Ao longo desta semana, a Secretaria
Estadual de Saúde, através do seu titular, o Sr. Fernando Máximo, tem
dado ênfase ao impacto que o desrespeito às medidas de isolamento social
causou no aumento do número de casos.
No
entanto, este inquestionável fato esconde outra importante constatação:
é possível que o HEPSJPII tenha se tornado o principal local de
transmissão e de disseminação da doença causada vírus COVID-19 em Porto
Velho.
Os números são claro: no dia
17.04.2020, o Hospital CEMETRON, que é a referência hospitalar para
casos de COVID-19 em Porto Velho tinha 2 casos confirmados. Apenas no
HEPSJPII, 5 casos de servidores da saúde foram confirmados.
Não obstante, mais de 20 servidores foram
afastados no dia 16.04.2020, por terem tido contato próximo com um caso
confirmado (um enfermeiro que desenvolveu sintomas da doença e testou
positivo) e terem desenvolvido sintomas ao longo dos dias.
E o que está acontecendo então no HEPSJPII?
Como explicar o adoecimento progressivo dos trabalhadores em saúde?
Quais
as ações concretas que a Direção Médica do HEPSJPII tem tomado para
garantir a saúde e preservar a vida dos seus servidores?
O paciente “zero”
Foi
um enfermeiro o primeiro paciente a apresentar sintomas da doença
causada vírus COVID-19 dentro do HEPSJPII. Antes disso, havia trabalhado
ao longo da semana no hospital, submetido a jornadas laborais
exaustivas, em um espaço insalubre e propício da disseminação do vírus,
dada as péssimas condições de trabalho que são impostas historicamente
aos servidores.
No dia 08.04.2020 o
paciente foi submetido ao teste para COVID-19, com resultado disponível
dia 09.04.2020. Dados não confirmados e extraoficiais dão conta que o
enfermeiro em questão trabalhou nos dias 08 e 09 de abril.
Diante do inevitável e trágico
acontecimento, qual deveria ter sido, além de afastar imediatamente o
enfermeiro, a atitude que se esperava da Direção Médica do HEPSJPII?
São
várias ações, entre elas, deveria-se garantir que os trabalhadores
fossem avaliados periodicamente em relação à saúde ocupacional, além do
desenvolvimento de planos de comunicação de emergência, incluindo
espaços e canais de comunicação para responder às preocupações dos
trabalhadores.
Mais importante ainda, a
direção médica do hospital deveria adotar ferramentas de monitoramento
da ocorrência de transmissão interna do COVID-19 em pacientes e
trabalhadores, adotando medidas apropriadas para controle e mitigação da
transmissão.
Por isso, os trabalhadores dos serviços de
saúde que apresentam Síndrome Gripal ou Síndrome Respiratória Aguda
Grave ou com contatos próximos nestas condições deverão ser afastados
imediatamente do trabalho.
É sabido que,
dado as experiências da pandemia na China, Itália e mais recentemente
nos Estados Unidos, que além de se constituírem como uma população
extremante susceptível ao contágio e a doença, os trabalhadores dos
serviços de saúde são essenciais no enfrentamento da COVID-19 no Brasil.
Na Itália, mais de 12 mil profissionais da saúde contraíram o vírus e
mais de 100 foram a óbito.
Diante da
altíssima taxa de contágio, em especial nos profissionais de saúde,
esperava-se uma postura de pró-atividade da direção médica do HEPSJII,
em especial vigilância e monitoramento de todos os pacientes e
profissionais que tiveram contato com e enfermeiro, para que se
eventualmente desenvolvem-se sintomas, pudessem ser isolados e
submetidos a testes para detecção viral.
Mas
nada disso aconteceu. Negligência, omissão e descaso com o servidor
público. Essa foi a tônica adotada pela Direção Médica do HEPSJPII.
A indiferença a vida caminha a passos largos e o Hospital torna-se o principal local de disseminação do vírus em Rondônia
Atentos
ao sofrimento e ao suplício que os profissionais de saúde têm sofrido,
os profissionais de enfermagem do hospital buscaram na Direção Médica do
HEPSJPII um refúgio para um evidente problema: o contágio progressivo e
o adoecimento constante dos seus pares.
O que conseguiram? Indiferença descaso com a saúde dos servidores do HEPSJPII.
A
redação teve acesso a conversas internas de grupo de WhatsApp do
HEPSJPII, que apontam para a gravidade dos fatos e materializam o
descaso com o qual os servidores daquele hospital têm sofrido.
No
dia 16.04.2020, a Gerente de Enfermagem do Enfermagem do HEPSJPII,
Cristiane Chiarelli, externa suas preocupações com a saúde física e
mental dos servidores do hospital, uma vez que inúmeros servidores
começaram a apresentar sintomas e necessitavam de atendimento
prioritário.
Em mensagem enviada a um
grupo privativo de WhatsApp denominado Comitê de Crise COVID-19,
solicita encarecidamente o apoio da Direção Médica (Dr. Amaury – Diretor
Geral; Dr. Diego Almeida – Diretor Técnico; Dr. Nelson – Gerente
Médico) para atendimento dos servidores do HEPSJPII.
A
resposta do Diretor Técnico, Dr. Diego Almeida, médico cirurgião, foi
enfática na recusa: “Não podemos fazer atendimento no JP”.
Com
isso, cria-se um cenário de abandono e desresponsabilização frente a
frágil situação dos trabalhadores de saúde do HEPSJPII.=
Enfim, os servidores estavam a jogados a sua própria sorte.
Da omissão a responsabilização: deflagra-se o contágio do vírus e os servidores tombam no front de batalha
Diante
da gravidade dos fatos, inúmeros outros servidores buscaram, em vão,
solucionar o descaso e o abandono ao qual os servidores do HEPSJPII.
Tivemos
acesso a um áudio, supostamente enviado pela Coordenadora da Unidade de
Terapia Intensiva do HEPSJPII, Dra. Thattiane Borba, que manifestara
contrariedade e objeção frente as atitudes irresponsáveis e omissas
adotadas pela Direção Médica do hospital.
Em áudio enviado ao Diretor Técnico do Hospital (Dr. Diego Almeida), a médica intensivista adverte:
“Esse
número de servidores infectados dentro do João Paulo, irá nos trazer
inúmeras consequências. A gente vai chegar em uma situação de
disseminação do vírus dentro do hospital que pode acarretar o fechamento
do Pronto Socorro”. E continua em tom de severidade:
“E
se esse vírus acabar contaminando a UTI, a gente vai ter muitos óbitos
lá dentro (dentro da UTI) e os servidores dali de dentro também vão
ficar doentes”. Cobra ainda, providências emergenciais, com a velocidade
que a pandemia exige:
“Então eu acho
que Amaury, você e o Nelson que estão a frente da Direção, precisam
discutir seriamente com Fernando o que vai ser feito daqui para frente”.
Suas
palavras foram proféticas frente ao perigo que a situação atual, de
disseminação do vírus dentro de uma unidade hospitalar do Estado. Mas
infelizmente, a Direção Médica do HEPSJPII fez “ouvido de mercador” para
o alerta da médica. Suas recomendações foram como “palavras ao vento”.
E mais cedo do que se esperava, a história cobrou seu preço.
Nas
últimas 24h, confirmou-se através de exames moleculares, o contágio de
mais de 5 servidores do Hospital Estadual e Pronto Socorro João Paulo
II. Em menos de 24h, mais de 26 trabalhadores, incluindo médicos,
enfermeiros e técnicos de enfermagem foram afastados das suas atividades
laborais, reduzindo ainda mais o número de profissionais capacitados e
aptos para cuidar da nossa população durante luta contra a pandemia pelo
COVID-19.
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