“Quebrar a mão”. A gíria é empregada de forma cotidiana nos bastidores da Unidade Pré-Hospitalar da Zona Norte e foi criado pelos próprios servidores da Saúde para designar a postura de médicos que atendem menos pacientes do que poderiam durante os plantões nas unidades.
Embora não concordem com a postura, que acaba gerando acúmulo de pacientes à espera de cuidados no saguão e rotineiros tumultos na unidade, os funcionários assumem não fazer denúncias por temerem represálias. A situação foi relatada pelos servidores ao vereador Péricles Régis (MDB) em ação de fiscalização realizada durante um plantão da madrugada nesta semana.
O vereador fez a ação após receber telefonemas de munícipes que reclamavam da demora por atendimento. No local, em conversa com os servidores, foi informado que alguns plantões reúnem médicos que fazem poucos atendimentos de forma proposital, o que gera acúmulo de fichas à espera de atendimento na portaria.
“Tive acesso às escalas de médicos e alguns deles foram citados de forma recorrente como sendo problemáticos no que diz respeito ao atendimento. Jornadas cumpridas de maneira incompleta e iniciadas com atraso e médicos que fazem revezamento de atendimento foram apontados”, afirma o parlamentar. “Segundo os funcionários, alguns médicos combinam de apenas um deles ficar atendendo, enquanto os demais ficam trancados nos consultórios da UPH fazendo coisas pessoais, dormindo ou mexendo no celular”, complementa.
Os relatos de tais práticas foram denunciados e confirmados por auxiliares de enfermagem, enfermeiros e até por um profissional da medicina, que revelou já ter formalizado queixa junto ao Conselho Regional de Medicina, sem ter obtido qualquer resultado. Péricles também teve acesso a relatórios de atendimento por profissional onde verificou que num mesmo plantão, enquanto um médico chegou a atender 40 pacientes, outro atendeu apenas uma ficha durante todo o seu plantão.
“Os servidores se indignam, porque a fúria da população recai sobre os funcionários que atuam na linha de frente do atendimento ao público. O medo de ser transferido, ou mesmo de ter horas extras cortadas, no entanto, foram citados pelos servidores como motivos de temor que desencoraja denúncias à Secretaria de Saúde”, denuncia o vereador.
Os médicos que fazem a chamada “quebrada de mão” acabam sendo indiretamente beneficiados por uma prática comum na UPH: no quadro com as escalas dos plantões que fica exposto na recepção, seus nomes são retirados pelos servidores, deixando-os “invisíveis” aos olhos da população.
“Eles ficam lá dentro, mas chamando pouquíssimos pacientes, então os servidores assumiram que acabam retirando seus nomes do quadro para que a população pense que há menos médicos trabalhando. Se a população ver que há mais médicos, porém que poucos pacientes são chamados, a chance de tumulto é maior”, relata o vereador.
Além das denúncias envolvendo médicos, o vereador encontrou problemas estruturais. Medicamentos que antes eram mantidos numa farmácia da unidade, hoje ficam no chão, sob o balcão da recepção. A porta da sala usada como necrotério não tem trinco e fica entreaberta em local com grande circulação de munícipes. E por fim, segundo as equipes de enfermagem, a UPH tem enfrentado problemas com baratas.
Péricles fará uma representação junto à Ouvidoria da Secretaria Municipal de Saúde para que as denúncias sejam apuradas, além de encaminhar um requerimento solicitando informações detalhadas sobre os atendimentos divididos por médicos e um levantamento de faltas.
O vereador encaminhará também uma cópia das denúncias à Corregedoria do município e ao Conselho Regional de Medicina.
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