O prontuário médico do bebê Miguel Oliveira de Lima, de apenas sete dias de vida, que morreu no Hospital Centenário, em São Leopoldo, no último domingo (14), indica que uma técnica em enfermagem administrou de maneira errada 35ml de leite na veia do recém-nascido, de acordo com o Conselho Regional de Medicina do Rio Grande do Sul (Cremers).
Conforme o delegado do Cremers e médico do hospital, Carlos Antônio Arpini, o material deveria ter sido administrado por sonda. Segundo ele, uma outra profissional da equipe de enfermagem identificou o erro e avisou a médica. No entanto, havia passado 1h20min do ocorrido. O recém-nascido, que estava na UTI Neonatal, morreu dois dias depois devido às complicações causadas pelo erro. O prontuário foi descrito por duas médicas que estavam de plantão no momento do incidente. Uma das médicas, inclusive, foi a responsável por comunicar o fato aos familiares da criança. O Conselho de Medicina descarta erro médico.
— O Cremers vai abrir uma sindicância, mesmo que tenhamos identificado que não foi erro médico. Vamos interagir com a Polícia Civil e com o Ministério Público. O Conselho de Medicina é contra o afastamento dos médicos, já que eles não participaram do ato e por serem informados 1h20min depois. Mesmo assim, eles interviram e não mediram esforços para tentar salvar a vida da criança — disse.
O Conselho informou ainda que vai oficiar o Hospital e o Ministério Público mostrando que o processo seletivo para contratação de servidores na unidade hospitalar não atende a critérios básicos. Segundo Arpini, a técnica que cometeu o erro trabalhava no hospital há apenas 10 dias. Para ele, ainda era muito cedo para ela estar trabalhando em uma unidade considerada de risco.
— É preciso ter em mente que é um pessoal que está começando. Eles devem ser alocados em unidades menos críticas, não em ambientes de alta complexidade. O hospital faz um processo apenas por currículo para esses profissionais contratados como CLT (Consolidação das Leis do Trabalho). Nós defendemos que haja um processo com provas e com uma dificuldade maior aos candidatos. Temos que selecionar melhor os profissionais que vem trabalhar em um ambiente tão qualificado — destacou.
Sobre o prontuário médico apontar que houve erro de uma técnica em enfermagem, o Conselho Regional de Enfermagem do Rio Grande do Sul (Coren-RS) disse estão sendo feitas averiguações sobre as circunstâncias da morte e do possível envolvimento de profissionais da Enfermagem.
A Polícia Civil instaurou inquérito e já ouviu os familiares do recém-nascido. Nos próximos dias, irão prestar depoimentos os profissionais e representantes do hospital. A Polícia aguarda os laudos da perícia para depois concluir o inquérito e apontar os responsáveis.
O hospital também abriu sindicância. A equipe de profissionais que trabalhava na UTI Neonatal quando ocorreu o incidente foi afastada. Seus nomes não foram divulgados.
Na manhã desta sexta-feira (19), a direção do Hospital Centenário se manifestou por nota: "A direção do Hospital não tem conhecimento sobre a ação que o representante do Cremers anunciou em coletiva ontem (quinta-feira). Ainda não fomos notificados. A direção reitera que está aberta ao diálogo e ao acompanhamento dos Conselhos das categorias, às ações que já está executando em relação a este episódio".
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