O despacho emitido
pelo Ministério da Saúde no início deste mês, onde a Pasta defende que
não seja mais usado o termo “violência obstétrica” não é capaz de
diminuir o número de casos no País – que tem aumentado de forma
expressiva – e por isso deve ser veementemente rechaçado, dizem
especialistas que participaram das discussões no 15º #NãoVaiTerPsiu,
idealizado e coordenador pelo vereador Andrey Azeredo (MDB).
Indo na contramão do que preconiza o
Ministério da Saúde, as quatro profissionais convidadas para debater o
tema “Saúde da mulher: motivos que causam a mortalidade materna e a
violência obstétrica” afirmaram, de forma contundente, que o assunto
precisa ser amplamente difundido na sociedade porque muitas mulheres
sequer imaginam que foram vítimas deste tipo de violência.
A título de ilustração, uma estudante da
Universidade Salgado de Oliveira – local onde o evento foi realizado
nesta segunda-feira (27) -, testemunhou, ao final das discussões, que
havia descoberto ali que sofreu violência obstétrica.
“Minha mãe foi uma vítima e vive as
consequências disso até hoje, pois perdeu um bebê por sofrimento fetal.
Temos que conscientizar as mulheres vítimas deste tipo de violência e
incentivá-las a denunciar. Muitos não falam nada por medo de represálias
em partos futuros”, contou a defensora pública do Estado de Goiás e
coordenadora do Núcleo Especializado de Defesa e Promoção dos Direitos
da Mulher (NUDEM), Gabriela Hamdan.
O que é
O termo violência obstétrica refere-se a atos categorizados como
fisicamente ou psicologicamente violentos no contexto do trabalho de
parto e nascimento do bebê. Práticas de parto e intervenções médicas
como cesarianas, episiotomias e indução hormonal de parto, coação e
constrangimentos verbais à gestante, não permitir que ela escolha entre
parto normal ou cesárea e até proibição de acompanhante na sala de parto
são exemplos deste tipo de violência.
“Violência obstétrica é
diferente de erro médico, isso precisa ficar bem claro. Inclusive há
uma corrente (de estudiosos, advogados e especialistas) que, como eu,
defendem que é caso de violência sexual, sim!”, enfatizou a advogada,
secretária-geral da Comissão Especial de Valorização da Mulher da OAB-GO
e diretora estratégica do coletivo nacional de advogadas Nascer
Direito, Valéria Mori. “A mulher não deve se sentir culpada por fazer
uma denúncia em uma delegacia. Pelo contrário, ela foi a parte
vulnerável em toda aquela situação”, completou.
“A discussão não é e nunca foi sobre o
termo (violência obstétrica) em si, como tem feito o Ministério da
Saúde. Mas sim o que pode ser feito para minimizar esta situação, o que
pode ser realizado de concreto para que cessem até mesmo as mortes de
mulheres vítimas deste tipo de violência”, disse a enfermeira Ana
Carolina Dias, especialista em Enfermagem Neonatal e docente do curso de
Enfermagem da Universo.
A procuradora do Estado de Goiás, membro
do Conselho Estadual da Mulher e uma das idealizadoras da campanha
Menos Rótulos Mais Respeito, Carla Von Bentzen contou que processa a
maternidade onde ela deu à luz a primeira filha, em Goiânia, por não
terem permitido a entrada do marido dela na sala de parto. Ela também
fez um chamamento: “Eventos como este são importantes porque a gente
acaba muito presos à campanha de conscientização e ações afins. Mas o
que precisamos mesmo é ir para a parte prática”.
Neste contexto, o
vereador Andrey Azeredo lembrou de um projeto de sua autoria, já
aprovado em primeira votação, em que estabelece, por meio da Prefeitura
de Goiânia, políticas públicas em defesa e valorização das mulheres na
Capital.
Ao final, a advogada Valéria Mori também
fez um alerta importante sobre a dificuldade em se ter acesso a
determinados dados em hospitais e órgãos de saúde que comprovem casos de
violência obstétrica. “Não se faz boas políticas públicas sem este tipo
de informação”, lamentou.
Nenhum comentário:
Postar um comentário