sábado, 25 de abril de 2020

Família de mulher que morreu após implorar por atendimento em hospital do AM denuncia troca de corpo e demora para sepultamento

Dona de casa tinha 53 anos e morreu após apresentar sintomas de Covid-19. Vídeo mostra o momento em que a família busca atendimento no Hospital de Retaguarda da Nilton Lins.


Após o desespero que a família da dona de casa Amália Brandão Ribeiro, de 53 anos, passou, ao implorar por atendimento médico na porta de um hospital referência para pacientes de Covid-19, em Manaus, outras dificuldades vieram à tona. Familiares denunciaram, nesta sexta-feira (24), descaso durante a localização do corpo, além da troca do caixão entregue à família. Eles lamentaram, também, pela demora no sepultamento.

A família diz que a mulher apresentava sintomas do novo coronavírus. Já são mais de 250 mortes no Amazonas por Covid-19. O estado registra mais de 3 mil casos confirmados de Covid-19, conforme boletim divulgado, nesta sexta-feira (24). 


O vídeo divulgado na quarta-feira (22) - mesmo dia em que a família levou a mulher no Hospital de Retaguarda da Nilton Lins - mostra a mulher desmaiada dentro do carro em frente a unidade hospitalar e, os filhos, aos prantos, pediam socorro para que a mãe fosse atendida. Após implorarem, a mulher foi retirada de dentro do carro pela equipe sem nenhum tipo de equipamento. 

O governo informou ao G1 que não negou atendimento para a mulher e alegou que ela deu entrada na unidade hospitalar sem vida. Eles disseram que foi explicado aos familiares que o hospital é área de risco biológico, por isso são tratados exclusivamente pacientes de Covid-19 na unidade.
No início da tarde desta sexta-feira (24), uma das filhas da dona de casa, Paula Ribeiro, disse que foi até o hospital na quinta-feira (23) e não conseguia a liberação do corpo da mãe.

"Não queriam liberar o corpo dela. Alegavam que ela não tinha dado entrada no hospital, não havia nenhuma Amália Ribeiro e renegando que ela não tinha morrido naquele hospital 'maldito'. Minha mãe faleceu, sim, na porta do hospital pois não quiseram atendê-lá", disse. 


Além da demora para conseguir a liberação do corpo da própria mãe, Paula disse que a irmã dela chegou a ser coagida dentro do hospital ao implorar para localizarem o corpo da mãe. "Hoje estão afirmando [estado] que o vídeo é falso, que minha mãe chegou morta, que a documentação que tenho, é falsa, sendo que tem o carimbo da assistente social", completou.

"Perdi o meu bem mais precioso: minha mãe. Ela me deixou junto ao irmão, de 14 anos, pois morávamos com ela"

Na hora de receber o corpo da mãe, mais um problema. A família contou que o corpo de Amália foi trocado pelo cadáver de um homem e, mesmo assim, funcionários do SOS Funeral, serviço gratuito da Prefeitura de Manaus, queriam entregar para os parentes enterrarem. 

O G1 entrou em contato com o governo do Estado, mas, até a publicação desta reportagem, não obteve respostas. A Prefeitura de Manaus também não respondeu sobre as denúncias envolvendo o SOS Funeral e sepultamento. 


"Trocaram o corpo da minha mãe, mas o meu cunhado com minha irmã, puderam ver pelo peso e altura, que não era ela. Só tivemos certeza que era o corpo dela quando pedi para abrir e tive certeza que estava enterrando a minha mãe", disse, explicando que o corpo da mãe chegou em um segundo caixão entregue à família. 

No início da tarde desta sexta-feira (24), a família também reclamou sobre a demora e descaso dentro do Cemitério Parque Tarumã, em Manaus. Eles alegam que tiveram que esperar por quase quatro horas para o sepultamento. O sepultamento estava marcado para 9h, mas somente 12h a família conseguiu enterrar a vítima, que morreu com suspeita de Covid-19.
"Uma bagunça total nessa parte [sepultamento]. Pediram para chegarmos cedo no cemitério e, após muita demora, conseguimos. O corpo dela já estava aqui [no caminhão frigorífico], mas precisava de um carro para levar até a sepultura", enfatizou. 


Nesta quinta-feira (23), Manaus registrou 135 sepultamentos, sendo 40 óbitos foram em domicílios - que representa 29,6% do total -. A Prefeitura de Manaus divulgou dados a partir do dia 13 de abril, quando a cidade teve 58 sepultamentos. Segundo o órgão, a capital chegou a registrar 136 enterros em um só dia e bateu o recorde desde início da pandemia. 
 
Número de mortes tem salto em Manaus

No dia 20 de abril, contêineres frigoríficos foram instalados no Cemitério Nossa Senhora Aparecida, no bairro Tarumã, Zona Oeste de Manaus, para comportar a alta demanda de caixões que estão sendo enviados de hospitais públicos da capital, muitos de vítimas do novo coronavírus. 

Essa mesma ação da instalação de contêineres também foi uma medida adotada pelo Governo do Amazonas para comportar os corpos de vítimas de Covid-19 em hospitais de Manaus, após a repercussão de um vídeo que mostra corpos posicionados ao lado de pacientes internados no Hospital João Lúcio, na Zona Leste de Manaus.


 
A Prefeitura de Manaus informou que está fazendo valas comuns, chamadas pelo órgão de trincheiras, para enterrar vítimas do novo coronavírus no cemitério público Nossa Senhora Aparecida. 

"A metodologia, já utilizada em outros países, preserva a identidade dos corpos e os laços familiares, com o distanciamento entre os caixões e com a identificação das sepulturas. A medida foi necessária para atender a demanda de sepultamentos na capital", disse a Prefeitura, por meio de nota. 

 Corrida contra colapso na saúde

Nesta quinta-feira (23), a taxa de ocupação de leitos de Unidade de Terapia Intensiva (UTI) da rede pública de saúde do Amazonas chegou a 96%, segundo dados divulgados pela Secretaria de Estado de Saúde do Amazonas (Susam). 

De acordo com os dados divulgados pela Susam, dos 668 leitos disponíveis para atendimento de pacientes com Covid-19 na rede de saúde, 90,5% estão ocupados. São 222 leitos de UTI disponíveis, com a taxa de ocupação de 96% e 446 leitos clínicos, com 85% ocupados. 

Nesta sexta-feira (24), a Amazonas ultrapassou a marca de 3 mil casos confirmados do novo coronavírus, nesta sexta-feira (24). Conforme boletim atualizado da Fundação de Vigilância em Saúde (FVS-AM), o estado registrou mais de 250 mortes por Covid-19. 





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