Família aponta omissão de atendimento, violência obstétrica e negligência médica. Em nota, Secretaria de Saúde lamentou ocorrido.
Fachada do Hospital Regional de Samambaia, no DF — Foto: Google Maps/Reprodução |
A família de uma jovem de 19 anos acusa a equipe do Hospital Regional de Samambaia, no Distrito Federal, de violência obstétrica, omissão e negligência. Segundo eles, os médicos e enfermeiros negaram a realização de uma cesariana, e usaram manobras controversas para retirar o bebê do útero. A criança não resistiu ao parto.
A gestante, identificada como Lorrane, deu entrada no hospital na manhã da última segunda-feira (17) – segundo familiares, já em trabalho de parto. Mais de 28 horas depois, na tarde de terça (18), o nascimento ainda não tinha acontecido.
A avó da criança, Eleusa Aparecida, diz que a filha já não conseguia suportar a dor, e que a demora resultou na morte do bebê. "Apareceu a cabeça e ficou uns 20 minutos lá, parado. Quando ele [o médico] tirou o neném, ele já estava preto", relata.
"Eu pedia para eles salvarem o meu neto, eles não fizeram nada".
Ainda de acordo com os familiares, os exames feitos dias antes mostravam um bebê "forte e saudável". O corpo tinha mais de 4 kg – um peso que confirma, também, o desenvolvimento da criança.
Em nota ao G1, a Secretaria de Saúde "lamentou o ocorrido", e disse que o bebê entrou em sofrimento durante a fase expulsiva – ou seja, no momento do parto normal. A direção do Hospital Regional de Samambaia afirma que os procedimentos de indução do parto podem ser indicados, se a gravidez passar de 41 semanas sem contrações espontâneas.
O comunicado do governo diz, ainda, que a equipe tentou fazer a reanimação neonatal imediata, mas o bebê não respondeu. O corpo foi levado ao Hospital Regional de Taguatinga (HRT) para a elaboração do atestado de óbito, mas a causa da morte só será investigada pelo Instituto Médico Legal (IML).
Procedimentos controversos
A nota da Secretaria de Saúde não detalha as manobras usadas pela equipe médica durante o parto. Segundo a família, no entanto, Lorrane passou por diversos procedimentos contraindicados pela Organização Mundial de Saúde (OMS) e pelo Ministério da Saúde. A lista inclui:
- episiotomia: corte feito no períneo, entre a vagina e o ânus da gestante, para ampliar o canal de parto. O procedimento não é proibido mas, segundo organizações médicas, muitas vezes é feito sem a comprovação da devida necessidade;
- ocitocina sintética: é a versão artificial do hormônio que, em condições normais, é produzido naturalmente pelo corpo no trabalho de parto. Assim como a episiotomia, é listado pelo Ministério da Saúde como um recurso "a evitar".
- manobra de Kristeller: aplicação de pressão na parte superior do útero, para "forçar" a descida do bebê. Segundo as diretrizes mais recentes do ministério, essa manobra é contraindicada, e a gestante deve ser informada dos riscos e benefícios desse e de outros procedimentos.
"O médico cortou a minha filha todinha, ficou puxando o meu neto pelo pescoço. Duas enfermeiras subiram em cima dela. Minha filha gritando por socorro”, diz Eleusa.
Arthur seria o primeiro filho de Lorrane. A família mora em Santo Antônio do Descoberto (GO), cidade a 47 km de Brasília, mas a gestante fez todo o acompanhamento pré-natal em Samambaia.
A família afirma que, já na 42ª semana de gravidez, teve de aguardar cerca de quatro horas na emergência do Hospital de Samambaia até o primeiro atendimento. A avó da criança chegou a pedir o agendamento de uma cesariana, mas diz que, em vez disso, a equipe optou por usar a ocitocina e aguardar as contrações.
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