sexta-feira, 5 de outubro de 2018

Polícia investiga quatro mortes de bebês em partos na Maternidade de Caieiras, SP

Equipes médicas são investigadas por suspeita de crimes de lesão corporal na unidade do Governo do Estado. Delegada ouviu nesta quarta-feira vítima revelada em reportagem do G1.
 
Mães acusam hospital de Caieiras (SP) de negligência em morte de bebês
 
A polícia civil de São Paulo investiga quatro mortes de bebês durante partos na Maternidade Estadual de Caieiras, na Grande São Paulo. A delegada que apura os casos ouviu nesta quarta-feira (3) a mulher que contou ao G1 ter perdido o filho nas mesmas circunstâncias que as demais, com a equipe médica “forçando parto normal”.
 
“No último ano foram instaurados quatro inquéritos policiais devido a boletins de ocorrência que indicam morte suspeita dos bebês na unidade. Não sabíamos do caso de Verônica, então ela foi notificada a comparecer a delegacia”, disse explicou Virgina Sellmer, delegada titular da Delegacia Central de Caieiras.
 
A delegada havia afirmado à GloboNews nesta quarta-feira que se travam de cinco casos. Porém, a Secretaria de Segurança Pública enviou nota confirmando que "a delegacia investiga quatro mortes de recém-nascidos ocorridas desde dezembro de 2017 em uma maternidade de Caieiras", incluindo o caso de Verônica.
 
Há um mês, a dona de casa Verônica Silva Alves, de 35 anos, disse ter buscado o hospital para dar à luz após uma gestação tranquila e planejada. No entanto, ela relatou ter sido “pressionada”, “judiada” e “ameaçada”, sendo chamada de “preguiçosa” por supostamente não fazer força suficiente para que o bebê nascesse por parto natural, mesmo o raio-x apontando que o bebê estava sentado.
 
Segundo ela, a criança nasceu sem vida e com muitos hematomas após uma madrugada de contrações. Além disso, seu útero foi removido. Em nota ao G1, a Maternidade de Caieiras, por meio da Secretaria Estadual da Saúde, negou erro no procedimento.
 
Nesta quarta-feira, Verônica prestou depoimento a polícia e um inquérito foi instaurado para investigar se as equipes médicas da unidade cometeram crime de lesão corporal culposa por negligência, imprudência ou imperícia, além de violência obstétrica, de acordo com a delegada.
 
“Além de chamar Verônica até aqui, solicitamos a ficha clínica ao hospital para dar agilidade na apuração. Outros parentes que acompanharam o atendimento no dia do parto podem ser ouvidos”, adiantou. Segundo a SSP, funcionários do hospital serão ouvidos nos próximos dias.
 

Outras investigações


De acordo com a polícia, um dos casos que já estão sendo investigados é o de Lucidema de Farias Silva, que disse à reportagem ter tido a mesma experiência de “parto forçado” seguido de morte do bebê na unidade do Governo do Estado de São Paulo.
 
Usaram o fórceps por uma hora e meia, com duas enfermeiras abrindo minhas pernas e a médica em cima de mim, empurrando o bebê”, contou Lucidema, acrescentando que, ao desistir do instrumento, um médico só conseguiu retirar uma das espátulas. De acordo com ela, após finalmente decidirem pela cesariana, o bebê nasceu, mas faleceu horas depois.
 
Em nota, a Maternidade Estadual de Caieiras disse que, assim como no caso de Verônica, Lucidema foi “atendida conforme os protocolos clínicos” e negou que o fórceps tenha sido usado por mais de uma hora.
De acordo com a delegada, o inquérito para investigar o caso de Lucidema teve início dias depois do parto, em dezembro de 2017. Muitas pessoas foram ouvidas, entre testemunhas e integrantes da equipe médica, mas ainda faltam novos depoimentos.
 
“Pedimos prazo maior à Justiça para investigação do caso, que ainda está em andamento. As equipes da maternidade são volantes, atuam em diversos hospitais, então para ouvir todos que atenderam Lucidema demanda algum esforço”, explicou Virginia Sellmer.
 
A delegada disse ainda que os casos investigados apontam para a mesma dinâmica de atendimento e o mesmo desfecho, a morte dos bebês, mas as equipes são compostas por profissionais diferentes.
 
“Investigamos se houve a prática dos mesmos crimes na maternidade, mas com equipes diferentes. Em princípio a direção do hospital diz que sempre que há morte no hospital, uma comissão interna verifica se o procedimento adotado foi adequado. Vamos ver. Dependemos de depoimentos e laudos”, concluiu a delegada.
 

O que diz a Maternidade

 

O diretor da Maternidade de Caieiras disse que o número de partos que acontece no hospital é muito grande – 2.500 partos por ano, e que o número de mortes em partos é muito pequeno, sem comentar as denúncias das mulheres, que não se referem apenas a mortes de bebês, mas a mortes supostamente provocadas por atendimento equivocado da equipe médica.
“Nossa maternidade atende em média 17 mil pacientes por ano. São realizados nessa unidade aproximadamente 2.500 partos nesse período e, infelizmente, alguns óbitos fetais acontecem por questões que não envolvem assistência hospital", defendeu Glauco Cyriaco, diretor da unidade.
 
"Porém, todos os casos que envolvem óbitos dentro dos nossos serviços são investigados. Mantemos uma comissão de óbito, e qualquer ponto a ser esclarecido passa por outras comissões até a de ética médica, que pode nesse caso indicar se houve falha ou negligência", completou.
 

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