sexta-feira, 28 de setembro de 2018

Dois médicos e seis servidoras estão entre os denunciados pelo MP no caso das operações de catarata



Além do secretário de Estado de Saúde, Luiz Soares, e da empresa 20/20 Serviços Médicos, dois médicos e seis servidoras também foram denunciados pelo Ministério Público por improbidade administrativa, por causa de irregularidades nas cirurgias de catarata que teriam sido realizadas durante a Caravana da Transformação, do Governo do Estado. Estes oito foram responsáveis por contratos administrativos, relacionados à realização de várias edições da Caravana.

A denuncia foi formulada após análise de dados provenientes da Operação Catarata, desencadeada no dia 6 de setembro. Na ocasião, a sede da Secretaria de Estado de Saúde foi alvo de buscas, assim como a empresa responsável pelos procedimentos. No  total, foram pagos pouco mais de R$ 42  milhões pelo Estado à empresa.

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O MP apurava supostas fraudes ocorridas nas cirurgias oftalmológicas da Caravana da Transformação. A ação veio à tona após denúncias do Conselho Estadual de Saúde apontando o pagamento de 14 mil procedimentos não registrados perante o Sistema Nacional de Regulação (Sisreg). 

O relatório do Conselho que embasou a investigação aponta ainda que grande diferença, em alguns casos, entre a real demanda de cirurgias e a quantidade declarada pela empresa. Na gestão de Pedro Taques (PSDB) foram realizadas 14 edições da Caravana.

Consta na denúncia que a médica Dilza Antônia da Costa, profissional técnica de nível superior da Secretaria de Estado de Saúde (SES), atuava no gabinete da Secretaria adjunta de Atenção à Saúde e também da Coordenadoria de Transplante por outro vínculo efetivo. Ela atuou como fiscal dos contratos 037/2016/SES-MT e 049/2017/SES-MT.

Além dela um outro médico também foi denunciado. Aurélio Abdias Sampaio Ferreira, servidor da SES efetivo na carreira de profissional técnica de nível superior da saúde e também coordenador de regulação, foi fiscal dos contratos 037/2016/SES-MT e 049/2017/SES-MT.

Também foram denunciadas seis servidoras da SES, sendo elas:

- Simone Balena de Brito, ocupante do cargo em comissão de Assessora Especial I, lotada no Gabinete de Assuntos Estratégicos do Governo do Estado.

- Juliana Almeida Silva Fernandes, lotada na Coordenadoria de Vigilância Sanitária, Superintendência de Vigilância em Saúde, e atuou como fiscal do contrato 037/2016/SES-MT;

- Sandra Regina Altoé, lotada na Auditoria Geral Sistema Único de Saúde, e atuou na qualidade de fiscal do contrato 037/2016/SES-MT;

- Selma Aparecida de Carvalho, ocupante do cargo em comissão de superintendente de Gestão e Acompanhamento Serviços Hospitalares, e atuou na qualidade de fiscal dos contratos 037/2016/SES-MT e 049/2017/SES-MT;

- Sônia Alves Pio, lotada na Gerência de Planejamento e Programação de Ações e Serviços de Saúde, e atuou na qualidade de fiscal do contrato 049/2017/SES-MT;

- Kelcia Cristina Rodrigues Ramos, lotada na secretaria de estado de saúde- ses- mt, na Coordenadoria de Acompanhamento de Execução Contábil e Financeira, atuando na qualidade de fiscal do contrato 049/2017/SES-MT.

O secretário do Gabinete do Governo, Domingos Sávio, em entrevista passada afirmou que houve um equívoco com relação às acusações de que o Governo do Estado teria pago por cirurgias de catarata que não foram realizadas durante a Caravana da Transformação.

Ele afirmou que algumas cirurgias de fato não foram realizadas, mas na realidade o que teria sido pago foram apenas as consultas e os exames feitos com os pacientes que acabaram desistindo do procedimento. Sávio disse que é muito comum um paciente desistir da cirurgia.

Empresa nega

A empresa 20/20 Serviços Médicos S/S contesta, por meio de nota pública, as denúncias sobre supostas irregularidades nos procedimentos de oftalmologia na Caravana da Transformação do Governo do Estado de Mato Grosso. A empresa nega qualquer pagamento indevido por cirurgias não realizadas e afirma que todas as etapas dos serviços foram registradas, auditadas e fiscalizadas pela Secretaria de Saúde e fiscais do contrato. Confira a nota, na íntegra:

ESCLARECIMENTOS – OPERAÇÃO CATARATA

A empresa 20/20 Serviços Médicos S/S, responsável pelos procedimentos de oftalmologia na Caravana da Transformação, vem a público restabelecer a verdade dos fatos.

- Não houve qualquer pagamento por procedimentos cirúrgicos não realizados. No caso dos nove pacientes que afirmam corretamente não terem passado pela cirurgia de catarata, ou terem realizado a cirurgia em somente um dos olhos, foi autorizada apenas a cobrança das consultas, exames e da cirurgia do olho efetivamente operado, conforme previsão contratual. A prova desta afirmativa está nas planilhas e notas fiscais que explicitam cada procedimento e identificam cada paciente.

- Todos os serviços foram planilhados, registrados e fiscalizados em todas as etapas e passaram por vários controles de fiscalização, do Escritório Regional de Saúde (auditores e autorizadores contratados pelo Estado), Secretaria de Saúde (fiscalizadores designados por Diário Oficial) e Vigilância Sanitária.

- No âmbito da fiscalização a cargo da Secretaria de Saúde, a empresa afirma e prova através de farta documentação, que todos os procedimentos foram controlados e auditados pelo Executivo, tanto na certificação da produção (fluxo operacional), quanto na fixação dos valores cobrados (fluxo financeiro).

- A fiscalização começava no próprio local dos procedimentos, mediante a conferência dos serviços pelos servidores públicos lotados na SES e ERS, seguindo-se a autorização prévia dada por médicos conferentes/autorizadores do Estado. Após duas etapas de planilhamento em sistema, pela empresa e pelos servidores, toda a documentação era novamente auditada pelos Fiscais do contrato (designados por Diário Oficial).

- Tanto a empresa quanto a Secretaria de Saúde sempre usaram sistema informatizado para controle dos dados quantitativos, qualitativos e financeiros, sendo farta a documentação médica que valida os dados lançados em sistema. Qualquer outro controle eventualmente utilizado pelo Estado, como o SISREG e o DATASUS, são de uso exclusivo do ente público, não possuindo a empresa gerência sobre sua utilização.

- Sob o âmbito da legislação sanitária, os serviços obedeceram às normas vigentes, com prévia aprovação da Vigilância Sanitária Estadual e Municipal e sob fiscalização contínua (“in loco”).

- Destaca-se que houve diversos casos de pacientes que necessitaram de intervenções e procedimentos não cobertos pelo credenciamento, mas que mediante o compromisso ético dos profissionais da 20/20 Serviços Médicos, receberam os serviços necessários à solução e estabilização do quadro.

- A empresa sempre cumpriu com todas as suas obrigações contratuais, utilizando a melhor tecnologia e entregando um serviço médico oftalmológico de excelência, com média comprovada de intercorrência muito abaixo dos índices tolerados pela Organização Mundial de Saúde.

- A empresa alerta ainda que a manutenção da decisão judicial de suspensão do contrato, bem como o bloqueio de seus bens e ativos financeiros, prejudicará cerca de 150 pacientes/mês, em situação de acompanhamento médico e intercorrência pós-operatória. Estes serviços vinham sendo prestados gratuitamente pela 20/20 Serviços Médicos S.S em sua unidade fixa/Cuiabá, sem qualquer oneração aos cofres públicos.
Todos os documentos que comprovam estas informações foram entregues às autoridades e a empresa permanece à inteira disposição para colaborar com as investigações, de modo a confirmar a regularidade e a seriedade do trabalho realizado.

Atenciosamente,
20/20 Serviços Médicos S/S.

Leia nota do Governo do Estado:

NOTA

O Governo do Estado de Mato Grosso informa que não recebeu qualquer notificação sobre nova ação do Ministério Público Estadual contra o programa Caravana da Transformação.

O Governo do Estado reafirma a idoneidade no processo de escolha, contratação e seleção da empresa 20/20 Serviços Médicos para a execução das consultas e cirurgias oftalmológicas realizadas durante a Caravana da Transformação. Reafirma também a lisura em todo processo de auditoria, fiscalização e pagamento dos referidos serviços, conforme comprovado em ação anterior movida também pelo MPE.

Na ocasião, o Estado rebateu as acusações e comprovou que os dados utilizados na ação eram equivocados. Naquela mesma ação, a Justiça autorizou a continuidade dos atendimentos de pós-operatório para pacientes da Caravana, que haviam sido suspensos.

As 14 edições da Caravana foram auditadas por uma equipe de técnicos especializados e fiscais de contrato, formada por servidores concursados de carreira, com conduta ilibada, capacidade técnica e sem nenhuma mácula funcional.

O Governo do Estado ressalta que está à disposição do Ministério Público e dos demais órgãos de controle para prestar quaisquer esclarecimentos sobre o programa Caravana da Transformação, que em 14 edições realizou mais de 66 mil cirurgias oftalmológicas, retirando da escuridão cidadãos mato-grossenses que anteriormente sequer eram enxergados pelo Estado.



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