“Um
dia, cheguei no quarto e tinha uma outra paciente ao lado com o soro que
era da minha sogra na veia. Imagina se fosse um remédio forte" - Davi Moreira Serano, genro da paciente
|
Desleixo, indiferença, abandono. Esses
são alguns dos sinônimos atribuídos ao termo ‘negligência’, bastante
utilizado para se referir aos serviços prestados pelo Hospital Nossa
Senhora do Perpétuo Socorro, localizado em Gaspar. O Jornal Cruzeiro do
Vale, que noticiou duas denúncias na semana passada, novamente foi
procurado para registrar o desespero de uma família em situação
semelhante. Parentes temem que Márcia Marta Hang, de 57 anos, internada
há 15 dias, tenha o mesmo fim que Marcos Antônio da Silva e Ângela Maria
Tanholi Schramm, falecidos sem a tão esperada transferência médica.
Sem forças, enfrentando a sensação de
impotência e o medo de perder, para sempre, alguém tão especial. É assim
que Davi Moreira Serano, genro de Márcia, descreve o que passa no
coração de sua família. “Ela deu entrada com suspeita de pneumonia.
Deram um remédio para tratar e mandaram embora. No dia seguinte, tivemos
que correr com ela de volta. Então, os médicos diagnosticaram arritmia
cardíaca também”, relembra o rapaz. Nos primeiros dias, a mulher ainda
andava e até chegou a apresentar uma pequena melhora. Porém, com o
tempo, tudo mudou.
Márcia passou mal na quarta-feira, 15 de
maio. “Eu descia com a minha sogra todos os dias para fazermos raio-x.
Até que ela começou a vomitar e passar muito mal. Mediram a pressão e
estava muito baixa. Em resumo, agora está toda entubada, com infecção
generalizada”, descreve Davi. Ele reitera que acompanha de perto o
processo de transferência da enferma para outro hospital. “Não há um
lugar se quer no estado que dê para levar ela?”, questiona.
Indignado, o homem chegou a perder a
paciência. “Um dia, cheguei no quarto e tinha uma outra paciente ao lado
com o soro que era da minha sogra na veia. Imagina se fosse um remédio
forte. Acho que a enfermeira se enganou... Eu acabei gritando. Isso é
muito grave”, diz Davi.
Até às 14 horas de quinta-feira, dia 16
de maio, o problema do coração de Márcia estava estabilizado, segundo o
genro. “A gente nem sabe mais. Cada dia, falam uma coisa diferente.
Parece que todo paciente que entra não sai”, conclui, com lágrimas nos
olhos.
Márcia, mãe de três mulheres e um homem, é casada com Solano José Hang. O casal mora no bairro Belchior Baixo.
Justificativa
A família de Márcia Marta Hang foi
informada da abertura de uma vaga no hospital da cidade de Videira, mas a
transferência não foi feita. A reportagem do Cruzeiro do Vale
entrevistou Elson Marson Junior, diretor administrativo do Hospital
Nossa Senhora do Perpétuo Socorro, para questioná-lo a respeito. “Aquela
vaga foi ocupada por uma emergência da região. Mas continuamos
procurando UTI para ela em todo estado. A cada uma hora ligamos para a
Central de Leitos de Santa Catarina.
Para registrar qualquer dado que
complemente a reportagem, nossa equipe conversou com o secretário de
Saúde, Carlos Roberto Pereira. Ele diz que, em sua posição, não é
possível acompanhar todas as pessoas internadas. Quanto a não
transferência, enfatiza: “É uma regulamentação estadual. A gente não
pode interferir. O hospital de Gaspar põe no sistema, diz o problema de
saúde dela e pede a vaga”.
Outros casos
Marcos Antônio da Silva faleceu na manhã
de 7 de maio, prestes a completar 52 anos. Ele foi internado no
Hospital de Gaspar no dia 27 de abril com suspeita de úlcera, teve
problemas sérios e não conseguiu transferência para outro hospital. O
mesmo aconteceu com Ângela Maria Tanholi Schramm, que deu entrada na
unidade em 28 de abril e faleceu em 5 de maio. As famílias apontam
negligência médica no final trágico dos pacientes.
Campanha
Com o objetivo de pedir mais atenção ao
hospital de Gaspar, o Cruzeiro do Vale deu início à uma campanha na
semana passada. Publicada nas nossas redes sociais, gerou inúmeras
interações. Entre centenas de comentários, os negativos, infelizmente,
se sobressaíram.
Nenhum comentário:
Postar um comentário