segunda-feira, 20 de abril de 2020

Técnica de enfermagem denuncia falta de EPIs e testes para detectar coronavírus em profissionais do HGV, no Recife

"Será que vamos ter que encomendar nosso caixão? Porque vamos morrer por falta de consciência dos administradores do hospital", desabafou
 Um vídeo com o desabafo de uma técnica de enfermagem que trabalha no Hospital Getúlio Vargas (HGV), localizado no bairro do Cordeiro, Zona Oeste do Recife, viralizou nas redes sociais deste domingo (19). Na gravação, ela denuncia a falta de equipamentos de proteção individual (EPIs), além da presença de pacientes com suspeita de coronavírus no setor de traumatologia e a ausência de testes para os profissionais que tiveram contato com esses pacientes.

De acordo com Alexsandra Albuquerque, a técnica de enfermagem que aparece no vídeo, os profissionais de saúde do hospital estão trabalhando sem os EPIs necessários. "Dizem que chegaram milhões de materiais, mas é mentira. A máscara que estou usando só protege por duas horas e, mesmo assim, temos que trabalhar com ela", disse.

Um outro material mencionado o por Alexsandra como necessário e que está em falta, segundo ela, são óculos de proteção. "Cadê os nossos óculos? Será que temos que produzir em casa com garrafa PET para poder trabalhar?", questionou.

Durante todo o vídeo, a técnica de enfermagem mostrou medo de ser infectada pelo vírus e transmitir para familiares e colegas de trabalho, por isso, fez um pedido de ajuda. "Não aguento mais chorar, estou desgastada fisicamente, mentalmente e espiritualmente. Quem tiver um bom coração, doe material, porque o hospital não está dando para a gente. E se eu levar a doença para casa? Depois vão dizer: 'técnica de enfermagem que lutou até o fim morreu com covid-19'. Não quero isso", declarou.

Além disso, ela também fez um pedido direto para o Governo de Pernambuco. "Senhor governador, pelo amor de Deus, o que você vai fazer para nos ajudar? Faça algo por nós enquanto ainda estamos vivos", falou.

Pacientes com suspeita de coronavírus

De acordo com a técnica de enfermagem, dois pacientes com suspeita de covid-19 estavam na ala de traumatologia, mesmo existindo uma ala para os casos suspeitos de covid-19 no HGV. Um deles, segundo Alexsandra, só foi transferido para o setor após um longo período de insistência por parte dos profissionais.

"Olhem por nós, somos seres humanos. Somos técnicos de enfermagem e estamos cuidando dos pacientes, temos que ter equipamentos de proteção adequados. De quem esperaram autorização para transferir o paciente, se existe uma ala para isso?", disse.

Testes

 

No vídeo, Alexsandra Albuquerque também questionou sobre a ausência de testes para detectar a covid-19 no hospital. Segundo ela, cinco médicos com quem ela trabalha e outros profissionais foram diagnosticados com a doença. No entanto, não foram disponibilizados para os técnicos.

"Será que vamos ter que encomendar nosso caixão? Porque vamos morrer por falta de consciência dos administradores do hospital. Não quero morrer, mas pelo jeito vai ser o nosso fim, porque ninguém se importa conosco", finalizou.

Resposta

 

Em nota enviada às 15h31 desta segunda-feira (20), a Secretaria Estadual de Saúde (SES) informa que tem monitorado permanentemente o abastecimento e os estoques de equipamentos de proteção individual (EPIs) das unidades da rede estadual de saúde e deflagrado diversas ações para garantir a compra de itens de acordo com as especificações técnicas recomendadas pelos órgãos de controle, visando garantir a segurança do profissional de saúde e dos pacientes. 

"Desde o início dos esforços comandados pelo Gabinete de Enfrentamento à Pandemia, já foram adquiridos e entregues às unidades da rede hospitalar mais de 9 milhões de unidades de Equipamentos de Proteção Individual (EPIs). Destes, foram mais de 1 milhão de máscaras cirúrgicas e quase 200 mil de máscaras N95. É importante destacar que estas últimas, conforme protocolos e orientações técnica, só são indicadas para profissionais que estão em contato direto com os pacientes suspeitos ou confirmados da Covid-19, em procedimentos com risco de geração de aerossol", diz a nota. 

A direção do HGV ainda esclarece que, segundo protocolos estabelecidos, são fornecidas, por plantão, um quantitativo de três máscaras cirúrgicas por profissional de saúde. "Se houver necessidade, em caso de sujidade ou umidade, o trabalhador pode solicitar unidades extras ao setor de Farmácia da unidade." A direção ressalta ainda que tem feito um trabalho permanente de conscientização dos profissionais para que os insumos sejam dispensados de maneira racional e usados de maneira adequada.

Sobre a denúncia de que apenas médicos estariam sendo testados para covid-19, a direção do HGV nega a informação. "A unidade segue rigidamente o protocolo adotado pelo Governo de Pernambuco para testagem em todo profissional de saúde que apresente sintomas gripais. No serviço, a coleta de swab em trabalhadores sintomáticos é agendada (previamente) e colhida pela equipe da Comissão de Controle de Infecção Hospitalar (CCIH) do hospital."

A direção do hospital informa também que já está em funcionamento no serviço, há mais de 15 dias, alas destinadas apenas para pacientes com síndrome respiratória aguda grave (srag) com suspeita ou confirmação de covid-19. Pacientes internados em outros setores do hospital que apresentem sintomas suspeitos são transferidos para os setores covid-19, de acordo com protocolos estabelecidos pela unidade, com fluxo amplamente divulgado entre os profissionais do hospital. "Equipes foram, inclusive, treinadas para fazer a evolução e acompanhamento dos pacientes", finaliza a nota.


JC.NE10

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