Secretaria diz que determinou suspensão do lote e registrou queixa na Anvisa
A má qualidade de um dos materiais usados pelos médicos na rede
pública estadual de Sergipe tem gerado reclamação dos profissionais que
atendem nas unidades geridas pela Secretaria de Estado da Saúde.
Ao fim de uma operação de cesária no hospital regional de Nossa
Senhora do Socorro, o ginecologista obstreta Eduardo Prado mostra com
indignação um fio cirúrgico - tipo Vicryl, considerado resistente - se
rompendo facilmente pelos dedos das mãos, podendo levar a sérias
complicações às pacientes. A reclamação, segundo disse em entrevista ao
F5 News, perdura há meses e nada é resolvido.
O vídeo que tem circulado nas redes sociais nesta quarta-feira (22) e
divulgado pelo deputado Georgeo Passos na Assembleia Legislativa,
segundo o obstreta foi para denunciar os problemas na saúde estadual e a
péssima qualidade dos insumos na unidade, como nos demais hospitais
públicos. Resguardando a imagem da paciente, o médico conta que a
cesária já tinha acabado e decidiu mostrar a condição do fio com que
tinha operado a paciente.
"Gastei mais de 15 fios para sulturar a paciente, quando a gente
gasta no máximo 6. Aquele fio (do vídeo) é de Vicryl, que é forte, mas
num fio só eu desfiz ele mais de 15 vezes. Parecia de papel e isso não
existe. Imagine dando ponto na paciente e o fio ficar? Os pontos vão
abrir e pode ter uma complicação grave e quem responde é o médico. Basta
de omissão do Estado e medo de denunciar o que está errado", declarou
Eduardo Prado.
O médico explica que, para a segurança do paciente, em uma operação
não se pode utilizar qualquer tipo de fio cirúrgico. No entanto, tendo
que usar o que há disponível, vários casos de complicações já foram
registradas na unidade. "Em cesária a gente usa muito o catgut cromado e
o vicryl, quando a gente pega o fio catgut cromado a agulha solta
totalmente, e pode cair dentro da barriga da paciente, e para achar? Já
aconteceu várias vezes, pacientes retornando com infecções, com os
pontos abertos, intestino de fora", relata.
Quando não estão em falta, outros materiais, segundo ele, também são de má qualidade nos hospitais da rede pública.
"Às vezes temos que levar a própria roupa de cirurgia porque o
hospital não tem. Não é culpa da diretoria, porque ela cobra, mas da
Secretaria, que se omite. As diretorias dos hospitais relatam que cobram
da Secretaria da Saúde e passam as reclamações, mas não temos tido
providências", diz Prado.
O médico solicita que haja maior cuidado com a conferência dos
insumos; cobra ainda que as equipes técnicas dos hospitais sejam
consultadas para observar a qualidade e que haja resposta mais rápida da
Secretaria de Estado da Saúde às reclamações.
Por meio de nota, a Secretaria de Estado da Saúde informou que, assim
que tomou conhecimento do fato, a pasta determinou a imediata suspensão
do lote de fios cirúrgicos e registrou uma queixa na Agência Nacional
de Vigilância Sanitária (Anvisa). Também foi solicitada uma avaliação
técnica da indústria.
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