Guaratinguetá. As denúncias, que foram corroboradas por policiais da Capital, reacende o debate sobre a contribuição do Governo para manutenção do Instituto.
Vinculado ao Governo do Estado e subordinado à Secretaria da Saúde, o órgão foi criado em 9 de julho de 1961 para atender o funcionalismo público estadual, que sofre o desconto de 2% em holerite para ter acesso ao serviço, disponível em 173 municípios paulistas.
O apogeu do IAMSPE aconteceu entre 1961 e 1982 e, em 2013, se tornou referência da América Latina com o primeiro “Hospital Amigo do Idoso”, já que o Instituto atende, em média, 10% da população com 60 anos ou mais de todo o Estado de São Paulo.
No entanto, com as mudanças e as crises econômicas, o Instituto começou a enfrentar um sucateamento que só tem se agravado, ano após ano. E, infelizmente, os servidores são as pessoas que, apesar de custear para obter um atendimento digno, são prejudicadas por um sistema de saúde falho e negligente.
Vítimas do descaso
Apesar de ser responsável pela saúde de mais de 3 milhões de usuários por todo o Estado, o Instituto tem uma vasta lista de reclamações no Reclame Aqui – site que recebe reclamações de usuários sobre atendimento, compra, venda, produtos e serviços.
Com mais de 529 reclamações não atendidas – só nos últimos seis meses foram 129 reclamações – e apenas 22 resoluções relatadas a avaliação média dos usuários é de 2,9/10 por conta dos recorrentes problemas com o atendimento lidera a lista de reclamações, seguida por dificuldade no agendamento de consultas, condições precárias de assistência, entre outras.
O diretor sindical e investigador de polícia Joraci de Campos, que utiliza a assistência de saúde do IAMSPE há mais de 10 anos, foi uma das vítimas do descaso. Em outubro de 2018, com fortes dores, o investigador se dirigiu ao Pronto Socorro da unidade Ibirapuera. “Dei entrada, passei com um clínico geral, fui encaminhado para a cirurgia geral e, após exames, avisaram meu filho sobre minha internação”, contou. “E aí fui internado no PS. Não tinha maca, apenas cadeiras de encosto. Meu filho, que estava me acompanhando também não tinha lugar. Foi assim por três dias, quando finalmente chegou uma maca. Aquilo está pior que hospital público”, afirmou Campos. “Tem muito médico residente lá. Nós não somos cobaia”.
Campos pediu ao filho que ligasse para o SIPESP e falasse com o presidente Rebouças para que entrasse em contato com a direção do hospital e tentasse resolver a situação. “Graças à intervenção do Sindicato, por meio de um ofício prontamente encaminhado pelo departamento jurídico, que eu consegui ser encaminhado para o quarto”, disse.
Para Emerson de Oliveira Bispo, escrivão do 8º DP – Brás, que utiliza o serviço do IAMSPE desde 2002, marcar uma consulta é outra barreira que os servidores enfrentam com frequência. “Ginecologia, oftalmologia, e outras especialidades, normalmente é rede credenciada, porque nunca tem vaga”, aponta.
A funcionária da secretaria da educação e esposa de Emerson, Edilene, que também utiliza o plano com o IAMSPE e a rede conveniada prevista no plano, contou um caso ocorrido com uma amiga na unidade Ibirapuera. “Ela teve uma hemorragia, foi até o IAMSPE e lá começaram a tratá-la como se fosse mioma. E não era mioma. O marido levou ela até à Unimed, onde eles têm convênio, e descobriram que, na verdade, ela estava com um câncer. O PS do IAMSPE fez de conta que não estava acontecendo nada com ela”, contou.
De acordo com a funcionária pública, eles não avaliaram a paciente corretamente. “Fizeram apenas o paliativo. O câncer era agressivo, por pouco ela não foi embora”, lamentou.
Alcance limitado
Outra reclamação muito recorrente entre os policiais é que o IAMSPE não atende filhos com mais de 21 anos. “A gente paga pelo serviço. Deveriam estender o atendimento aos nossos filhos”, apontou o policial que preferiu o anonimato. “E se formos pagar um outro convênio, o preço é exorbitante”.
Hoje, apenas filhos maiores de 21 anos incapacitados, desde que atendidos os requisitos e apresentados os documentos exigidos pelo Iamspe são atendidos. No caso dos filhos estudantes solteiros com idades de 21 anos até 25 anos, o benefício somente será garantido mediante apresentação da declaração de estabelecimento de ensino médio ou superior informando em qual curso e período o dependente está regularmente matriculado.
Já para Bispo é necessário expandir a capacidade de atendimento, que para ele, é limitada. “Contratar mais médicos e descentralizar, fazer convênio com alguma operadora do mercado para essas questões mais graves e ir avaliando situações para indicar cirurgias com o convênio depois cobrasse o estado. Minha esposa está numa hipotética fila, e alegam que, assim que reativarem o serviço de cirurgia vascular, ela será chamada”, disse.
A esposa de Bispo teve que passar por uma consulta para cirurgia vascular na rede conveniada porque no IAMSPE não tinha vaga. Agora ela aguarda pela autorização para sua cirurgia. “É uma situação de necessidade e o tempo de espera [para a cirurgia] é de 5 anos. Para quê tem rede conveniada?”, afirma a servidora.
Patrimônio do servidor
“O hospital é patrimônio do funcionário público; somos descontados mensalmente para ter acesso à assistência médica que está um verdadeiro caos”, aponta Campos.
Atualmente, segundo a Comissão Consultiva Mista (CCM) do IAMSPE, 99% da verba da instituição vem do funcionalismo. O ideal para que houvesse a manutenção adequada, seria necessário que o Governo contribuísse com mais 2%, o equivalente a R$ 360 milhões por ano para garantir o atendimento aos servidores.
Até o fechamento da matéria, o Instituto não respondeu aos questionamentos do SIPESP sobre os problemas citados na reportagem. O Sindicato preparou um ofício que será encaminhado ao IAMSPE para esclarecer a situação.
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