quinta-feira, 16 de abril de 2020

Paciente contrai coronavírus durante internação em hospital estadual de Mogi e família acusa de negligência

Danilo de Souza estava internado no Hospital Luzia de Pinho Melo desde novembro; exame para coronavírus foi coletado dois dias antes da alta e resultado foi positivo. Família diz que uma pessoa infectada foi colocada no mesmo quarto; Estado afirma que 'denúncia não procede

 
Um jovem de Suzano, de 22 anos, contraiu coronavírus no período em que ficou internado no Hospital Luzia de Pinho Melo, em Mogi das Cruzes, segundo apontam documentos apresentados pela família dele ao G1. A irmã do rapaz, Leila Cássia de Souza, afirma que um paciente com suspeita de Covid-19 foi colocado no mesmo quarto que ele e que, depois, foi confirmado o diagnóstico. 

Procurada, a Secretaria Estadual de Saúde afirma que "a denúncia não procede. Segundo a secretaria, o paciente que ficou no mesmo quarto "não era suspeito de COVID-19 e não apresentava qualquer critério que indicasse a doença". 

Danilo de Souza, que é cadeirante, fazia um tratamento para osteomielite, uma infecção nos ossos e estava internado no hospital desde novembro de 2019, meses antes de os primeiros casos de coronavírus serem registrados no Brasil. 

No início deste mês, segundo familiares, o quarto em que ele estava recebeu um paciente com suspeita de coronavírus. O caso foi confirmado dias depois e Danilo precisou ser isolado. 

Ele fez um teste para a doença no dia 2 de abril, mas teve alta dois dias depois sem saber o resultado. No documento de alta antecipada pelo risco de contrair Covid-19. Na última quarta-feira (8), de acordo com a irmã dele, Leila Cássia de Souza, o hospital entrou em contato para afirmar que Danilo também estava contaminado. 

Eles acusam a unidade de irresponsabilidade. “Quando você fala que é negligência do hospital, eles não aceitam, falam que não é, mas é negligência do hospital sim. Do jeito que eles fizeram isso com meu irmão, eles fazem com outros pacientes”, declara. 

A Secretaria Estadual de Saúde ainda informou que: "A unidade segue com rigor os critérios definidos pelo Ministério da Saúde para mitigar a proliferação do coronavírus". Na nota enviada ao G1, a secretaria também afirma que: "É importante deixar claro que, desde 20 de março, o Ministério da Saúde declarou que o país está em transmissão comunitária nacional. Nesse sentido, a transmissão do vírus independe do ambiente hospitalar, visto que pessoas mesmo assintomáticas podem estar infectadas. Assim, não é adequado associar a assistência do Sr. Danilo à infecção pelo coronavírus." 

Internação

Danilo é cadeirante há cinco anos e em novembro precisou ser internado. Segundo a irmã dele, a recomendação era de que permanecesse no hospital por seis meses para tratar a doença. 

Com o surgimento do coronavírus, a família afirma que pediu que o irmão recebesse alta, porque temia que ele fosse contaminado pela doença dentro do hospital. Leila diz, no entanto, que teve o pedido recusado e que um médico tentou despreocupá-los. 

“Eu fui, conversei com o médico, falei a nossa preocupação. Ele garantiu que não ia acontecer, que ele não ia ficar com nenhum suspeito, nenhum contaminado. Minha mãe foi, conversou com ele sobre a mesma preocupação e ele garantiu que não ia acontecer”, lembra. 

Sobre isso, a Secretaria Estadual de Saúde disse ao G1 que "não precede a informação de que a família solicitou a descontinuidade do tratamento. O paciente recebeu alta devido à melhora clínica e foi orientado sobre a necessidade de seguir em isolamento domiciliar." 

No início do mês, porém, o jovem telefonou para a irmã avisando que um paciente suspeito de coronavírus, que antes estava no isolamento, seria transferido para o quarto dele enquanto esperava pelo resultado do teste. Pouco tempo depois, Danilo foi isolado, diz a irmã. 

“Quando eu fui para o hospital, a pessoa suspeita já estava no quarto. No outro dia meu irmão avisou ‘Leila, não adianta você vir porque eu estou em isolamento’. A pessoa que estava suspeita foi para o isolamento porque o resultado dele saiu positivo”.

No dia 2 de abril o hospital coletou as amostras de Danilo para testar se ele também havia sido contaminado com a doença. Dois dias depois ele foi liberado sem ter uma resposta. 

Na última quarta-feira (8), recebeu o resultado que a família temia. “Deu positivo. A única coisa que eles me falaram foi o seguinte: mantenha ele isolado dentro do quarto. Ele tem 21 anos, só que é cadeirante. Água tem que dar para ele na cama, comida tem que levar para ele, banho tem que ajudar. Não tem como manter ele isolado totalmente”, lamenta. 

Como está na casa da irmã desde que saiu do hospital, Danilo teve contato com os sobrinhos de 10, 7 e 4 anos, dos quais dois têm doenças pulmonares. Outros parentes também se aproximaram do rapaz e, embora ninguém apresente sintomas, nem mesmo Danilo, a família está revoltada.
“Foi negligência do hospital. Ele [médico] já estava sabendo que isso poderia acontecer”, desabafa Leila.
A irmã de Danilo afirma que ele está bem. Ela conta que o rapaz estava internado na Clínica Médica, onde também fica o setor de isolamento do hospital. Nos quartos onde estão os pacientes com Covid-19, segundo ela, funcionários usam máscaras entre outros equipamentos de proteção. 

Fora desses quartos, médicos, enfermeiros e auxiliares de alimentação e limpeza não usam. Para piorar, ela diz que nem todos os pacientes suspeitos ficam isolados enquanto esperam pelo resultado. “Eles isolam uns quartos. Só que antes do resultado do exame sair, eles misturam com outros pacientes. Quando o resultado sai, coloca no isolamento de novo. Foi dessa forma que funcionou”. 

A denúncia de Leila é semelhante ao que enfermeiros disseram em entrevista ao G1 no mês de março. Preocupados com o coronavírus, os profissionais afirmaram que, embora a unidade tenha um isolamento para casos suspeitos da doença, nem todos os pacientes que chegam com sintomas são separados

Por isso, acabam sendo atendidos nos setores comuns, onde entram em contato com profissionais e outros visitantes desprotegidos. Os funcionários do hospital também disseram que o uso de máscaras apropriadas era restrito ao setor de isolamento. 

Na época, a Secretaria do Estado de Saúde negou e disse que o "Hospital das Clínicas Luzia de Pinho Melo possui estoque de Equipamentos de Proteção Individual (EPI) e vem seguindo todos os protocolos estabelecidos pelo Ministério da Saúde (MS) para prevenir o Covid-19". 

Depois que recebeu o positivo de Danilo, Leila diz que também foi orientada a fazer o teste da doença junto com os filhos, pois eles integram o grupo de risco. Agora ela convive com a preocupação de que outros membros da família, funcionários e pacientes do hospital também estejam contaminados. 

“Até o momento que meu irmão recebeu alta, os auxiliares de enfermagem que estavam cuidando dele estavam trabalhando normalmente. Se meu irmão foi contaminado, provavelmente, algum funcionário também foi. Aí não faz exame. Se esses funcionários estiverem contaminados, contamina mais quantas pessoas?”, aponta a jovem.
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G1

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