"Será que vamos ter que encomendar nosso caixão? Porque vamos morrer por
falta de consciência dos administradores do hospital", desabafou
Um vídeo com o desabafo de uma técnica de enfermagem que trabalha no
Hospital Getúlio Vargas (HGV), localizado no bairro do Cordeiro, Zona
Oeste do Recife, viralizou nas redes sociais deste domingo (19). Na
gravação, ela denuncia a falta de equipamentos de proteção individual
(EPIs), além da presença de pacientes com suspeita de coronavírus no setor de traumatologia e a ausência de testes para os profissionais que tiveram contato com esses pacientes.
De acordo com Alexsandra Albuquerque, a técnica de enfermagem que
aparece no vídeo, os profissionais de saúde do hospital estão
trabalhando sem os EPIs necessários. "Dizem que chegaram milhões de
materiais, mas é mentira. A máscara que estou usando só protege por duas
horas e, mesmo assim, temos que trabalhar com ela", disse.
Um outro material mencionado o por Alexsandra como
necessário e que está em falta, segundo ela, são óculos de proteção.
"Cadê os nossos óculos? Será que temos que produzir em casa com garrafa
PET para poder trabalhar?", questionou.
Durante todo o vídeo, a técnica de enfermagem mostrou
medo de ser infectada pelo vírus e transmitir para familiares e colegas
de trabalho, por isso, fez um pedido de ajuda. "Não aguento mais chorar,
estou desgastada fisicamente, mentalmente e espiritualmente. Quem tiver
um bom coração, doe material, porque o hospital não está dando para a
gente. E se eu levar a doença para casa? Depois vão dizer: 'técnica de
enfermagem que lutou até o fim morreu com covid-19'. Não quero isso",
declarou.
Além disso, ela também fez um pedido direto para o
Governo de Pernambuco. "Senhor governador, pelo amor de Deus, o que você
vai fazer para nos ajudar? Faça algo por nós enquanto ainda estamos
vivos", falou.
Pacientes com suspeita de coronavírus
De acordo com a técnica de enfermagem, dois pacientes
com suspeita de covid-19 estavam na ala de traumatologia, mesmo
existindo uma ala para os casos suspeitos de covid-19 no HGV. Um deles,
segundo Alexsandra, só foi transferido para o setor após um longo
período de insistência por parte dos profissionais.
"Olhem por nós, somos seres humanos. Somos técnicos de
enfermagem e estamos cuidando dos pacientes, temos que ter equipamentos
de proteção adequados. De quem esperaram autorização para transferir o
paciente, se existe uma ala para isso?", disse.
Testes
No vídeo, Alexsandra Albuquerque também questionou
sobre a ausência de testes para detectar a covid-19 no hospital. Segundo
ela, cinco médicos com quem ela trabalha e outros profissionais foram
diagnosticados com a doença. No entanto, não foram disponibilizados para
os técnicos.
"Será que vamos ter que encomendar nosso caixão? Porque
vamos morrer por falta de consciência dos administradores do hospital.
Não quero morrer, mas pelo jeito vai ser o nosso fim, porque ninguém se
importa conosco", finalizou.
Resposta
Em nota enviada às 15h31 desta segunda-feira (20), a
Secretaria Estadual de Saúde (SES) informa que tem monitorado
permanentemente o abastecimento e os estoques de equipamentos de
proteção individual (EPIs) das unidades da rede estadual de saúde e
deflagrado diversas ações para garantir a compra de itens de acordo com
as especificações técnicas recomendadas pelos órgãos de controle,
visando garantir a segurança do profissional de saúde e dos pacientes.
"Desde o início dos esforços comandados pelo Gabinete
de Enfrentamento à Pandemia, já foram adquiridos e entregues às unidades
da rede hospitalar mais de 9 milhões de unidades de Equipamentos de
Proteção Individual (EPIs). Destes, foram mais de 1 milhão de máscaras
cirúrgicas e quase 200 mil de máscaras N95. É importante destacar que
estas últimas, conforme protocolos e orientações técnica, só são
indicadas para profissionais que estão em contato direto com os
pacientes suspeitos ou confirmados da Covid-19, em procedimentos com
risco de geração de aerossol", diz a nota.
A direção do HGV ainda esclarece que, segundo
protocolos estabelecidos, são fornecidas, por plantão, um quantitativo
de três máscaras cirúrgicas por profissional de saúde. "Se houver
necessidade, em caso de sujidade ou umidade, o trabalhador pode
solicitar unidades extras ao setor de Farmácia da unidade." A direção
ressalta ainda que tem feito um trabalho permanente de conscientização
dos profissionais para que os insumos sejam dispensados de maneira
racional e usados de maneira adequada.
Sobre a denúncia de que apenas médicos estariam sendo
testados para covid-19, a direção do HGV nega a informação. "A unidade
segue rigidamente o protocolo adotado pelo Governo de Pernambuco para
testagem em todo profissional de saúde que apresente sintomas gripais.
No serviço, a coleta de swab em trabalhadores sintomáticos é agendada
(previamente) e colhida pela equipe da Comissão de Controle de Infecção
Hospitalar (CCIH) do hospital."
A direção do hospital informa também que já está em
funcionamento no serviço, há mais de 15 dias, alas destinadas apenas
para pacientes com síndrome respiratória aguda grave (srag) com suspeita
ou confirmação de covid-19. Pacientes internados em outros setores do
hospital que apresentem sintomas suspeitos são transferidos para os
setores covid-19, de acordo com protocolos estabelecidos pela unidade,
com fluxo amplamente divulgado entre os profissionais do hospital.
"Equipes foram, inclusive, treinadas para fazer a evolução e
acompanhamento dos pacientes", finaliza a nota.
JC.NE10
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