quarta-feira, 29 de maio de 2019

'Você se sente um lixo humano', diz vítima após nova denúncia de assédio de médico no ES

Elas registraram queixas em delegacias de Vitória. O médico chegou a ser preso pelo primeiro caso denunciado, mas foi liberado em uma audiência de custódia no domingo (26).

Mulheres denunciam médico cardiologista por assédio em consultas, em Vila Velha, no ES

"Você se sente um lixo humano. A pior parte é ter que contar para o seu marido", descreveu uma nova vítima do médico cardiologista que está sendo investigado por casos de assédio. As denúncias começaram depois que um caso ganhou repercussão na imprensa: o homem chegou a ser preso depois de beijar à força uma paciente de 18 anos. Desde então, mais mulheres estão procurando a polícia.
 
Sem se identificar, a vítima contou que o assédio que sofreu por parte do médico aconteceu no consultório onde também estava a filha dela, na época com nove anos. Foi em junho de 2015. 

"Cheguei relatando para ele que estava sentindo muita dor no tórax e ele pediu que eu deitasse em uma maca. Eu estava com a minha filha de nove anos. Eu perguntei 'Doutor, isso não pode ser um infarto não? As dores no tórax estão muito fortes e meu coração tá muito acelerado'. Aí ele puxou a minha mão, colocou no peito dele, e falou 'Olha como meu coração tá acelerado também'. Eu, na hora, puxei a minha mão", lembrou. 
Mulheres relatam assédio de médico no Espírito Santo — Foto: Reprodução/ TV Gazeta
A mulher também se lembra que o médico cardiologista ainda pediu que ela ficasse na posição de quatro no chão para ser examinada.
"Depois, com minha filha já de costas pra gente, ele foi para um canto, pediu para eu ficar na posição de quatro e começou a me tocar", disse.
Ela disse que só se deu conta que algo estava errado quando saiu do consultório, mas não chegou a denunciar na época, apenas relatou ao marido. Depois da divulgação do caso de assédio na imprensa, ela disse que ganhou coragem para registrar o caso formalmente, na segunda-feira (27).
Assim como ela, mais mulheres que dizem ter sido vítimas de assédio por parte do médico estão aparecendo. Nesta quarta-feira (29), uma aposentada de 53 anos também procurou a polícia pra fazer a denúncia. Ela disse que foi assediada em 2012.
"Ele me colocou na maca. Eu senti que apaguei na hora que ele foi olhar minha pressão e medir meus batimentos cardíacos. Senti que eu estava com mal estar. Quando eu percebi, eu já estava com a blusa abaixada e ele apalpando meus seios", disse.
Foi por medo que ela não denunciou. "Medo demais. A gente é mulher, a todo tempo somos julgadas", disse. 

O médico cardiologista, de 54 anos, trabalha em um hospital particular de Vila Velha. A primeira denúncia foi no final de semana: uma jovem de 18 anos disse que o médico tentou beija-la à força. Ela levou o caso à polícia.
Denúncias aconteceram depois que mulher relatou assédio no Espírito Santo — Foto: Reprodução/ TV Gazeta
O médico chegou a ser preso por importunação sexual, mas foi liberado no domingo (26), depois da audiência de custódia.

CRM-ES

O Conselho Regional de Medicina (CRM-ES) vai abrir, nesta quarta-feira (29), uma sindicância para apurar a conduta e as denúncias contra esse médico cardiologista. 

A sindicância e o julgamento podem durar até dois anos, mas o presidente do CRM já adiantou que se o Conselho perceber indícios de importunação sexual ou entender que esse médico representa risco social, pode afastá-lo de suas funções. 

"A tolerância para esse tipo de conduta é praticamente zero, a gente vai agir com o maior rigor possível porque temos a obrigação de defender a sociedade", disse o presidente Celso Murad. 

Quem disse ter sido vítima do assédio, não esquece dos péssimos momentos ao lado do médico.
"Eu espero que ele pague por tudo que ele fez, não só comigo, mas com todas", falou uma vítima.
O CRM disse ainda que o médico pode ser interditado, ou seja, não vai poder atender mulheres durante a sindicância que vai ser aberta.
O hospital onde o cardiologista trabalha falou que vai aguardar essas investigações antes de tomar qualquer medida. 

A Polícia Civil disse que o caso segue sob investigação da Delegacia da Mulher de Vila Velha sob sigilo. A reportagem não está divulgando o nome do médico, porque ele ainda está sendo investigado. O inquérito ainda vai ser concluído. 

G1 



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