Ricardo e a mulher, Marilu, que morreu no Hospital dos Estivadores, em Santos, SP |
A família da comerciante
Marilu Aparecida de Moraes, de 45 anos, acusa de negligência uma médica do
Complexo Hospitalar dos Estivadores, em Santos, no litoral de São Paulo, por
tê-la 'assistido' morrer, em meio a uma hemorragia, durante um parto. O bebê também
não resistiu. A prefeitura pediu explicações ao administrador da unidade, e a
Polícia Civil também investiga o caso.
A mulher foi levada pelo
marido, o também comerciante Ricardo Robson Hilsdorf, de 47 anos, na madrugada
de 9 de outubro, à unidade municipal que é administrada pelo Instituto Social
Hospital Alemão Oswaldo Cruz. Prestes a completar nove meses de gestação, ela
relatou que estava com contrações e que sentia fortes dores.
"Eu disse à enfermeira
que nos recebeu que minha mulher tinha histórico delicado, e que teve
descolamento de placenta no parto do nosso último filho. Ela não tinha
condições de ter um parto normal, pela idade e pela situação, mas a médica que
nos atendeu mandou que ela esperasse em uma maca", lembra Ricardo.
A hemorragia, conta o
comerciante, começou depois que ela foi 'brutalmente' tocada pela médica
plantonista. "Eu fiquei impressionado com toda a situação. Estava na sala
e vi a 'evolução' da hemorragia. Começou pequena, aumentou e depois minha
mulher começou a jorrar sangue, e o lençol ficou encharcado".
Assustado com a cena, ele
procurou a médica e pediu que ela examinasse novamente Marilu. "Foram três
vezes que a chamei, todas com um intervalo de tempo. Em todas, a doutora se
recusou a ir lá vê-la, e insistiu em dizer que a situação era normal. Na
última, ela ainda gritou comigo, e uma enfermeira veio ajudar".
"Minha mulher só foi, de
fato, acudida quando houve a troca de plantão, depois de mais de uma hora. A
médica que entrou me olhou impressionada, e me disse que as dores e o
sangramento 'não eram normais', que a situação era grave. Marilu foi levada
para a UTI [Unidade de Terapia Intensiva], mas não tinha mais tempo".
O bebê, que se chamaria Léo,
morreu logo após o nascimento, que ocorreria naquela manhã, ainda na UTI. A
comerciante resistiu por mais algumas horas, em estado crítico e com hemorragia
interna sem controle, segundo o que o marido apurou. "Eu a levei viva,
andando, e saí de lá com dois caixões. Eu não acreditei".
Para o advogado que representa
a família, Nilton Pires, há indícios de erro médico. "A plantonista, com
pressa para ir embora ou por qualquer outro motivo não claro, errou o
diagnóstico e não prestou o atendimento necessário. Enquanto ela ignorou a
situação, a colega dela, que a rendeu, se assustou com a gravidade".
Hospital dos Estivadores é administrado pelo Instituto Social Hospital Alemão Oswaldo Cruz |
Pires ainda rechaça o documento
do hospital onde consta que o bebê nasceu morto. "Para registro, eles
disseram que o Léo era natimorto. Foi uma mentira, constatada pelo Serviço de
Verificação de Óbito [SVO], que constatou que ele morreu por asfixia. Os erros
são sucessivos", afirma o advogado da família.
A Secretaria Municipal de
Saúde de Santos, por meio de nota, informou que estava ciente da situação, e
que cobrou explicações à empresa. A administração ainda afirmou que
"exigiu do Instituto Social Hospital Alemão Oswaldo Cruz a apuração
contundente do caso e de eventuais responsabilidades".
O Instituto Social Hospital
Alemão Oswaldo Cruz se recusou a informar ao G1 detalhes sobre eventual
apuração do caso, ao alegar "sigilo médico". A organização também não
informou se a médica foi afastada do plantão, mas afirmou que segue "as
melhores práticas na assistência ao parto" no Hospital dos Estivadores.
"A médica, que deveria
cumprir o juramento, mesmo ao fim de um plantão, assistiu, ficou vendo a minha
mulher morrer. Se ela tivesse agido, e não ignorado, eu estaria aqui com o meu
filho e minha mulher. Eu decidi procurar a imprensa para alertar: para que
nenhuma mãe, marido ou filho passe pelo o que eu passei", desabafou
Ricardo.
G1
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