Danilo de Souza estava internado no Hospital Luzia de Pinho Melo desde novembro; exame para coronavírus foi coletado dois dias antes da alta e resultado foi positivo. Família diz que uma pessoa infectada foi colocada no mesmo quarto; Estado afirma que 'denúncia não procede
Um jovem de Suzano, de 22 anos, contraiu coronavírus no período em que ficou internado no Hospital Luzia de Pinho Melo, em Mogi das Cruzes, segundo apontam documentos apresentados pela família dele ao G1.
A irmã do rapaz, Leila Cássia de Souza, afirma que um paciente com
suspeita de Covid-19 foi colocado no mesmo quarto que ele e que, depois,
foi confirmado o diagnóstico.
Procurada, a Secretaria Estadual de Saúde afirma que "a denúncia não
procede. Segundo a secretaria, o paciente que ficou no mesmo quarto "não
era suspeito de COVID-19 e não apresentava qualquer critério que
indicasse a doença".
Danilo de Souza, que é cadeirante, fazia um tratamento para
osteomielite, uma infecção nos ossos e estava internado no hospital
desde novembro de 2019, meses antes de os primeiros casos de coronavírus
serem registrados no Brasil.
No início deste mês, segundo familiares, o quarto em que ele estava
recebeu um paciente com suspeita de coronavírus. O caso foi confirmado
dias depois e Danilo precisou ser isolado.
Ele fez um teste para a doença no dia 2 de abril, mas teve alta dois
dias depois sem saber o resultado. No documento de alta antecipada pelo
risco de contrair Covid-19. Na última quarta-feira (8), de acordo com a
irmã dele, Leila Cássia de Souza, o hospital entrou em contato para
afirmar que Danilo também estava contaminado.
Eles acusam a unidade de irresponsabilidade. “Quando você fala que é
negligência do hospital, eles não aceitam, falam que não é, mas é
negligência do hospital sim. Do jeito que eles fizeram isso com meu
irmão, eles fazem com outros pacientes”, declara.
A Secretaria Estadual de Saúde ainda informou que: "A unidade segue com
rigor os critérios definidos pelo Ministério da Saúde para mitigar a
proliferação do coronavírus". Na nota enviada ao G1, a
secretaria também afirma que: "É importante deixar claro que, desde 20
de março, o Ministério da Saúde declarou que o país está em transmissão
comunitária nacional. Nesse sentido, a transmissão do vírus independe do
ambiente hospitalar, visto que pessoas mesmo assintomáticas podem estar
infectadas. Assim, não é adequado associar a assistência do Sr. Danilo à
infecção pelo coronavírus."
Internação
Danilo é cadeirante há cinco anos e em novembro precisou ser internado.
Segundo a irmã dele, a recomendação era de que permanecesse no hospital
por seis meses para tratar a doença.
Com o surgimento do coronavírus, a família afirma que pediu que o irmão
recebesse alta, porque temia que ele fosse contaminado pela doença
dentro do hospital. Leila diz, no entanto, que teve o pedido recusado e
que um médico tentou despreocupá-los.
“Eu fui, conversei com o médico, falei a nossa preocupação. Ele
garantiu que não ia acontecer, que ele não ia ficar com nenhum suspeito,
nenhum contaminado. Minha mãe foi, conversou com ele sobre a mesma
preocupação e ele garantiu que não ia acontecer”, lembra.
Sobre isso, a Secretaria Estadual de Saúde disse ao G1
que "não precede a informação de que a família solicitou a
descontinuidade do tratamento. O paciente recebeu alta devido à melhora
clínica e foi orientado sobre a necessidade de seguir em isolamento
domiciliar."
No início do mês, porém, o jovem telefonou para a irmã avisando que um
paciente suspeito de coronavírus, que antes estava no isolamento, seria
transferido para o quarto dele enquanto esperava pelo resultado do
teste. Pouco tempo depois, Danilo foi isolado, diz a irmã.
“Quando eu fui para o hospital, a pessoa suspeita já estava no quarto.
No outro dia meu irmão avisou ‘Leila, não adianta você vir porque eu
estou em isolamento’. A pessoa que estava suspeita foi para o isolamento
porque o resultado dele saiu positivo”.
No dia 2 de abril o hospital coletou as amostras de Danilo para testar
se ele também havia sido contaminado com a doença. Dois dias depois ele
foi liberado sem ter uma resposta.
Na última quarta-feira (8), recebeu o resultado que a família temia.
“Deu positivo. A única coisa que eles me falaram foi o seguinte:
mantenha ele isolado dentro do quarto. Ele tem 21 anos, só que é
cadeirante. Água tem que dar para ele na cama, comida tem que levar para
ele, banho tem que ajudar. Não tem como manter ele isolado totalmente”,
lamenta.
Como está na casa da irmã desde que saiu do hospital, Danilo teve
contato com os sobrinhos de 10, 7 e 4 anos, dos quais dois têm doenças
pulmonares. Outros parentes também se aproximaram do rapaz e, embora
ninguém apresente sintomas, nem mesmo Danilo, a família está revoltada.
“Foi negligência do hospital. Ele [médico] já estava sabendo que isso poderia acontecer”, desabafa Leila.
A irmã de Danilo afirma que ele está bem. Ela conta que o rapaz estava
internado na Clínica Médica, onde também fica o setor de isolamento do
hospital. Nos quartos onde estão os pacientes com Covid-19, segundo ela,
funcionários usam máscaras entre outros equipamentos de proteção.
Fora desses quartos, médicos, enfermeiros e auxiliares de alimentação e
limpeza não usam. Para piorar, ela diz que nem todos os pacientes
suspeitos ficam isolados enquanto esperam pelo resultado. “Eles isolam
uns quartos. Só que antes do resultado do exame sair, eles misturam com
outros pacientes. Quando o resultado sai, coloca no isolamento de novo.
Foi dessa forma que funcionou”.
A denúncia de Leila é semelhante ao que enfermeiros disseram em entrevista ao G1 no mês de março. Preocupados com o coronavírus, os
profissionais afirmaram que, embora a unidade tenha um isolamento para
casos suspeitos da doença, nem todos os pacientes que chegam com
sintomas são separados.
Por isso, acabam sendo atendidos nos setores comuns, onde entram em
contato com profissionais e outros visitantes desprotegidos. Os
funcionários do hospital também disseram que o uso de máscaras
apropriadas era restrito ao setor de isolamento.
Na época, a Secretaria do Estado de Saúde negou e disse que o "Hospital
das Clínicas Luzia de Pinho Melo possui estoque de Equipamentos de
Proteção Individual (EPI) e vem seguindo todos os protocolos
estabelecidos pelo Ministério da Saúde (MS) para prevenir o Covid-19".
Depois que recebeu o positivo de Danilo, Leila diz que também foi
orientada a fazer o teste da doença junto com os filhos, pois eles
integram o grupo de risco. Agora ela convive com a preocupação de que
outros membros da família, funcionários e pacientes do hospital também
estejam contaminados.
“Até o momento que meu irmão recebeu alta, os auxiliares de enfermagem
que estavam cuidando dele estavam trabalhando normalmente. Se meu irmão
foi contaminado, provavelmente, algum funcionário também foi. Aí não faz
exame. Se esses funcionários estiverem contaminados, contamina mais
quantas pessoas?”, aponta a jovem.
G1
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