Funcionários dizem que situação na unidade federal de saúde é tão precária que material fora da validade é utilizado em cirurgias. Ministério da Saúde não respondeu a perguntas.
Direção do Hospital Federal de Bonsucesso é alvo de novas denúncias |
Funcionários do Hospital Federal de Bonsucesso fizeram novas denúncias, exibidas pelo RJ2 desta terça-feira (15), sobre a atual direção da unidade de saúde.
Além de falta de remédios, fechamento de enfermarias e nomeações por indicações políticas, servidores dizem que amigos da diretora "furam" a fila de espera no atendimento e cirurgias são feitas com material fora da validade.
Em nota enviada ao telejornal, o Ministério da Saúde informou que uma força-tarefa vai analisar a gestão nos hospitais federais. O RJ2 pediu uma resposta específica sobre o caso de Bonsucesso, mas a pasta federal não respondeu aos questionamentos.
Conforme previsto, na tarde desta terça funcionários do corpo clínico entregaram ao ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta, uma carta solicitando o afastamento da diretora da unidade. Os médicos afirmam que Luana Camargo é despreparada para gerir o hospital.
Também de acordo com os servidores, Luana chegou ao posto por influência do deputado federal Wilson Beserra, do MDB, que tem base eleitoral em Seropédica, na Baixada Fluminense.
O município é o mesmo onde Luana teve a única experiência no serviço público: na farmácia de um posto de saúde. Depois disso, ela assumiu a direção de um dos principais hospitais do país.
A estreita relação entre a diretora-geral da unidade e o deputado Beserra ficou evidente em publicações em redes sociais. Na sexta-feira passada, Luana marcou o parlamentar num post em que brindava com um espumante.
No dia da publicação, o RJ2 apurou que Beserra e Luana chegaram juntos ao restaurante por volta das 20h30 e ficaram sozinhos, numa mesa mais afastada, por cerca de três horas. Permaneceram lá até a chegada de outra funcionária do Bonsucesso, também amiga de Beserra.
Lista de apadrinhados
Funcionários do hospital dizem que a lista de apadrinhados de Beserra tem cerca de 30 nomes. Alguns deles, inclusive, apoiaram o deputado durante a campanha eleitoral.
São os casos, segundo o RJ2, de Geison Tavares e Jeanne Lopes, ambos técnicos de segurança do trabalho. E, ainda, Elizane Andrade, que é técnica de secretariado.
Na lista obtida pela equipe de reportagem constam quatro nomes de ex-assessores parlamentares do gabinete de Beserra. Carla Reis, por exemplo, é sobrinha da mulher do deputado e trabalha na comunicação da unidade.
Até parentes da diretora Luana conseguiram emprego no hospital. Um deles é o irmão dela Paulo Henrique Camargo da Silva. No ano passado, quando o RJ2 exibiu denúncia de nepotismo no hospital, a diretora chegou a negar que tivesse um irmão.
No entanto, documentos obtidos pela reportagem comprovam que Luana e Paulo têm os mesmos pais. Em outro caso, a tia de Luana, Silvana dos Santos, também foi contratada, como arquivista, em abril do ano passado. Isso ocorreu um ano depois da posse da diretora no cargo.
Luana primeiro assumiu o posto de diretora administrativa da unidade, em dezembro de 2017. Já em março do ano seguinte, foi promovida a diretora-geral.
Na época, uma das prioridades anunciadas pela direção era a reforma do terceiro andar do prédio onde fica o ambulatório. No entanto, até hoje o andar inteiro está fechado e precisando de obras.
Os problemas se estendem também à unidade coronariana. Funcionários afirmam que são seis leitos desativados por falta de pessoal. Já outros dizem que não há medicamentos suficientes e que material com validade vencida é usado em cirurgias.
"Os pacientes estão sendo operados com fio fora da validade. Tem dia que eu vou trabalhar, eu não tenho luva, eu não tenho gaze", denuncia um funcionário que não quis se identificar.
O funcionário afirma, ainda, que vários médicos já deixaram o hospital.
"A equipe do transplante, todos os anestesistas saíram. Então acabou sobrecarregando a equipe de anestesia nossa do centro cirúrgico do dia a dia, entendeu?"
Queixas chegam ao Ministério Público
Reclamações contra Luana Camargo já chegaram ao Ministério Público Federal. Em abril do ano passado, foi registrada uma denúncia de que a diretora estaria agindo para "furar" a fila de exames e consultas e beneficiar amigos.
"Venho por meio denunciar a ocorrência de crime de concussão praticado pela diretora-geral do Hospital Federal de Bonsucesso. Luana Camargo da Silva está solicitando sucessivos agendamentos de exames e consultas para indivíduos de seus interesses pessoais que não estão cadastrados na fila de espera", diz trecho da denúncia.
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