terça-feira, 21 de maio de 2019

Estado tem 53 novos casos de médicos investigados

Entre os motivos para investigação dos profissionais estão denúncias de pacientes por erros, assédio e mau atendimento.

A relação entre médico e paciente nem sempre tem o resultado esperado e alguns profissionais acabam sendo denunciados tanto na esfera administrativa quanto na Justiça.

Somente o Conselho Regional de Medicina do Estado (CRM-ES) recebeu este ano, até o último dia 13 de maio, 53 denúncias de infração ao Código de Ética Médica.

Nas denúncias, pacientes acusam médicos de erros em procedimentos, mau atendimento, assédio, entre outras queixas. Também existem denúncias de médicos que desrespeitam as resoluções do Conselho Federal de Medicina.

Ao todo, tramitam no CRM-ES 341 sindicâncias, a maioria instaurada nos últimos cinco anos. Nesse período, foram julgados 82 casos, que deram origem a oito processos ético-profissionais (PEP).

As punições variam de advertência confidencial, em aviso reservado; censura confidencial, em aviso reservado; censura pública, em publicação oficial; suspensão por até 30 dias da atividade profissional e cassação do exercício profissional.

Para o CRM-ES receber a denúncia, é preciso que o paciente se identifique, informe o nome do médico, da unidade de saúde onde ocorreu o problema e dê toda informação que possa ajudar na investigação do caso.

Para o presidente da Associação Médica do Espírito Santo, Leonardo Lessa Arantes, um erro é decorrente de uma série de fatores que fazem parte do dia a dia do profissional das redes pública e privada.

“Muitas vezes, tem médico sobrecarregado. O nível de estresse no plantão é muito alto e o faz atender cansado e até sem dormir, além de ser mal remunerado. Há casos em que ele não tem condições de prestar uma assistência médica de maneira adequada, não tem gaze, medicação, ou seja, ele não consegue exercer a medicina de forma plena”, explicou.

Outro problema apontado por ele é a questão da formação, em virtude da multiplicação das escolas de Medicina no Brasil, especialmente, na última década.

Além disso, Leonardo Arantes citou que hoje se vive a era da judicialização. “As pessoas, às vezes, esperam do médico um resultado, e a gente sabe que a medicina, nem sempre, consegue prever resultados, por não ser uma ciência exata”.
Universitária acusa cirurgião plástico de erro médico. “Ele chegou a dizer que meu problema era psicológico”. (Foto: Leone Iglesias/AT)

“Minha vida virou um pesadelo”

Um sofrimento que se arrasta há cerca de três anos e meio fez com que uma universitária de 33 anos denunciasse um cirurgião plástico ao Conselho Regional de Medicina do Estado (CRM-ES). Ela ainda aguarda a decisão.

A advogada da universitária, Lilian Mageski Almeida, também ingressou com uma ação na Justiça e, no final do ano passado, o médico foi condenado em primeira instância.

Em sua decisão, o juiz titular da 10ª Vara Cível de Vitória, Marcelo Pimentel, destaca que, considerando a gravidade dos fatos, condenou o médico ao pagamento de R$ 30 mil a título de danos morais, além de danos materiais, a serem comprovados e apurados na fase de liquidação da sentença.

O nome do médico não está sendo divulgado, pois ele recorreu da decisão ao Tribunal de Justiça do Estado. O relator é o desembargador Dair José Bregunce de Oliveira, da Terceira Câmara Cível.

A Tribuna – O que houve?
 
Universitária – Eu fiz uma cirurgia plástica em 2015 para implante de prótese mamária. Queria aumentar só um pouquinho. Segui rigorosamente todas as orientações pré e pós-operatórias, mas não deu nada certo.

Como assim?
Logo após a cirurgia, comecei a sentir uma queimação nos seios e dali em diante o quadro só foi complicando. Tive dores intensas semelhantes à dor de dente crônica, febre e vômito.

Não conseguia andar de tanta dor. Gritei e chorei de dor por mais de um ano. Morfina não tirava a dor. Parei a minha vida, tranquei a faculdade e só voltei a estudar em meados do ano passado. Minha vida virou um pesadelo. Não voltei a trabalhar até hoje.

Busquei ajuda e recebi vários diagnósticos do cirurgião, desde zika vírus e dengue. Ia sete dias da semana ao pronto-socorro, cheguei a ficar internada, me deram até morfina, mas a dor não passava. Depois de meses sofrendo, o cirurgião recomendou uma nova cirurgia.

O mesmo cirurgião? E retirou a prótese?
Não. Ele nem disse o que iria fazer. Me falou que iria decidir durante a cirurgia. Mas ele aumentou o volume e me deixou com uma cicatriz enorme.

Depois de tudo, o sofrimento continuou. Ele apertava os meus seios e dizia que eu não tinha nada, pois não tinha secreção. Chegou a dizer que o meu problema era psicológico. Por último, nem queria mais me ver.

Mas qual era o motivo da sua dor?
 Foi constatado por outro médico que um nervo foi lesionado. Fui em quatro cirurgiões, que se recusaram a pegar o meu caso. Após muito sofrimento, passei por uma nova cirurgia, com um outro cirurgião que é um anjo na minha vida. Ele retirou a prótese no ano passado.

A dor passou?
Não. A infecção melhorou depois que tirei a prótese, mas até hoje tomo remédios e sinto dor. Claro que a intensidade melhorou 60%, mas com medicamentos e com toxina.

O que deseja para o médico?
Não consigo nem falar. Eu sinto pavor dele e quero que ele possa ser punido para não fazer isso com outras pessoas.

Esclarecimento

Os nomes dos médicos e especialidades não estão sendo divulgados porque o Conselho Regional de Medicina não divulga detalhes de casos que estão sob investigação.



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