sexta-feira, 25 de janeiro de 2019

Hospital da Mulher fica na berlinda após mais duas mortes em Cabo Frio

Dois bebês nasceram mortos na quinta e famílias acusam hospital de negligência



A morte de dois bebês na última quinta-feira no Hospital da Mulher fez a unidade de saúde voltar a receber fortes críticas nesta semana em Cabo Frio. A reportagem da Folha conversou com uma das famílias ontem. Segundo Gilmara Rocha, que deu à luz o filho Thiago já morto, a família suspeita de demora e negligência por parte da equipe médica. Eles dizem não acreditar na versão dada pelo hospital e também reclamam de não terem tido acesso ao prontuário médico. 

Por meio de nota, a direção do Hospital da Mulher disse que "os recentes óbitos de nascituros entre o dia 1o de janeiro de 2019 até a presente data ocorreram por diversos fatores: ausência de pré-natal, doenças sexualmente transmissíveis contraídas pelas genitoras e o consumo de substâncias entorpecentes". Veja a nota do hospital na íntegra no fim da reportagem. 

Gilmara conta que chegou no Hospital da Mulher na última terça-feira, com 34 semanas de gravidez, sentindo fortes dores. Ela estranhou o fato de não ter sido feito pedido para exame de ultrassom. Na quinta foi constatado que o bebê estava morto. Mesmo assim, teve que fazer parto normal para diminuir os riscos de uma cesárea com o bebê já sem vida.

- Cheguei na terça-feira com muitas dores. mas não fizeram pedido de ultrassom para ver o que era. Só me deram medicação, colocaram no soro. Quando chegou no outro dia tiraram a medicação e o soro. Eu já não estava sentindo a criança se mexer, mas a médica escutou o coração e disse que estava tudo bem, e novamente não fizeram nenhum exame. A gente pediu pra eles fazerem a cesárea, mas não quiseram. Quando chegou na quinta-feira eles foram escutar o coração e viram que não estava batendo. Só aí, depois de ver que o coração não estava batendo, que pediram o ultrassom - relatou Gilmara. 

Ainda de acordo com ela, que falou com a reportagem da Folha após receber alta médica na manhã de ontem, ao lado do marido, Anderson, e de outros membros da família, um médico, ao anunciar a morte do bebê, disse que o motivo teria sido uma má formação.

- Não acreditamos nisso porque fizemos o pré-natal normalmente e não tinha nada disso. Foram três exames de ultrassom durante a gravidez e nenhum apontou má formação do feto. Então a gente não acredita nisso - afirmou Gilmara, dizendo ainda que a direção da unidade decidiu liberar o prontuário médico, que é um direito da família, somente após 30 dias.

Em busca de apurar informações sobre o assunto, membros do Partido Socialismo e Liberdade (PSOL) estiveram ontem na unidade para conversar com a família. Eles prometem levar a situação para a Alerj, no Rio, e para a Câmara dos Deputados, em Brasília. Segundo a assessora parlamentar Carolina Werkhaizer, que atua no gabinete do deputado federal Marcelo Freixo e é coordenadora do Setorial de Mulheres do PSOL em Cabo Frio, a situação do hospital vem se agravando com o aumento de relatos de mortes. De acordo com ela, o partido cogita pedir a abertura de uma Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) na Assembléia Legislativa do Estado do Rio de Janeiro (Alerj), através do mandato da deputada estadual Renata Souza.

- A gente já tem um histórico na Comissão de Direitos Humanos da Alerj, que a gente ouve relatos da população a cerca de violações de direitos, e agora a gente está tentando criar um canal para que as mulheres possam denunciar o que está acontecendo aqui. Porque chegaram denuncias pra gente de que algumas mulheres são colocadas para andar pelo hospital para acelerar o trabalho de parto, o que é uma violação grave. Faltam insumos, faltam médicos. É uma situação que está se agravando porque a quantidade de óbitos tem sido frequente. Em um dia dois bebes vieram a óbito. E o hospital não tem sequer uma ouvidoria em que a mulher possa fazer a denuncia. Então vamos propor a instalação de uma ouvidoria e também cogitamos propor uma CPI na Alerj. Mas a urgência maior no momento é a criação da ouvidoria, para que os fatos possam ser relatados formalmente e averiguados - disse ela.

A reportagem da Folha tentou falar com a direção do Hospital da Mulher ou com o secretário de Saúde de Cabo Frio, Márcio Mureb, sem sucesso. Um pedido de nota foi feito pontuando todas as reclamações apresentadas. Os pontos denunciados não foram respondidos, mas o Hospital da Mulher enviou a nota a seguir.
"A Diretoria Administrativa do Hospital Municipal da Mulher informa e esclarece que os recentes óbitos de nascituros entre 1º de Janeiro de 2019 até a presente data, ocorreram por diversos fatores: ausência de pré-natal, doenças sexualmente transmissíveis contraídas pelas genitoras e a o consumo de substâncias entorpecentes.
Diante do lamentável quadro, o Secretário Municipal de Saúde, Dr. Márcio Mureb e o Prefeito Adriano Moreno já estão elaborando plano de ação contendo medidas preventivas que perpassam pelo incentivo ao acompanhamento adequado do pré-natal das gestantes, bem como a ampla conscientização da importância dos exames prévios e das vacinas.

Ressalte-se que os falecimentos foram devidamente notificados aos órgãos oficiais, a fim de ratificar a iniciativa de programas sociais de prevenção sobre as causas de mortalidade materno fetal. 
Importante frisar que nova gestão do Hospital da Mulher está totalmente comprometida com a melhoria dos serviços oe prestados à população e se coloca à disposição para maiores esclarecimentos", diz a nota enviada pela diretora administrativa do Hospital Municipal da Mulher, Lívia Natividade.


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