Dona de casa tinha 53 anos e morreu após apresentar sintomas de Covid-19. Vídeo mostra o momento em que a família busca atendimento no Hospital de Retaguarda da Nilton Lins.
Após o desespero que a família da dona de casa Amália Brandão Ribeiro, de 53 anos, passou, ao implorar por atendimento médico na porta de um hospital referência para pacientes de Covid-19, em Manaus,
outras dificuldades vieram à tona. Familiares denunciaram, nesta
sexta-feira (24), descaso durante a localização do corpo, além da troca
do caixão entregue à família. Eles lamentaram, também, pela demora no
sepultamento.
A família diz que a mulher apresentava sintomas do novo coronavírus. Já são mais de 250 mortes no Amazonas por Covid-19. O estado registra mais de 3 mil casos confirmados de Covid-19, conforme boletim divulgado, nesta sexta-feira (24).
O vídeo divulgado na quarta-feira (22) - mesmo dia em que a família levou a mulher no Hospital de Retaguarda da Nilton Lins -
mostra a mulher desmaiada dentro do carro em frente a unidade
hospitalar e, os filhos, aos prantos, pediam socorro para que a mãe
fosse atendida. Após implorarem, a mulher foi retirada de dentro do
carro pela equipe sem nenhum tipo de equipamento.
O governo informou ao G1
que não negou atendimento para a mulher e alegou que ela deu entrada na
unidade hospitalar sem vida. Eles disseram que foi explicado aos
familiares que o hospital é área de risco biológico, por isso são
tratados exclusivamente pacientes de Covid-19 na unidade.
g1.globo.com/am/amazonas/videos/v/familia-implora-por-atendimento-de-mulher-em-porta-de-hospital-no-am/8504700/ |
No início da tarde desta sexta-feira (24), uma das filhas da dona de
casa, Paula Ribeiro, disse que foi até o hospital na quinta-feira (23) e
não conseguia a liberação do corpo da mãe.
"Não queriam liberar o corpo dela. Alegavam que ela não tinha dado
entrada no hospital, não havia nenhuma Amália Ribeiro e renegando que
ela não tinha morrido naquele hospital 'maldito'. Minha mãe faleceu,
sim, na porta do hospital pois não quiseram atendê-lá", disse.
Além da demora para conseguir a liberação do corpo da própria mãe,
Paula disse que a irmã dela chegou a ser coagida dentro do hospital ao
implorar para localizarem o corpo da mãe. "Hoje estão afirmando [estado]
que o vídeo é falso, que minha mãe chegou morta, que a documentação que
tenho, é falsa, sendo que tem o carimbo da assistente social",
completou.
"Perdi o meu bem mais precioso: minha mãe. Ela me deixou junto ao irmão, de 14 anos, pois morávamos com ela"
Na hora de receber o corpo da mãe, mais um problema. A família contou
que o corpo de Amália foi trocado pelo cadáver de um homem e, mesmo
assim, funcionários do SOS Funeral, serviço gratuito da Prefeitura de
Manaus, queriam entregar para os parentes enterrarem.
O G1 entrou
em contato com o governo do Estado, mas, até a publicação desta
reportagem, não obteve respostas. A Prefeitura de Manaus também não
respondeu sobre as denúncias envolvendo o SOS Funeral e sepultamento.
"Trocaram o corpo da minha mãe, mas o meu cunhado com minha irmã,
puderam ver pelo peso e altura, que não era ela. Só tivemos certeza que
era o corpo dela quando pedi para abrir e tive certeza que estava
enterrando a minha mãe", disse, explicando que o corpo da mãe chegou em
um segundo caixão entregue à família.
"Uma bagunça total nessa parte [sepultamento]. Pediram para chegarmos
cedo no cemitério e, após muita demora, conseguimos. O corpo dela já
estava aqui [no caminhão frigorífico], mas precisava de um carro para
levar até a sepultura", enfatizou.
Nesta quinta-feira (23), Manaus registrou 135 sepultamentos, sendo 40
óbitos foram em domicílios - que representa 29,6% do total -. A
Prefeitura de Manaus divulgou dados a partir do dia 13 de abril, quando a
cidade teve 58 sepultamentos. Segundo o órgão, a capital chegou a registrar 136 enterros em um só dia e bateu o recorde desde início da pandemia.
Número de mortes tem salto em Manaus
Número de mortes tem salto em Manaus
No dia 20 de abril, contêineres frigoríficos foram instalados no Cemitério Nossa Senhora Aparecida, no bairro Tarumã, Zona Oeste de Manaus,
para comportar a alta demanda de caixões que estão sendo enviados de
hospitais públicos da capital, muitos de vítimas do novo coronavírus.
Essa mesma ação da instalação de contêineres também foi uma medida
adotada pelo Governo do Amazonas para comportar os corpos de vítimas de
Covid-19 em hospitais de Manaus, após
a repercussão de um vídeo que mostra corpos posicionados ao lado de
pacientes internados no Hospital João Lúcio, na Zona Leste de Manaus.
Antes da instalação dos contêineres, no dia 17 de abril, dezenas de covas haviam sido abertas no cemitério para atender o aumento na demanda provocado pelas mortes por Covid-19
A Prefeitura de Manaus informou que está fazendo valas comuns, chamadas
pelo órgão de trincheiras, para enterrar vítimas do novo coronavírus no
cemitério público Nossa Senhora Aparecida.
"A metodologia, já utilizada em outros países, preserva a identidade
dos corpos e os laços familiares, com o distanciamento entre os caixões e
com a identificação das sepulturas. A medida foi necessária para
atender a demanda de sepultamentos na capital", disse a Prefeitura, por
meio de nota.
g1.globo.com/am/amazonas/videos/v/prefeitura-de-manaus-faz-valas-comuns-em-cemiterio-para-enterrar-vitimas-da-covid-19/8498531/ |
Corrida contra colapso na saúde
Nesta quinta-feira (23), a taxa de ocupação de leitos de Unidade de Terapia Intensiva (UTI) da rede pública de saúde do Amazonas chegou a 96%, segundo dados divulgados pela Secretaria de Estado de Saúde do Amazonas (Susam).
De acordo com os dados divulgados pela Susam, dos 668 leitos
disponíveis para atendimento de pacientes com Covid-19 na rede de saúde,
90,5% estão ocupados. São 222 leitos de UTI disponíveis, com a taxa de
ocupação de 96% e 446 leitos clínicos, com 85% ocupados.
Nesta sexta-feira (24), a Amazonas ultrapassou a marca de 3 mil casos confirmados do novo coronavírus,
nesta sexta-feira (24). Conforme boletim atualizado da Fundação de
Vigilância em Saúde (FVS-AM), o estado registrou mais de 250 mortes por
Covid-19.
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