Parentes da paciente, de 76 anos, se queixam da falta de atendimento apropriado e medicamentos, além de demora na marcação de exames
O atendimento médico no Hospital Regional do Gama (HRG) “beira a desumanidade”. É assim que a família de uma idosa classifica o tratamento recebido por ela na unidade. Uma parente contou ao Metrópoles que Maria Salete Ferreira de Medeiros, 76 anos, sofre de graves doenças vasculares nas pernas. A paciente, inclusive, teve membros amputados por causa da enfermidade, há um mês, mas, desde então, não tem recebido atendimento apropriado, segundo a familiar.
“Desde o dia 5 deste mês, quando foi internada no pronto-socorro de cirurgia e ortopedia do HRG, ela recebeu visita médica apenas três vezes. A última, no dia 12. Nesse período, ficou cinco dias sem tomar medicação, apenas soro na veia”, reclamou a funcionária pública Cirla Chagas, 34, neta de Maria Salete e principal acompanhante da avó.
Ainda segundo a mulher, a idosa sofre de hipertensão e diabetes e, por falta de remédios, teve o quadro de saúde agravado. Além disso, a paciente tem circulação somente até a virilha em uma das pernas. Na outra, o sangue não passa dos joelhos.
Por causa do mau atendimento no HRG, Maria Salete precisa passar por nova amputação, do pé esquerdo até a coxa. A cirurgia deve ocorrer até esta sexta-feira (28) somente porque a família denunciou o caso ao Ministério Público do DF e Territórios (MPDFT) e à Defensoria Pública do DF – o órgão notificou a Secretaria de Saúde local. A idosa, então, foi transferida do HRG para o Instituto Hospital de Base (IHB) e passou por arteriografia, exame primordial para marcação da cirurgia.
O médico disse que o quadro de saúde dela chegou a esse ponto por causa da demora no atendimento. Nós, como familiares, sentimos revolta e indignação. Pois pagamos nossos impostos e, quando precisamos do serviço, não o temos. Agora, ela vai passar por uma cirurgia que a põe em risco de morte, mas é necessária. A necrose está avançada"
Cirla contou também que a avó mal consegue se alimentar, devido a fortes dores. A causa desse sintoma seria a falta de remédios. “Ela voltou a tomar medicação ontem [terça-feira], mas não para evitar as dores. Sente, principalmente, nas pernas”, explicou. A agonia de Maria Salete afeta as duas pernas: a esquerda, inclusive, já não tem o dedão e parte do calcanhar, amputados por causa de necrose – morte de tecidos.
O drama assustou ainda mais a neta depois que ela, tomada por desespero, questionou diretores do HRG sobre o tratamento dado à avó. Depois disso, Cirla descobriu que a equipe médica não havia pedido exames de arteriografia e cateterismo das pernas, primordiais para que a idosa passe por cirurgia.
“Do jeito que minha avó está, tenho medo de que, quando chegue a data da cirurgia, ela não esteja em condições”, lamentou. Cirla relatou que a avó tem perdido peso desde a internação. Nesse período, a neta tenta encontrar o médico responsável por pedir os exames. Mas não tem logrado êxito.
Por que não a transferiram para outro lugar antes? É revoltante e desumano o que fazem com o paciente no HRG. A chefia do hospital me disse que eu teria de conversar com o médico sobre os exames, pois é ele quem marca. Mas é um fantasma, não aparece no hospital"
O que diz a SES
A diretoria do Hospital Regional do Gama informou, em nota, que Maria Salete recebeu, na unidade, atendimento adequado ao seu quadro clínico.
“O HRG não dispõe de enfermaria de cirurgia vascular, os pacientes admitidos no pronto-socorro adulto ficam sob a responsabilidade da equipe médica de cirurgia geral ou clínica médica, que solicitou a internação para avaliação do caso clínico apresentado”, disse.
A pasta afirmou também que o “serviço da [área] vascular acompanha a assistência, respondendo aos pareceres e indicando as condutas a serem aplicadas”. O paciente deve ser prescrito, diariamente, pela equipe que solicitou sua internação, segundo a SES, o que não tem ocorrido, de acordo com as queixas da família da idosa.
“A direção do hospital apura os fatos que levaram a paciente a ficar desassistida e solicitou que a senhora fosse evoluída imediatamente. Desde ontem [terça-feira], ela está estável e sendo assistida corretamente pela equipe médica. O seu exame já está regulado”, informou a secretaria.
Por fim, o órgão disse que o HRG tem cinco cirurgiões vasculares: dois estão de férias, uma está com restrição médica devido a gestação e os dois restantes ficam responsáveis pelo pareceres e atendimento ambulatorial aos pacientes com indicativo de trombose.
Em junho, o Metrópoles denunciou a crise vivenciada pelos pacientes no HRG. Na ocasião, havia quem aguardava por mais de dois meses na fila de espera por cirurgias para correção de fraturas. Outros nem sequer tinham previsão de quando seriam operados.
Ao todo, 58 pacientes estavam amontoados em 37 leitos improvisados na ala ortopédica da unidade, separados por divisórias metálicas e tapados por tecido TNT.
Além de mal-acomodados, eles não tinham a mínima privacidade. Dependiam uns dos outros para executar tarefas básicas, como tomar banho, trocar de roupa e cuidar de sua higiene pessoal, além de necessidades fisiológicas.
Metrópoles
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