Segundo a Secretaria Municipal de Saúde de Santo Antônio da Barra, universitário saiu antes do fim do plantão e ainda usou o login e senha de outra médica que havia trocado o plantão. Idosa morreu na unidade.
Estudante usava documento de médico durante plantão no qual atendeu idosa, diz Prefeitura |
O estudante de medicina que atendeu uma idosa na unidade de saúde de Santo Antônio da Barra
se apresentou para trabalhar, segundo a Prefeitura, com o documento do
médico que o contratou para sua substituição no plantão, no qual a
mulher de 75 anos morreu. A informação foi passada pela Secretaria
Municipal de Saúde à Polícia Civil, que investiga o caso.
"Foi apurado que ele chegou a unidade portanto documentos de outro
profissional médico. E para tender a população, ele usou o login e a
senha da nossa médica”, disse o diretor da Secretaria Municipal de Saúde
Phier Decarlo.
De com as investigações, quem deveria estar na unidade no dia do
plantão era a médica Liliane Cândida de Paula, contratada pela
Prefeitura. Mas apurações apontam ainda que ela passou o plantão para
outro médico, Matheus Ferreira, mas ele não foi trabalhar e quem estava
atendendo no dia era o estudante de medicina Paulo Ferreira Caixeta, que
ainda teria saído antes do fim do plantão.
A defesa de Matheus e Paulo, que é a mesma, disse que eles ainda não
foram notificados sobre essa investigação da polícia, mas que tudo vai
ser esclarecido.
Já a médica Liliane enviou uma nota, através de seu advogado, na qual
informa que no dia 14 de maio precisou acompanhar para uma consulta
médica e eventual procedimento cirúrgico em Goiânia e por isso contratou
Matheus para substituí-la. A nota diz ainda que “a troca de plantão é
prática comum na unidade, com amplo e geral conhecimento da direção, do
secretário de saúde, e da Prefeitura, e autorizado pela empresa
contratante”. (veja abaixo nota na íntegra)
Segundo a Prefeitura, a médica poderia ter passado o plantão para outro
profissional desde que tivesse comunicado por escrito à Secretaria de
Saúde. No mesmo dia, a pasta abriu uma sindicância, demitiu a médica e
procurou a Polícia Civil para registrar o caso.
"Houve a abertura de uma investigação de crime de homicídio culposo. E
nesse caso houve certa negligência e imperícia, então isso será
devidamente apurado no transcorrer das investigações policiais”, disse o
delegado Danilo Fabiano de Carvalho.
O Conselho Regional de Medicina (Cremego) também está investigando o que aconteceu.
“Com relação à médica que colocou o outro profissional no seu lugar,
ela deve responder apenas administrativamente. O médico que colocou o
estudante para dar o plantão, ele não pode colocar um profissional não
médico para assumir as funções exclusivas de um médico. Pode receber
desde de uma advertência até a cassação do exercício profissional neste
caso”, afirmou o presidente do Cremego, Leonardo Reis.
Já a Universidade de Rio Verde, onde o aluno investigado estuda, disse à
TV Anhanguera que ainda não foi notificada sobre esse caso, mas que
repudia a atitude e que o estudante estava fora das atividades
pedagógicas que envolvem a instituição.
Enquanto as investigações seguem, para a família de Aurora Pereira
Teixeira, de 75 anos, que morreu após procurar a unidade no dia da troca
do plantão, ficam a dor e o desejo de que mais ninguém mais sofra com
esse tipo de negligência.
“Eu acredito que eles têm que tomar uma atitude, porque se aconteceu
com a minha mãe, vai acontecer com outras”, lamentou Maria Madalena da
Rocha.
Unidade de Saúde de Santo Antônio da Barra — Foto: Reprodução/TV Anhanguera |
No dia do plantão
Apesar de já ter feito uma cirurgia cardíaca, Aurora Pereira Teixeira,
era uma idosa ativa. Gostava de andar bicicleta e de pescar nos rios da
região. Mas no dia 15, ela passou mal e foi para a unidade de saúde,
onde foi medicada pelo estudante, que teria se passado pelo médico.
A filha conta que ela foi medicada e dormiu, mas na manhã seguinte
Aurora voltou para o posto com muitas dores no peito. No entanto, quem
tinha passado a medicação, já tinha ido embora, mesmo antes do fim do
plantão.
A prefeita de Santo Antônio da Barra, Sirleide Ramos Ferreira foi à unidade e confirmou a falha.
“Fiquei sabendo pela manhã e a diretora do hospital me ligou chamando
lá. Conversei com as enfermeiras da noite, que relataram o caso. No
horário que a paciente chegou, o médico já tinha ido embora”, disse.
Veja o que diz a defasa da médica:
"NOTA DE ESCLARECIMENTO
Em
atenção à imprensa e à sociedade, em virtude de notícias veiculadas
nesta sexta-feira (24/05/2019), e pelo Boletim de Ocorrência nº.
10387893, registrado na Delegacia de Polícia Civil de Goiás, a Dra.
Liliane Cândida de Paula Souza, vem esclarecer que:
1-A
Notificante foi contratada verbalmente pela empresa FRANÇA &
OLIVEIRA MEDICAL LTDA., inscrita no CNPJ-MF sob nº 32.459.615/0001-77,
sediada na Rua Goiânia, nº 782, Centro Rio Verde - GO, para trabalhar
como médica na Unidade de Saúde Maria Gerônima Pereira, na cidade Santo
Antônio da Barra - GO.
2-No
dia 14/05/2019, a Notificante precisou acompanhar um familiar acometido
por linfoma (CID C81), na cidade de Goiânia - GO, para consulta médica e
eventual procedimento cirúrgico.
4-É
necessário esclarecer que a troca de plantão como foi realizado é
prática comum na Unidade de Saúde, com amplo e geral conhecimento da
direção, do secretário de saúde, e da Prefeitura, e autorizado pela
empresa contratante.
5-Portanto,
eventual responsabilidade cível, criminal ou administrativa não deve
ser atribuída à Notificante. Outrossim, destaca-se que a diretora
técnica e médica plantonista do período diurno, Dra. Nayara Ferreira
França trabalhou normalmente no dia 14/05/2019, e era a responsável pela
transferência/passagem do plantão para o médico Dr. Matheus Ferreira
Machado, CRM/GO 24.087.
6-Insta
salientar que A RESPONSABILIDADE PELO PLANTÃO SÓ SE ENCERRA QUANDO DA
PASSAGEM PRESENCIAL PARA O PRÓXIMO MÉDICO PLANTONISTA. Assim, SE NÃO HÁ
SUBSTITUTO OU SE ESTE ATRASOU, O MÉDICO PLANTONISTA DIURNO não poderia
encerrar sua jornada de trabalho, ainda mais por tratara-se da diretora
técnica.
7-Ademais,
o desligamento da Notificante ocorreu unilateralmente por sua
iniciativa, com anuência da empresa contratante, em decorrência do
problema de saúde narrado no item 2.
9-Por
fim, a Notificante lamenta o ocorrido e se solidariza com os familiares
da paciente que veio a óbito naquela data. E também, informa que está à
disposição da Polícia Civil e do CREMEGO para contribuir com as
investigações.
Rio Verde - GO, 24 de maio de 2019.
Liliane Cândida de Paula Souza, CRM/GO 23.498
Lucas Almeida, OAB/GO 40.455".
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