Antônio José exibe radiografia da perna fraturada | Foto: Janailton Falcão |
Manaus - Com muitas dores e sob forte efeito de medicação, há mais de um ano e seis meses, após sofrer fratura exposta na perna, ao ser atropelado por um ônibus, em 6 de fevereiro de 2017, o tapeceiro Antônio José dos Santos Bentes, de 46 anos, luta por uma cirurgia no Hospital e Pronto-Socorro (HPS) Adriano Jorge, localizado no bairro Cachoeirinha, Zona Sul de Manaus.
Apesar da longa espera, a unidade se limita em prestar atendimento ao paciente que, inclusive, já teve uma operação cancelada quando estava a caminho do centro cirúrgico.
“Eu estava a caminho da sala de cirurgia, após fazer todos os exames necessários de risco cirúrgico. O que eu não esperava era ser dispensado pelo ortopedista há poucos segundos de acabar com o meu sofrimento. A operação era uma esperança que eu tinha para continuar lutando. Eu que tenho a única renda salarial para manter minhas três filhas e esposa. Ando trabalhando sob efeito de medicamentos, para não deixar faltar o pão em casa", desabafa o paciente.
Ainda segundo Antônio, as idas e vindas a hospitais da cidade virou rotina quase que diária na luta por consultas e agendamento de cirurgia. “Imagina você estar há mais de um ano e seis meses lutando para não perder a perna? Sendo que você precisa dela para sobreviver. O meu acompanhamento médico está, ou melhor, estava sendo realizado no HPS Adriano Jorge, porém a negligência na área da saúde no Estado, ficou clara para mim, depois dessa luta", lamenta o tapeceiro.
No dia do atropelamento, Antônio conta que foi levado na carroceira de uma picape para a Unidade de Pronto Atendimento (UPA) Campo Sales, na Zona Centro-Oeste, onde imobilizaram a perna dele com uma tala. Ele foi transferido por uma equipe do Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu) para o HPS Platão Araújo. No local, ficou internado por três dias e teve ferros e pinos fixados na fratura.
“No dia 21 de junho de 2017, quatro meses após o acidente, os ferros e pinos da minha perna foram retirados. Como eu já havia sido submetido a uma bateria de exames do risco cirúrgico, fui preparado para operação. No entanto, quando os enfermeiros me levavam para o centro cirúrgico, o ortopedista ordenou que eu voltasse para casa. Ele cancelou a cirurgia sem me dar qualquer tipo de esclarecimento. Me senti abandonado pelo poder público”, disse à reportagem.
O atropelamento
Na noite do dia 6 de fevereiro de 2017, por volta das 19h30, Antônio sofreu um acidente de trânsito na avenida Praia da Ponta Negra, no bairro Tarumã, Zona Oeste de Manaus. Conforme consta em boletim de ocorrência, registrado pela Polícia Civil do Amazonas, a vítima estava em um coletivo da linha 126, quando ao tentar descer em um ponto de ônibus, teve a perna presa na porta traseira.
Antônio conta que o motorista não percebeu e arrancou com o veículo. O tapeceiro foi arrastado por alguns metros e o ônibus só parou após outros passageiros informarem ao condutor sobre o incidente. Ele conta que recebeu apoio de um policial militar, que passava pela avenida, e foi levado para uma unidade de saúde.
Segundo a irmã de Antônio, Dôra Bentes, foram muitas idas e vindas a hospitais e gastos com medicação. “Faça a conta: um ano e seis meses de medicação para dor. Aí some também o dinheiro com transportes, quase diariamente, para visitar unidades de saúde. Depois de tudo isso, ser tratado com descaso? Ninguém aguenta mais esse atendimento".
A irmã completa que o sistema público de saúde não é dos melhores no Brasil, principalmente no Amazonas, mas que a família não pode ficar todo esse tempo à espera de ajuda.
Susam
No dia 9 de agosto deste ano, a reportagem procurou a direção do Hospital e Pronto-Socorro (HPS) para obter um posicionamento sobre a demora na realização da cirurgia do paciente. Por meio da assessoria da Secretaria de Estado de Saúde do Amazonas (Susam), a unidade respondeu que o paciente possuía consulta marcada para o dia 13/8.
Após o recebimento da resposta, o tapeceiro informou ao Em Tempo que a consulta só foi marcada, após a reportagem procurar a Susam.
"Na data, hora e local marcado estive na recepção do Adriano Jorge, mas fui tratado com descaso, como se eu fosse um 'lixo'. Não deram a mínima importância para o meu problema e, mais uma vez, retornei para casa, sem esperança de ficar livre das dores", relatou Antônio.
Depois de tomar conhecimento, por meio do paciente, que ele não recebeu atendimento, a reportagem voltou a procurar a assessoria da Susam, no último dia 21, levantando os mesmos questionamentos. Solicitamos também, pela segunda vez, entrevista com o diretor do hospital. A assessoria respondeu que o paciente não havia comparecido à consulta. Em ambas as solicitações a assessoria da Susam não se pronunciou sobre a possibilidade de entrevista com o diretor da unidade.
"A Fundação Hospital Adriano Jorge informa que no dia 09/08 foi feito contato, por celular, com o paciente Antônio José dos Santos Bentes para que comparecesse à unidade no dia 13/08 para consulta de avaliação com o cirurgião ortopedista e que se colocava à disposição dele para maiores esclarecimentos, porém o paciente não se apresentou para a consulta. A unidade voltará a fazer contato para remarcar".
Antônio contesta a informação e diz que esteve presente no local no dia marcado, mas que voltou para casa sem atendimento.
A irmã de Antônio informou ao Em Tempo que na tarde do dia 21 de agosto, após a reportagem solicitar resposta sobre a cirurgia junto à Susam, a direção do Hospital Adriano Jorge voltou a entrar em contato, por telefone. “Uma moça ligou para o meu celular e se identificou como Regina, do setor de Serviço Social. Ela pediu que o meu irmão fosse novamente até a unidade para uma consulta”, comentou Dôra Bentes.
Apelo
“Eu peço a Deus todos os dias que eu consiga esta cirurgia. Não procurei ser atropelado, foi uma fatalidade que poderia acontecer com qualquer um. É ruim a gente ser pobre, sem estudo. Minha irmã está me ajudando, tentando essa cirurgia, mas o que percebo é que a saúde pública do Estado, não está nem aí para a situação", lamenta Antônio.
Em Tempo
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