segunda-feira, 20 de maio de 2019

MP cobra R$ 2 milhões do governo, Hospital São Luiz e médico acusado de violência obstetra em Cáceres

O Ministério Público (MP), através da 1ª Promotoria de Justiça Civil de Cáceres, cobra do governo do Estado, através da Secretaria de Saúde, do Hospital São Luiz e do médico Jarbes Balieiro Damasceno o pagamento de R$ 2 milhões de reparação de danos à gestantes que foram humilhadas, destratadas e até violentadas durante trabalhos de partos realizados, entre os anos de 2017 e 2018, no município. Investigação do MP, pelo promotor Rinaldo Segundo, constatou que, mais de 30 mulheres foram vítimas de violência obstetra no Hospital São Luiz, conveniado ao Sistema Único de Saúde (SUS) nesse período.

A juíza da 4ª Vara Civil Joseane Carla Ribeiro Viana Quinto Antunes, já citou os envolvidos, mas ainda não se manifestou quanto ao pedido do MP. A Ação Civil Pública foi instaurada em 2017, após a morte de um recém-nascido, supostamente, vítima de agressões do médico Jarbes Damasceno, durante o trabalho de parto. A partir dai, as investigações concluíram, que em um período de oito meses, entre 2017 e 2018, foram mais de 30 casos dessa natureza. Diz à ação que, sendo reconhecidos os danos, os R$ 2 milhões serão direcionados ao Fundo Municipal dos Direitos da Criança e Adolescentes em Cáceres.

A Promotoria de Justiça Civil de Cáceres responsabiliza o Estado invocando vários artigos da Constituição Federal entre eles o de número 196 que enfatiza: “A saúde é direito de todos e dever do Estado, garantido mediante políticas sociais e econômicas que visem à redução do risco de doença e de outros agravos e ao acesso universal e igualitário às ações e serviços para sua promoção, proteção e recuperação”.

Em relação ao hospital, o Ministério Público diz que mesmo sendo remunerado de forma justa pelo seu credenciamento, junto ao SUS, ele foi omisso quanto ao seu dever de fiscalizar, sendo imprudente e negligente por diversas vezes, ainda que devidamente informado  via Ouvidoria, das queixas e denuncias de violência obstétricas, restando inerte ao tratamento desumano empregado na unidade. E que, “os ilícitos praticados pelos médicos no local, devem lhe ser imputados, visto que são acompanhados de presunção do dever de fiscalização, situação essa que não aconteceu”.

Sobre Jarbes Damasceno, médico responsável pelas práticas de violência obstétrica, o Ministério Público diz que “exaustivamente, provadas sua culpa nos fatos descritos é inescusável que ele respondam na presente demanda, haja vista o tamanho do prejuízo causado as vítimas, que levaram consigo o trauma proveniente do atendimento fornecido pelo profissional hospitalar”. Embora não seja citado na Ação de reparação de danos, o promotor Rinaldo Segundo, disse que as investigações comprovaram que, além de Jarbes Damasceno, o médico Roberto Saboia Bicuto, também foi acusado de vários casos de violência obstetra contra as mulheres.

O promotor cita ainda na ação que, apesar da gravidade dos casos, além do hospital a equipe da Comissão de Ética da unidade, formada pelos médicos Rodrigo Peres, Emerson de Oliveira e José Dárcio Rubner (falecido) também “restou-se inerte”. Indagada sobre a omissão, a comissão disse apenas que “havia  conversado com os coordenadores da equipe de ginecologia e obstetrícia para que houvesse adequações nos atendimentos médicos”.

Dos mais de 30 casos reclamados à Ouvidoria do Hospital São Luiz e, posteriormente, encaminhados ao Ministério Público, em Cáceres, entre os anos de 2017 e 2018, seis se destacaram: o da comerciante Gleice Anne Costa Amorim, que foi xingada, humilhada e descriminada pelo médico; da dona de casa Rosa Maria Martins Pires, que teve o filho morto por, supostamente, violência durante o parto.

E, ainda da costureira Vanessa Pereira da Silva, que chegou a desfalecer pela brutalidade durante o parto; da sitiante Fernanda Pereira Machado e Meiriane Sodré Domiciliano, que descreveram o tratamento empregado como “trágico e negativamente inesquecível” e a dona de casa Ana Paula Cuiabano Gomes que traumatizada até hoje diz que está sendo acompanhada por psicólogos e psiquiatras.

Em relato ao promotor Rinaldo Segundo, a comerciante Gleice Costa disse que, além do tratamento desumano a que foi submetida, durante o trabalho de parto, o médico a mandava calar a boca, constantemente, quando reclamava de dor. E, em dado momento, conta ela, o médico disse “larga de frescura e abre essa porra da perna” e que o médico ainda questionou a paternidade do bebê, insinuando que a paciente não teria conhecimento de quem seria o pai da criança.

De acordo com o promotor, todos os casos relatados pelas vítimas são graves, mas o da dona de casa Rosa Maria Pires foi pior. Ela narrou que, todo trabalho do parto durou cerca de 6 horas. E, que todo esse tempo sofreu as mais terríveis tortura e humilhações. Lembra que, antes de o bebê nascer, após vários toques, a criança chegou a ser expelida de forma parcial do seu ventre e que teve essa confirmação por sua acompanhante.

Mas, em seguida o médico que havia saído, retornou a sala e se valendo de sua profissão disse que daria novo toque, firmemente contrariado pela parturiente, que sem forças e meios para impedir, sentiu seu bebê retornando para o seu ventre, momento em que diz ainda ter visto as luvas utilizadas pelo médicos repleta de sangue. Além das torturas e humilhações o bebê faleceu, supostamente, pelo tratamento desumano do médico.

As demais Vanessa, Fernanda, Meiriane e Ana Paula, narraram situações semelhantes. E, que além da violência obstétrica a que foram vítimas, afirmaram que, apesar de reclamarem na Ouvidoria, nunca foram chamadas pela diretoria do hospital, nem mesmo para uma solidariedade. A informação no hospital é de que os médicos pertenciam a uma empresa terceirizada, cujo contrato foi rescindido após o escândalo das violências contra as mulheres durante o parto. O Conselho Regional de Medicina (CRM) instaurou um processo administrativo que até hoje, próximo de dois anos não foi concluído.








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