terça-feira, 5 de fevereiro de 2019

Governador determina intervenção no Hospital Regional de Ponta Porã

Grupo Gerir pode perder contrato de concessão nos próximos 90 dias


Ninguém aguenta mais! Esta é a verdade! Até o governador do Estado, Reinaldo Azambuja (PSDB) já esgotou sua paciência e não suporta mais ouvir queixas, reclamações e denúncias de negligência, ingerência, calotes, mau atendimento, entre outra infinidade de problemas relacionados com a administração do Hospital Regional "José de Simone Neto", em Ponta Porã, cuja concessão é firmada pelo Grupo Gerir, desde o final de 2016.
Na quinta-feira (31), o prefeito de Ponta Porã, Hélio Peluffo Filho (PSDB) disse, durante evento realizado no Centro de Convenções "Miguel Gomez", que o Governo do Estado determinou uma intervenção no Hospital Regional, para que seja feita uma auditoria na gestão daquela unidade hospitalar, corrigir eventuais falhas e elaborar um relatório oficial que poderá provocar, nos próximos 90 dias, o rompimento do contrato de concessão celebrado há pouco mais de dois anos com a organização social em questão.
O Jornal Che Fronteira entrou em contato com a administração do HR, onde uma assessora limitou-se a dizer que "não temos conhecimento oficial de qualquer tipo de intervenção ou algo que o valha".
Entretanto, além do anúncio feito publicamente pelo chefe do Executivo Municipal, o auditor da Secretaria de Estado de Saúde, Eduardo Rodrigues, disse, por telefone, que a determinação está sendo providenciada. Representantes das duas partes (Governo do MS/Grupo Gerir) estão negociando detalhes sobre o procedimento, mas, confirmou que tanto o secretário de Estado de Saúde, Geraldo Resende, quanto o governador Reinaldo Azambuja estão muito preocupados com o andamento da gestão protagonizada pelo Grupo Gerir em Ponta Porã e que a intervenção é o único caminho para resolver a questão.
ROSÁRIO DE DENÚNCIAS
Não é possível enumerar quantas são as denúncias e reclamações das quais tem sido alvo, no decorrer dos últimos dois anos, o Grupo Gerir, enquanto administrador do Hospital Regional de Ponta Porã.
Lentidão e descaso no atendimento do Pronto Socorro, falta de medicamentos básicos, paralisação dos serviços de UTI, óbitos provocados por demora na remoção de pacientes graves para Dourados ou Campo Grande, desperdício de dinheiro e de tempo, em detrimento dos pacientes, com a repetição de exames e procedimentos que já haviam sido realizados e "se perderam pelos corredores do hospital", entre outros casos até mais graves que envolvem suspeitas de negligência médica, são alguns dos problemas que rezam no rosário de queixas contra a instituição.
NADA CUMPRIDO
O Jornal Che Fronteira divulgou amplamente todos estes fatos quando e como ocorreram, nunca com o intuito de simplesmente denunciar e achincalhar a gestão "privada" do hospital "público", mas sim, com foco na prioridade que o assunto requer: o atendimento aos pacientes. Tanto é que sempre se preocupou, até por questões de ética e profissionalismo, em ouvir as duas partes.
Em setembro do ano passado, o Grupo Gerir empossou uma nova diretoria, que visitou vereadores, ouviu queixas e reclamações que se afunilavam na Câmara Municipal e prometeu resolver tudo e implantar um "atendimento exemplar" no HR.
O que se viu a seguir foi uma ameaça de fechamento da UTI por parte da Intelad Gestão de Saúde Ltda. (empresa "quarterizada" e que mantém cerca de 30 profissionais especializados em tratamentos intensivos) em virtude de calote no repasse de recursos devidos pelo Grupo Gerir.
Isso, logo depois da concessionária ter conseguido um reajuste de 42% nos repasses feitos pelo Governo do Estado. Na ocasião em que foi celebrado o novo acordo, o Grupo Gerir garantiu que iria melhorar o atendimento à população em todas as áreas, reformar o Pronto Socorro, contratar mais médicos especialistas e passar a custear as despesas de manutenção da UTI, hemodiálise e tomografia.
Na época, a Secretaria de Estado de Saúde informou que "para receber o aditivo, será feito também incremento dos serviços oferecidos à população, aumento de pessoal e também o funcionamento dos dez leitos de UTI". Nada disso foi cumprido.
REAJUSTE: 250%
Desde a celebração do contrato com o Grupo Gerir, os recursos destinados pelo Governo do Estado e pela Prefeitura Municipal de Ponta Porã (que sofre um desconto do ICMS para cumprir a sua contrapartida) ao Hospital Regional, já foram reajustados em 250% (R$ 1,8 mi, depois R$ 2,5 mi, mais adiante R$ 3,1 mi e agora R$ 4,5 mi, sendo que este último vigora desde outubro de 2018).
O termo de compromisso das partes foi assinado no edifício do Ministério Público Estadual em Ponta Porã, com a presença dos diretores do Grupo Gerir, do auditor da Secretaria de Saúde, Eduardo Rodrigues e do promotor de Justiça, Gabriel da Costa Rodrigues Alves. Na ocasião, mais promessas e compromissos. Outra vez, nada mudou.
ERRAR É HUMANO?
Em dezembro último, o Hospital Regional voltou a ser alvo de reclamações de pacientes e familiares, ao ponto de fazer com que o plenário da Câmara Municipal fosse palco, outra vez, de sérias críticas proferidas pelos vereadores, assinalando sua preocupação com o atendimento da população naquele núcleo de saúde.
Além de apontar que as cirurgias eletivas estariam sendo canceladas, ou transferidas para outros hospitais, em Dourados e Campo Grande, os vereadores revelaram que havia falta de produtos básicos para o atendimento aos pacientes.
O Jornal Che Fronteira foi questionar a diretoria do HR, com as queixas na mão, a fim de apurar as circunstâncias do que vinha ocorrendo e de ouvir a versão dos gestores a respeito dos temas já mencionados.
A diretora administrativa do Hospital Regional, Patrícia Oliveira, admitiu que algumas vezes pudesse ter ocorrido falta de algum material de consumo. Mas, explicou que o processo de compra de produtos hospitalares oferece certo grau de complexidade, sobretudo em função da localização geográfica de Ponta Porã.
A diretora justificou que os fornecedores não cumprem os prazos de entrega, e que há casos em que o atraso é tamanho que o próprio fornecedor volta a manter contato afirmando que não pode mais entregar o pedido pelo preço combinado. Aí, novo processo de compra deve ser aberto, gerando, algumas vezes falta de algum produto no estoque do hospital.
Ela também admitiu que eventualmente pudesse ocorrer – como em qualquer empresa ou instituição – é que existam colaboradores dedicados e outros nem tanto. Estes últimos, ao sinal do menor problema, já entram em pânico e alardeiam o assunto por todo lado, sem, pelo menos, consultar seus superiores para encontrar uma solução que, na maioria das vezes, é bem simples.
Em resumo, "errar é humano" (???). Só que não se trata apenas de errar a receita culinária, colocando sal no lugar do açúcar. Nesse caso, "errar a receita" pode resultar numa tragédia, já que o assunto em questão é a vida humana. Bem, de qualquer forma, alguém parece querer resolver o problema de uma vez por todas: o governador Reinaldo Azambuja. Se o resultado disso tudo será positivo, certamente, só quem viver verá. (Edmondo Tazza – MTE/MS 1266)

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