quarta-feira, 22 de maio de 2019

Médico denuncia má qualidade de fio cirúrgico na rede de SE

Secretaria diz que determinou suspensão do lote e registrou queixa na Anvisa

A má qualidade de um dos materiais usados pelos médicos na rede pública estadual de Sergipe tem gerado reclamação dos profissionais que atendem nas unidades geridas pela Secretaria de Estado da Saúde.

Ao fim de uma operação de cesária no hospital regional de Nossa Senhora do Socorro, o ginecologista obstreta Eduardo Prado mostra com indignação um fio cirúrgico - tipo Vicryl, considerado resistente - se rompendo facilmente pelos dedos das mãos, podendo levar a sérias complicações às pacientes. A reclamação, segundo disse em entrevista ao F5 News, perdura há meses e nada é resolvido.

O vídeo que tem circulado nas redes sociais nesta quarta-feira (22) e divulgado pelo deputado Georgeo Passos na Assembleia Legislativa, segundo o obstreta foi para denunciar os problemas na saúde estadual e a péssima qualidade dos insumos na unidade, como nos demais hospitais públicos. Resguardando a imagem da paciente, o médico conta que a cesária já tinha acabado e decidiu mostrar a condição do fio com que tinha operado a paciente.

"Gastei mais de 15 fios para sulturar a paciente, quando a gente gasta no máximo 6. Aquele fio (do vídeo) é de Vicryl, que é forte, mas num fio só eu desfiz ele mais de 15 vezes. Parecia de papel e isso não existe. Imagine dando ponto na paciente e o fio ficar? Os pontos vão abrir e pode ter uma complicação grave e quem responde é o médico. Basta de omissão do Estado e medo de denunciar o que está errado", declarou Eduardo Prado.
O médico explica que, para a segurança do paciente, em uma operação não se pode utilizar qualquer tipo de fio cirúrgico. No entanto, tendo que usar o que há disponível, vários casos de complicações já foram registradas na unidade. "Em cesária a gente usa muito o catgut cromado e o vicryl, quando a gente pega o fio catgut cromado a agulha solta totalmente, e pode cair dentro da barriga da paciente,  e para achar? Já aconteceu várias vezes, pacientes retornando com infecções, com os pontos abertos, intestino de fora", relata. 

Quando não estão em falta, outros materiais, segundo ele, também são de má qualidade nos hospitais da rede pública.

"Às vezes temos que levar a própria roupa de cirurgia porque o hospital não tem. Não é culpa da diretoria, porque ela cobra, mas da Secretaria, que se omite. As diretorias dos hospitais relatam que cobram da Secretaria da Saúde e passam as reclamações, mas não temos tido providências", diz Prado. 

O médico solicita que haja maior cuidado com a conferência dos insumos; cobra ainda que as equipes técnicas dos hospitais sejam consultadas para observar a qualidade e que haja resposta mais rápida da Secretaria de Estado da Saúde às reclamações.

Por meio de nota, a Secretaria de Estado da Saúde informou que, assim que tomou conhecimento do fato, a pasta determinou a imediata suspensão do lote de fios cirúrgicos e registrou uma queixa na Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa). Também foi solicitada uma avaliação técnica da indústria.



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