quarta-feira, 22 de abril de 2020

Denúncia: família de vítima da Covid-19 relata negligência no Hospital da Nilton Lins

Filha do taxista Geovane Reis conta que no dia da inauguração do hospital de retaguarda do Estado, o atendimento ao homem foi negado por falta de vaga



Manaus – O taxista Geovane Reis, 54, natural de Manacapuru (a 68 quilômetros a oeste de Manaus), morreu, na manhã deste domingo (19), vítima do novo coronavírus (Covid-19). De acordo com a filha dele, Geovana Matos, houve negligência por parte do Hospital de Retaguarda do Estado Nilton Lins, que não quis prestar atendimento a seu pai por falta de vaga na unidade de saúde, no mesmo dia em que ela foi inaugurada, no caso, o último sábado (18).

Geovana conta que o taxista sentiu os primeiros sintomas de contaminação no dia 30 de março. Porém, Geovane só buscou uma unidade de saúde, em Manacapuru, no dia 6 de abril, quando seu quadro piorou. “Apesar do teste der dado negativo para Covid-19, ele foi diagnosticado com pneumonia”, relatou a filha. Após dois dias e com quadro clínico melhor, a vítima recebeu alta para terminar o tratamento em casa.


Já em sua residência e sem sentir melhoras, buscou ajuda no Hospital e Pronto-Socorro (HPS) 28 de Agosto, na capital, onde foi informado que não havia vagas para internação. “Ele permaneceu no local por dois dias, sentado em uma cadeira, a espera de um leito. Até que ele foi transferido para a ‘Sala Rosa’ do 28. Refez o teste e o resultado foi negativo, sendo diagnosticado com H1N1”, falou ela.

Receita

Ao todo, foram receitados cinco remédios para Geovane, dentre eles azintromicina, que também é utilizado no tratamento da Covid-19. Ainda por falta de leitos no HPS 28 de Agosto, ele foi aconselhado a retornar para Manacapuru. Sem melhoras, no dia 16, ele buscou ajuda médica no hospital de campanha do município. Ao fazer o exame da Covid-19 pela terceira vez, foi diagnosticado com o novo coronavírus e já estava com os dois pulmões bem comprometidos.



Apesar de ser atendido e ter ficado em um leito com ventilação, seu estado era grave demais e precisava de uma Unidade de Terapia Intensiva (UTI) que não havia disponível no município. “No sábado, a Susam (Secretaria de Saúde do Amazonas) enviu uma UTI móvel para ele ir para o Hospital da Nilton Lins. Mas quando chegamos lá, fomos informados que não havia vagas”.

A filha relata que viu outros pacientes dando entrada no local, mas que o atendimento de seu pai foi negado por seu estado de saúde ser considerado muito grave e não ter como atendê-lo. “Eles disseram na frente do meu pai que não tinha o que fazer e que ele ia morrer no local”, lembrou ela, dizendo que o taxista ficou desesperado e começou a chorar na frente de todos.



Sem saber o que fazer, levaram a vítima para o HPS Delphina Aziz onde o atendimento também foi negado, em um primeiro momento. “Mas com o estado de saúde era muito grave, ele foi atendimento e levado para um UTI que estava incompleta, pois não havia equipamentos necessários para atendê-lo”, relatou. Às 11h, do domingo, Geovane morreu.

“Ele foi três vezes ao hospital e não teve melhoras. Só após sete dias que foi diagnosticado com novo coronavírus e já estava em estado grave é que foi atendido de fato. Ele deveria ter sido atendido como emergência na Nilton Lins e a demora piorou o quadro de saúde dele”, finalizou.

Nota

Em nota, a Susam informa que enviou uma ambulância com suporte de UTI para remoção do paciente, que foi transferido para Manaus em estado grave. Ele foi internado na UTI da unidade de referência, Hospital Delphina Aziz, onde recebeu assistência adequada, mas o quadro de saúde teve rápida piora, levando ao falecimento do paciente.

Com relação ao Hospital Nilton Lins a Susam declara que vai apurar as circunstâncias em que se deu o atendimento. Para dar suporte ao município, a Susam enviou no domingo (19) respiradores, bombas de infusão, monitores multiparamédicos e montou salas de Unidades de Cuidado Intermediário (UCI) para que o município possa estabilizar quadro de pacientes mais graves, até que se providencie a transferência deles para Manaus.



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