segunda-feira, 24 de setembro de 2018

Negligência impede doação de órgãos

Atraso na liberação de exame que confirmasse a morte de homem não permitiu a doação de órgãos

Jucelia de Souza Alves Andrade, irmã do Juscelino, denuncia descaso de hospital (Foto: Divulgação pessoal)

A família do Juscelino Costa Alves, morto no Hospital de Urgências de Goiânia (Hugo) no dia 16 de setembro, denunciou com exclusividade para a equipe de reportagem do O Hoje o atraso da unidade de saúde em emitir o exame qu confirmasse a morte cerebral do homem. Portanto, não houve a probabilidade em doar os órgãos do paciente. A vítima, de 29 anos, sofreu um acidente de moto no início de setembro e teve um trauma na cabeça.

“Meu irmão era doador e em homenagem a ele decidimos fazer sua vontade, pois saberíamos que ele ficaria contente, além de contribuir na saúde da vida de outra pessoa”, salienta Jucelia de Souza Alves Andrade, irmã do Juscelino.

A moça explicou que o hospital não realizou os procedimentos para a doação dos órgãos. Ela disse que, devido, a demora da unidade de saúde em emitir o exame da morte, não foi possível realizar o preparo do corpo na clínica de preparação. “A clínica nos explicou que ele chegou há alguns dias morto e por isso não haveria a possibilidade de realizar qualquer procedimento de velório”, ponderou. A reportagem entrou em contato com a clínica e ela confirmou a informação.

Jucelia cobra da unidade de saúde explicações a respeito da morte do irmão. “Quando ele chegou ao hospital, a equipe médica alegou que não haveria a possibilidade de realizar uma intervenção cirúrgica, devido o estado bastante debilitado e por isso ele não suportaria”, disse. A família destaca que entrará com uma ação judicial contra o Hugo para esclarecer o caso e punir os responsáveis. O corpo foi enterrado na manhã desta terça-feira (18) em Urutaí, a aproximadamente 150 quilômetros de Goiânia.

Resposta

Em nota, o Hugo informou que concluiu, no último domingo (16), por meio de exames complementares, o protocolo que confirmasse a morte encefálica do paciente Juscelino Costa Alves. Em relação à doação dos órgãos, a unidade de saúde explicou que “com a recente mudança dos critérios de diagnósticos de morte encefálica, houve a necessidade de adequação dos serviços para a realização de exames complementares”. “O hospital lamenta os transtornos causados pela alteração e esclarece que a questão já foi solucionada”, finalizou.

Acidente

Juscelino sofreu um acidente de moto no dia 4 de setembro, em Urutaí, e foi conduzido no mesmo dia para um hospital em Pires do Rio, ambas cidades na região Sul do Estado.

No dia posterior, ele foi encaminhado ao Hugo. Na ocasião, a família já recebeu a notícia de que ele provavelmente não sobreviveria. “Durante a visita, a gente conversou com a médica, que chegou e deu um prognóstico. Disse que ele, provavelmente, tinha morte encefálica, que o quadro dele era muito grave”, afirma Danilo Lima Marques, cunhado do Juscelino.

O relatório médico destaca que a morte encefálica foi registrada no dia 6 de setembro, um dia após o paciente dar entrada. No entanto, a família aguardou dez dias para receber o exame de confirmação da morte.

Outro caso

Em Trindade, a família da menina de 3 anos que foi morta por uma picada de escorpião no final de agosto manifestou o desejo em doar os órgãos, porém não conseguiu porque a equipe médica alegou que o veneno do aracnídeo poderia ter se espalhado e o transplante foi descartado.

Em nota, o Hospital de Urgências de Trindade (Hutrin), informou que na sala de reanimação, a equipe médica administrou, nos dez primeiros minutos de atendimento, o soro antiescorpiônico, e realizou o bloqueio anestésico do pé esquerdo, local da picada.

No comunicado, o Hutrin pondera que a “paciente foi encaminhada, de imediato, com máscara de oxigênio e assistida por um socorrista, um técnico de enfermagem e um médico plantonista, em uma Unidade Móvel de Terapia Intensiva (UTI Móvel), para o Hospital de Doenças Tropicais (HDT)”. Mesmo com todos os procedimentos, não foi possível realizar a doação dos órgãos.

Doação de sucesso

Em contrapartida, um caso recente de hospital que trabalha contra o tempo para realizar os procedimentos de doação de órgão, foi com a vítima do parque de diversões em Ceres. A família da adolescente Isabella do Amaral Vieira, 16 anos, que foi morta após ser arremessada de um brinquedo, também manifestou o desejo em doar os órgãos. 

Segundo Roger do Amaral Vieira, irmão mais velho da vítima, a família optou pela doação de órgãos dela por saber que a ação não só salvaria a vida de outra pessoa, mas também por ser uma forma de manter a adolescente viva. "Minha mãe decidiu doar os órgãos da minha irmã por saber que vai ter uma parte da nossa menina viva em outra pessoa”, disse Roger.

A Central Estadual de Transplantes apontou, por meio de exames prévios, que foram aptos para novos receptores o fígado, levado para o Distrito Federal, e um rim, para São Paulo. No caso dela, o Hospital de Urgências de Anápolis (Huana) informou que todos os trâmites necessários para a doação foram iniciados a tempo pela Comissão Intrahospitalar de Doação de Órgãos e Tecidos e a Central de Transplantes de Goiás, órgão vinculado à Secretaria de Saúde do Estado de Goiás (SES-GO). De acordo com Fernando Augusto Ataíde Castro, gerente da Central de Transplante, o procedimento, que é realizado no Hospital de Urgências de Anápolis (Huana), durou cerca de 4 horas.

Apesar dos casos de sucesso, fica comprovado que Goiás ainda enfrenta problemas com a doação de órgãos, mesmo quando os familiares ou o próprio falecido é um doador. 

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