No Cais Amendoeiras, por exemplo, não há profissionais da pediatria, Raios-X e um laboratório para atender a população na emergência
Usuários reclamam de problemas estruturais e falhas no atendimento em unidades de saúde |
A saúde em Goiânia precisa urgente da atenção do poder público municipal, pelo menos é o que fica evidente nos relatos de usuários, funcionários e profissionais da área durante a produção desta reportagem, que entrou em consultórios do Cais Amendoeiras e Cais Chácara do Governador, por exemplo. Falta limpeza, medicamentos e até mateeriais para curativos.
No Cais Amendoeiras, a situação é crítica. Foram vistos papeis ensanguentados jogados no chão, ao lado de pacientes que recebem medicação. Também foram vistas luvas cirúrgicas mal armazenadas, ampolas de remédios já utilizados, jogados por cima da mesa. Há no Cais Amendieoras uma pia, aparentemente para lavar as mãos, cheia de lodo. Na maca, lençóis manchados. No Cais Chácara do Governador encontramos até banco sem o assento para pacientes.
De acordo com um líder da comunidade, local onde está instalado o Cais Amendoeiras, na unidade de saúde não há profissionais da pediatria, Raios-X e sequer laboratório para atender a população na emergência. O líder pede que a Secretaria Municipal de Saúde de Goiânia tome atitudes urgentes para tratar com qualidade os moradores da região.
Ainda nos relatos do lider comunitário, a região é composta por 47 bairros, sem contar as pessoas de outras cidades que frequentam a unidade de saúde. “Estamos indo consultar em Senador Canedo, porque a saúde de lá está melhor que a daqui”. O líder comunitário informou que o Mutirão da Prefeitura foi no local e fez um “batom” na unidade há mais de um ano, mas que sequer médico pediatra tem no local. “Ginecologista, não tem. Dentista, não tem. Médicos de ambulatório não têm, só clinico geral”, finaliza.
A supervisora de atendimento Mylena Clemente está com sua avó, que sofre de câncer de pele e pneumonia na unidade e aguardava por uma vaga na Unidade de Tratamento Intensivo (UTI).
Márcia Clemente atualmente mora em Portugal e veio para o Brasil ajudar sua mãe, a idosa de 80 anos. De acordo com a filha da paciente que sofre de câncer e várias complicações, no momento em que a família chamou o Serviço de Atendimento Móvel (SAMU), a equipe médica disse que o caso não se tratava de atendimento médico, mas, na verdade, a idosa precisava de cuidados familiares, como qualquer outro idoso necessita de atenção da família.
De acordo com o relato da filha, comparando a saúde que é acostumada a receber no outro país, ela disse que a saúde de Goiânia está péssima e que a família precisou se humilhar à equipe para levar a idosa para o hospital, sendo que, nos relatos da filha da paciente, um membro da equipe telefonou do local para alguém que apresentava-se ser o responsável pela equipe presente no local de maneira sarcástica com a situação, sorrindo ao comentar o caso da paciente, contou a filha da idosa.
"O sentimento é de tristeza e indignação. Porque você paga seus impostos e infelizmente temos esse embutes [pedras semipreciosas] que nos roubam descaradamente e nos fazem humilhar para ter um atendimento indigno, porque é indigno", protesta a filha da paciente.
Mylena reclamou sobre falta de remédios e equipamentos básicos na unidade, até mesmo antibióticos e Sonda nasogástrica, o que a fez gastar, em um dia, uma média de R$ 300. "É muito triste a gente depender de um sistema que a pessoa, igual a minha avó, que tem 80 anos, fez contribuição e ela não ter sequer a dignidade de ter um atendimento", reclama a supervisora de atendimento.
A manicure Kelly Freitas levou a filha diagnosticada com pré-obesidade infantil no Cais Amendoeiras para exames de rotina. De acordo com Kelly, é difícil conseguir agendar uma consulta pelo 0800 e mãe conta que precisou ligar mais de cinco vezes para conseguir agendar a consulta para a filha. “O sistema é um pouco falho, e outra coisa é a questão dos horários. No 0800 você chega lá e a consulta é duas horas. Chega aqui e o médico chega três, então está um pouco bagunçado”
Para a manicure, quando ela marca as consultas pelo guichê da unidade, é mais fácil. A filha da Kelly já está em sua segunda consulta e a mãe aguardava ver com o pediatra se será necessário voltar. Sobre a medicação da filha, Kelly diz que todas as vezes que levou a filha para se consultar teve de comprar as medicações. “A gente gasta em média R$ 100 cada vez, porque às vezes é antibiótico, porque remédio eu nunca peguei aqui [na unidade]. Toda vez que ela consultou eu tive que comprar”, afirma a manicure.
Por e-mail a equipe de reportagem conversou com a Secretaria Municipal de Saúde de Goiânia (SMS). No local, tentamos conversar com a responsável pelo Cais, que não quis gravar entrevista quando foi informada sobre as fotos da denúncia e disse ter sido orientada pela assessoria de comunicação a não se pronunciar formalmente.
Em nota, a assessoria de comunicação da SMS de Goiânia se manifestou de maneira geral. “A Secretaria Municipal de Saúde de Goiânia informa que acompanha todas as visitas feitas pelo Ministério Público no Cais Amendoeiras e que está se reunindo com o promotor Vinícius Jacarandá para avaliar e definir ações de adequação no que for necessário“, encerra a nota.
Profissionais ficam reféns do sistema precário
Uma médica, que atente em uma unidade Cais de Goiânia e que não quis se identificar, contou que é frustrante para o profissional da saúde fazer o atendimento ao público e vê-lo voltar por falta de condições de comprar o medicamento, já que muitas vezes falta o produto nesses órgãos públicos.
A médica atende, em média, 70 pacientes e diz que é uma rotina difícil. Sobre a falta de medicamentos, a profissional se posiciona. “Para mim é difícil, porque você faz o atendimento, mas sozinha eu não faço nada. Aqui é uma área carente. A maioria das pessoas que vem aqui necessitam de ajuda, de medicamento, e quando falta é sinal que eles não vão conseguir fazer o tratamento por falta da medicação. Então, é meio que o meu serviço é em vão” desabafa a médica.
Aparelho de raios-X
Na recepção do Cais Amendoeiras, uma funcionária abordou nossa reportagem e perguntou se estávamos no local para levar à unidade o aparelho de raios-X e o pediatra para a emergência, e disse que a população precisa dessa atenção imediatamente. Procurada sobre a falta de medicamentos para os pacientes, a farmácia do local disse não dar respostas para jornalistas sobre quais insumos faltam na unidade e indicou procurarmos a assessoria de comunicação da Secretaria Municipal de Saúde do município.
Na porta do laboratório, um informativo “A partir do dia 01/06/2018 não haverá mais atendimento do laboratório São Marcos no Cais Parque Amendoeiras. Resultados de exames realizados através de chequinhos devem ser pegos no endereço da Rua 05 esquina com a Rua 09 – Centro, Goiânia”, o que é complicado para os usuários do Cais Amendoeiras.
Equipe
Em relação ao atendimento médico, Myllena, a personagem da reportagem a cima, elogiou a equipe médica e disse que a equipe, desde a chegada de sua avó na unidade, se prontificou a fazer o possível até mesmo para a transferência para a UTI, mandando, inclusive, relatório para o Ministério Público, informando o órgão sobre o estado de saúde da idosa e a necessidade da vaga.
Uma senhora que não se identificou disse, na porta do Cais Chácara do Governador que ela foi atendida em menos de dez minutos e elogiou os profissionais do local. Satisfeita com o atendimento, ela informou ser uma situação atípica e que se sentia feliz por ter sido rápido o atendimento. Outros usuários dentro da unidade confirmaram a fala da senhora, como por exemplo um casal que aguardava atendimento e que viu a fila diminuir rapidamente.
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