domingo, 17 de fevereiro de 2019

CRM se pronuncia sobre denúncias de abuso sexual feitas por pacientes contra médico de SC

Nesta sexta-feira (15), o órgão determinou a abertura de uma sindicância para apurar a conduta do suspeito. Uma nova vítima registrou boletim de ocorrência contra ele.


Nova vítima relata abuso sexual em consultório ginecológico da capital; CRM deve apurar

O Conselho Regional de Medicina (CRM) de Santa Catarina se pronunciou sobre as denúncias de abusos sexuais feitas por pacientes contra o ginecologista Edison Natal Fedrizzi, que atende em Florianópolis. Os abusos teriam sido cometidos, segundo elas, durante exames. Nesta sexta-feira (15), o CRM determinou a abertura de uma sindicância para apurar a conduta do suspeito. Uma nova vítima registrou boletim de ocorrência contra ele.

Em nota pública, o médico negou as acusações e que diz que "meus argumentos e provas devem - e serão - apresentados no Fórum, perante o digníssimo representante do Ministério Público e ao excelentíssimo Magistrado". O processo corre em segredo de Justiça.

"Esta investigação da Polícia Civil não nos foi informada, que estava em curso. A gente não tinha nenhuma informação a respeito disso. Pode tomar providências a partir de agora, uma vez que a reportagem identificou, anunciou o nome do médico envolvido com suspeita de assédio sexual. A partir desse momento, o Conselho Regional de Medicina, tendo o fato, um elemento, pode abrir um processo", afirmou o vice-corregedor do Conselho Regional de Medicina, Fábio Firmino.

A sindicância é o primeiro passo da avaliação que o CRM vai fazer sobre o caso. "A gente abre uma sindicância para apurar os fatos envolvendo aquela denúncia. Se pede manifestação do médico que esta sendo denunciado e, eventualmente, dentro do teor do elementos que a gente tem na fase de sindicância, a gente pode concluir pelo um processo ético-profissional, contra o médico denunciado ou concluir pelo arquivamento da sindicância, se não houver elementos suficientes pra indicar, para caracterizar ou suspeitar de que haja um ilícito ético", diz Firmino.

O representante do CRM não confirmou se alguma paciente procurou o órgão para denunciar Edison Fedrizzi. "Se houver a procura de alguma vítima para fazer a denúncia e partir disso se abre uma sindicância, isso, de novo, corre em sigilo processual. Então não posso te dizer se houve ou não uma vítima procurando o Conselho."

CRM se pronunciou sobre as acusações de abuso sexual contra médico

Em janeiro deste ano começaram no Fórum da capital as audiências de instrução da ação que o Ministério Público de Santa Catarina moveu e a Justiça aceitou. Edison Fedrizzi responde por violação sexual mediante fraude. Um crime diferente do estupro, que é quando há violência.

Três mulheres constam na ação com vítimas e outras duas como testemunhas. O caso veio à tona em 2017, quando a Polícia Civil esteve no consultório do médico com um mandado de busca e apreensão. O processo corre em segredo de justiça.

Por nota, o Conselho Regional de Medicina em Santa Catarina (CRM) informou que a atual gestão, que assumiu em outubro de 2018, não foi até agora notificada sobre os fatos e que não há nenhuma outra denúncia contra ele. Mas que a partir de agora, poderá abrir uma investigação.

A Sociedade de Ginecologia e Obstetrícia de Santa Catarina explica que todo médico precisa deixar claro para a paciente os procedimentos de qualquer exame.

Mulheres quebram o silêncio


As mulheres decidiram quebrar o silêncio. O médico que elas acusam de abuso sexual é o ginecologista e obstetra Edison Fedrizzi. Ele é especialista em HPV, o vírus que pode causar câncer no colo do útero, e professor universitário. Mas o motivo que levou essas mulheres a falar não tem a ver com o currículo renomado, mas com o comportamento dele no consultório.

"Esse não é o papel do médico, né? Ele tá cometendo um crime", diz uma mulher.

"Ele não é um profissional. Uma pessoa que faz isso não tem condições de trabalhar com ser humano", conta outra denunciante. "Eu não tenho palavras pra descrever isso. Porque é um caso completamente...é um absurdo o que ele fez".

Em 2017, cinco pacientes dele procuraram a delegacia da mulher com relatos bem parecidos. "Quando ele foi fazer o toque vaginal, ele falou assim pra mim: ah, começou falar de orgasmo, não sei o que do Ponto G, sendo que eu não tinha perguntado nada disso em nenhum momento", relata uma paciente.

Logo depois das denúncias, em dezembro de 2017, a Polícia Civil esteve no consultório do médico, no bairro Pantanal, com um mandado de busca e apreensão. Os policiais encontraram preservativos, calcinhas e gel lubrificante. Foram apreendidos também: computadores, prontuários médicos , celular e medicamentos de controle especial.

Depois da investigação da polícia, o Ministério Público de Santa Catarina denunciou o médico à Justiça por violação sexual mediante fraude, artigo 215 do Código Penal. Um crime diferente do estupro, que é quando há violência.

A Justiça aceitou a denúncia, e em janeiro deste ano começaram as audiências de instrução no fórum da Capital. Só três mulheres constam na ação como vítimas. As outras duas entraram como testemunhas de acusação, porque no caso delas as consultas aconteceram entre 2007 e 2008, ultrapassando o prazo legal de seis meses para registrar a queixa-crime, segundo o Ministério Público, o que não impede as mulheres de mesmo assim denunciarem.

Além disso, o médico também responde na Justiça pelo artigo 273, por manter em seu consultório o Cytotec, medicamento controlado que tem efeito abortivo, sem comprovar autorização pra isso.

Cinco mulheres afirmam ter sido abusadas pelo médico durante consultas. Três delas aceitaram gravar entrevista sem mostrar o rosto.

Ponto G


Uma das mulheres que levou o caso à justiça conta que era paciente do ginecologista há cerca de um ano e meio. "Começou a fazer uma abordagem mais voltada à questão sexual, perguntando se eu já tinha tido orgasmo, se eu me masturbava, quanto tempo que eu já tinha tido a última relação".

"Essas não eram as minhas dúvidas, a minha consulta era de rotina, era só pra coletar o preventivo...então ele insistiu nisso", lembra.

"E aí ele disse assim: 'ah, fecha os olhos e relaxa, que eu vou te mostrar onde é que é o Ponto G'. Daí eu peguei e falei: 'não, né?'. E me levantei da maca. E aí nessa hora ele ficou todo vermelho, assim... e aí ele viu que eu tinha notado que aquilo não fazia parte da consulta", fala a denunciante.

Assim que saiu do consultório, ela ligou pra uma médica de confiança, contou o que tinha acontecido e foi orientada a procurar a delegacia da mulher.

"Não é na primeira consulta que ele fez isso comigo, eu já tinha consultado duas ou três vezes com ele, e assim, eu tomei a frente de denunciar porque eu acho que ele não pode fazer isso e outras vítimas não podem sofrer isso", conclui.

Primeira consulta


A outra mulher não está entre as denunciantes. Ela conta que foi vítima do médico, em 2002, aos vinte anos, na primeira consulta dela sem a presença da mãe.

"Eu nunca tinha ido, nunca tinha feito um exame ginecológico assim, e eu achei que não tava muito certo, porque ele começou a estimular, né? Começou a me estimular, e... eu olhei assim pra baixo, e vi que ele tava ficando vermelho e suado assim, e com aquele olhar, assim, com um olho meio estranho. Eu fiquei bem constrangida", relata a mulher.

"É bem complicado dizer isso, mas até hoje eu nunca tive uma única relação sexual que eu não tenha pensado nisso, nesse dia".

"Eu sou casada há 12, 13 anos, e eu não permito que meu marido use as mãos pra me tocar, ele não me toca". Ao terminar a consulta, ela lembra que o médico foi além. "Aí ele disse: 'ah, então é assim, ó, na verdade eu acho que tu precisa é de um homem de verdade".

"Eu vou te dar meu telefone aqui, ó... e daí quando tu 'quiser', assim, que eu te ensine alguma coisa, tu pode me ligar, a gente sai, e daí eu vou te ajudar, aí tu vai aprender como é que é que faz", lembra a mulher.

Ela nunca mais voltou ao consultório e conta que teve medo de denunciar na época. Mas que depois que soube de outros casos, resolveu falar.

"Eu achei que algumas mulheres podiam ter medo, podiam estar passando por isso, podiam estar, assim como eu, remoendo isso. Então eu achei que, se eu falasse, elas também poderiam criar coragem", ressalta.

Paciente por 4 anos


Outra mulher conta que foi abusada em 2014, quando já era paciente do médico há quatro anos. Mas ela só procurou a delegacia pra denunciar o médico nesse ano depois que soube que havia uma investigação.

"Nós fomos pra outra sala pra fazer o exame propriamente dito...e num determinado momento ele começou a acariciar meu clitóris, me ensinando os pontos, a velocidade, a pressão que eu deveria fazer pra conseguir atingir um orgasmo". "Em momento algum eu pedi conselhos, sugestões, pedi que ele me ensinasse", conclui.

"Esse assunto voltou à tona, começou a me incomodar profundamente, e eu resolvi tentar ir atrás e tentar colocar um ponto final nessa história, né? E resolver essa situação, por uma questão pessoal e também pra tentar estimular, encorajar outras mulheres que estão sofrendo a mesma coisa que eu sofri", desabafa.

Nova vítima


A Polícia Civil confirmou que mais uma mulher registrou queixa contra Edison Natal Fedrizzi nesta sexta-feira, na Delegacia da Mulher, em Florianópolis. A polícia não deu detalhes sobre a denúncia, mas confirmou que segue a mesma linha daquelas feitas por outras pacientes.

Posição de entidade


"O exame ginecológico, diferente de um exame clínico geral, ele é numa área mais íntima, e que ele tem que ser feito com todo cuidado. E, sobretudo, com a explicação de tudo que vai ser feito. Cada passo do que se faz deve ser explicado pra paciente", disse Jean Louis Maillard, representante da Sociedade de Ginecologia e Obstetrícia de Santa Catarina

A sociedade reforça ainda que toda mulher que se sentir incomodada com algum comportamento médico deve denunciar o caso.

"Toda e qualquer paciente que porventura sentir que houve um excesso ou alguma atitude que não seja médica e técnica, ela tem todo direito de fazer denúncia nos conselhos regionais. Ela pode ir lá no CRM e denunciar que ela se sentiu invadida, que isso vai ser investigado, pra ver se isso realmente aconteceu, ou se foi um mal entendido que aquela pessoa não entendeu o que foi realizado naquele exame", completa o representante.



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