quarta-feira, 22 de maio de 2019

Após 9 anos de espera por cirurgia, idoso morre sem conseguir prótese no Into

Aos 69 anos, Carlos Augusto de Abreu aguardava procedimento desde 2010. Ele morreu na segunda-feira na 40ª posição na fila. Defensoria diz que há 12 mil pessoas em filas do instituto.

Paciente morre após esperar 9 anos na fila para realizar cirurgia no Into
Depois de nove anos de espera por uma cirurgia no Instituto de Nacional de Traumatologia e Ortopedia (Into), Carlos Augusto de Abreu e Silva, de 69 anos, morreu na segunda-feira (20) sem conseguir uma nova prótese de quadril. 

A espera pela cirurgia começou em 2010, quando ele entrou na fila para conseguir uma revisão da prótese que havia colocado na região do quadril após se acidentar no ano de 2005. Naquela época, Carlos entrou na fila com o número 182. 

Enquanto esperava pela revisão, ele se machucou novamente e deslocou a prótese, tendo uma retração do osso do quadril, o que dificultava a locomoção. Os médicos informaram que, mesmo naquela condição, Carlos Augusto deveria aguardar na mesma fila de espera. 


Em 2018, já com uma infecção, Carlos ainda aguardava, com a prótese deslocada, pela revisão e nova cirurgia. O número que ele ocupava na fila era o 46. 


Depois de quase uma década esperando para ser atendido, a infecção de Carlos piorou. Ele foi internado no Hospital Rocha Faria, na Zona Oeste da cidade, teve pneumonia e morreu na segunda-feira (20), ocupando a 40ª posição na fila do Into. 


"Ele sempre lutou por ele e pelas 12 mil pessoas que estavam na fila. Há 11 meses, ele falou que ele pedia misericórdia. Então, ontem, o Estado não teve misericórdia, o governo ao teve misericórdia, mas Deus teve misericórdia porque ele descansou. Hoje, eu sinto uma sensação maior de impunidade. De que, mais uma vez, o descaso, e a negligência venceram", desabafou a filha de Carlos Alberto. 



O pedido de ajuda relatado pela filha é mostrado em um dos últimos vídeos gravados pelo paciente antes de falecer. 

"Socorro, médicos. Socorro, políticos. Socorro, pelo amor de Deus.", implorou Carlos.
Carlos Augusto gravou último pedido de socorro — Foto: Reprodução/TV Glob
"Só queria que eles olhassem para mim e para as outras pessoas com um pouquinho mais de senso de humanidade, de respeito, de carinho e de misericórdia", disse Carlos, em 2018, durante a última visita da equipe de reportagem do RJ1. Ele vai ser enterrado nesta terça (21), no Cemitério Jardim da Saudade, em Sulacap, às 14h. 


Em nota, o Ministério da Saúde informou que o pregão para o processo licitatório de prótese para quadril foi realizado no dia 15 de maio e que, quanto ao processo licitatório de joelho, o pregão foi realizado no início de abril. Já em relação à prótese de coluna, o Into fez uma adesão para suprir a demanda nos próximos dois meses, enquanto é construído o processo licitatório.

Mais de 12 mil pessoas na mesma situação

Segundo a Defensoria Pública, mais de 12 mil e 500 pessoas aguardam na fila do Into por uma prótese. 


Dois ex-diretores do Into foram presos pela Operação Lava Jato no Rio, suspeitos de participação no desvio de dinheiro para compra de materiais pra cirurgias ortopédicas. Um deles, André Loyelo, estava à frente do instituto quando foi preso em julho do ano passado.

Estoques vazios

Prateleiras vazias no Into — Foto: Reprodução/TV Globo
Apesar do número de pacientes à espera de próteses, os estoques do Instituto Nacional de Traumatologia e Ortopedia estão, praticamente, vazios. 


Durante inspeção feita pelo Conselho Regional de Medicina e da Defensoria Pública da União, foi constatado que as prateleiras dedicadas às próteses para ombro e joelho estavam completamente vazias. 
 

Para coluna e quadril, não havia conjunto completo, apenas peças isoladas, que não atendem à maioria dos pacientes. Todas as 12 especialidades estavam com o estoque baixo.
Carlos Augusto, de 69 anos, morreu após esperar quase 10 anos por cirurgia no Into — Foto: Reprodução/TV Globo
G1 





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