Filha do taxista Geovane Reis conta que no dia da inauguração do hospital de retaguarda do Estado, o atendimento ao homem foi negado por falta de vaga
Manaus – O taxista Geovane Reis, 54, natural de
Manacapuru (a 68 quilômetros a oeste de Manaus), morreu, na manhã deste
domingo (19), vítima do novo coronavírus (Covid-19). De acordo com a
filha dele, Geovana Matos, houve negligência por parte do Hospital de
Retaguarda do Estado Nilton Lins, que não quis prestar atendimento a seu
pai por falta de vaga na unidade de saúde, no mesmo dia em que ela foi
inaugurada, no caso, o último sábado (18).
Geovana conta que o taxista sentiu os primeiros sintomas de
contaminação no dia 30 de março. Porém, Geovane só buscou uma unidade de
saúde, em Manacapuru, no dia 6 de abril, quando seu quadro piorou.
“Apesar do teste der dado negativo para Covid-19, ele foi diagnosticado
com pneumonia”, relatou a filha. Após dois dias e com quadro clínico
melhor, a vítima recebeu alta para terminar o tratamento em casa.
Já em sua residência e sem sentir melhoras, buscou ajuda no Hospital e
Pronto-Socorro (HPS) 28 de Agosto, na capital, onde foi informado que
não havia vagas para internação. “Ele permaneceu no local por dois dias,
sentado em uma cadeira, a espera de um leito. Até que ele foi
transferido para a ‘Sala Rosa’ do 28. Refez o teste e o resultado foi
negativo, sendo diagnosticado com H1N1”, falou ela.
Receita
Ao todo, foram receitados cinco remédios para Geovane, dentre eles
azintromicina, que também é utilizado no tratamento da Covid-19. Ainda
por falta de leitos no HPS 28 de Agosto, ele foi aconselhado a retornar
para Manacapuru. Sem melhoras, no dia 16, ele buscou ajuda médica no
hospital de campanha do município. Ao fazer o exame da Covid-19 pela
terceira vez, foi diagnosticado com o novo coronavírus e já estava com
os dois pulmões bem comprometidos.
Apesar de ser atendido e ter ficado em um leito com ventilação, seu
estado era grave demais e precisava de uma Unidade de Terapia Intensiva
(UTI) que não havia disponível no município. “No sábado, a Susam
(Secretaria de Saúde do Amazonas) enviu uma UTI móvel para ele ir para o
Hospital da Nilton Lins. Mas quando chegamos lá, fomos informados que
não havia vagas”.
A filha relata que viu outros pacientes dando entrada no local, mas
que o atendimento de seu pai foi negado por seu estado de saúde ser
considerado muito grave e não ter como atendê-lo. “Eles disseram na
frente do meu pai que não tinha o que fazer e que ele ia morrer no
local”, lembrou ela, dizendo que o taxista ficou desesperado e começou a
chorar na frente de todos.
Sem saber o que fazer, levaram a vítima para o HPS Delphina Aziz onde o
atendimento também foi negado, em um primeiro momento. “Mas com o estado
de saúde era muito grave, ele foi atendimento e levado para um UTI que
estava incompleta, pois não havia equipamentos necessários para
atendê-lo”, relatou. Às 11h, do domingo, Geovane morreu.
“Ele foi três vezes ao hospital e não teve melhoras. Só após sete
dias que foi diagnosticado com novo coronavírus e já estava em estado
grave é que foi atendido de fato. Ele deveria ter sido atendido como
emergência na Nilton Lins e a demora piorou o quadro de saúde dele”,
finalizou.
Nota
Em nota, a Susam informa que enviou uma ambulância com suporte de UTI
para remoção do paciente, que foi transferido para Manaus em estado
grave. Ele foi internado na UTI da unidade de referência, Hospital
Delphina Aziz, onde recebeu assistência adequada, mas o quadro de saúde
teve rápida piora, levando ao falecimento do paciente.
Com relação ao Hospital Nilton Lins a Susam declara que vai apurar as
circunstâncias em que se deu o atendimento. Para dar suporte ao
município, a Susam enviou no domingo (19) respiradores, bombas de
infusão, monitores multiparamédicos e montou salas de Unidades de
Cuidado Intermediário (UCI) para que o município possa estabilizar
quadro de pacientes mais graves, até que se providencie a transferência
deles para Manaus.
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