Nos quatro primeiros meses de 2018, foram registradas apenas 26 denúncias através do 180, número da Central de Atendimento à Mulher. No mesmo período de 2019, foram 260. Especialistas acreditam que as mulheres estão denunciando mais esse tipo de violação, mas também fazem críticas ao sistema de saúde.
Expressão 'violência obstétrica' ainda é motivo de polêmica. Foto: Pixabay |
"Eu pedi até pra Deus. 'Deus me leva', porque a dor era tanta que a
gente não tem como dar conta da dor que eu sofri. E eu não conseguia
colocar o bebê para fora. E eles ficavam insistindo. 'Tu vai botar, vai
botar'. Ficavam usando um vácuo".
A expressão "violência obstétrica" ainda é motivo de polêmica. Um despacho do Ministério da Saúde, do início do mês, chamou o termo de inadequado e sugeriu que fosse abolido. Ele se refere à violência física ou psicológica praticada por profissionais de saúde a mulheres grávidas, antes, durante ou depois do parto. São ações como comentários ofensivos, ou práticas e intervenções desnecessárias e até violentas. Foi o que viveu a Carine dos Reis. Em novembro de 2017, a filha dela nasceu de parto normal, num hospital público de Santa Catarina, onde o médico chegou a dar socos na barriga de Carine.
"Isso não é um parto humanizado, porque de humanizado não teve nada, porque eu não tive escolha, eu não pude ser ouvida. Eu pedi pra fazer cesárea, meu marido também pediu pra eu fazer cesárea. A equipe tinha obstetra, tinha um monte de enfermeiro segundo minhas pernas, meus braços, pra eu não sair dali. Eu sentia tanta dor que eu queria sair dali. Eu não aguentava de tanta dor. Eles puxavam lá embaixo e o médico chegou a socar minha barriga duas vezes pra minha menina nascer", contou Carine.
A Central de Atendimento à Mulher, do governo federal, registrou, nos quatro primeiros meses de 2019, um número dez vezes maior de denúncias desse tipo de violência do que no mesmo período do ano passado. De janeiro a abril de 2018, 26 mulheres ligaram pro 180 e disseram ter sofrido violência obstétrica. No mesmo período desse ano, foram 260. Os dados foram adiantados para a CBN. Antes de 2018, casos desse tipo eram registrados no índice geral de denúncias de violência. Para a professora da UFRJ Lígia Bahia, o aumento no número de registros pode indicar que mais mulheres decidiram denunciar agressões.
"O que a gente tem que olhar não é exatamente esse número tão absoluto. 'Aumentou tantos por cento'. Significa que isso é uma ponta do iceberg. Várias outras mulheres devem ter sofrido situações semelhantes. Aumentou graças, primeiro, à divulgação de pesquisas sobre o que está ocorrendo com o parto no Brasil. A gente conseguiu ter sucesso na divulgação de violências ao parto. E isso é muito importante porque estimula, então, que as pessoas denunciem", afirma a especialista.
Já pra defensora pública Flávia Nascimento, esse aumento pode estar ligado também à precarização da rede de saúde:
"A gente vem percebendo que, de um determinado momento pra cá, a atenção à saúde da mulher vem sofrendo reveses, principalmente na atenção primária. Isso contribui muito para o aumento de casos de violência obstétrica, que é um fenômeno ligado também à negligência."
Mas o problema não se restringe à rede pública. A Patricia Borbolla fez duas cesarianas numa maternidade particular de São Paulo - e afirma ter sofrido violência e ambas. Numa delas, os profissionais chegaram a amarrar seus braços.
"E quando eu entrei na sala, o médico começou a falar pro outro que a parte boa de cesárea em menina muito nova é que dava pra treinar corte de churrasco. Quando meu filho nasceu, ele veio pro meu colo e ninguém me desamarrou. Eu não pude abraçá-lo nem nada, ele ficou ali. Então é culpa de um sistema mesmo, eu podia ter tido dois partos normais e eu não tive porque os médicos não queriam. Eu podia ter tido um parto respeitoso", lamenta ela.
O Ministério da Saúde disse que os dados são do Ministério da Mulher e que, por isso, não comentaria os números. Já o Ministério da Mulher disse que acha a pauta "sensível" e decidiu não responder os questionamentos da CBN.
A expressão "violência obstétrica" ainda é motivo de polêmica. Um despacho do Ministério da Saúde, do início do mês, chamou o termo de inadequado e sugeriu que fosse abolido. Ele se refere à violência física ou psicológica praticada por profissionais de saúde a mulheres grávidas, antes, durante ou depois do parto. São ações como comentários ofensivos, ou práticas e intervenções desnecessárias e até violentas. Foi o que viveu a Carine dos Reis. Em novembro de 2017, a filha dela nasceu de parto normal, num hospital público de Santa Catarina, onde o médico chegou a dar socos na barriga de Carine.
"Isso não é um parto humanizado, porque de humanizado não teve nada, porque eu não tive escolha, eu não pude ser ouvida. Eu pedi pra fazer cesárea, meu marido também pediu pra eu fazer cesárea. A equipe tinha obstetra, tinha um monte de enfermeiro segundo minhas pernas, meus braços, pra eu não sair dali. Eu sentia tanta dor que eu queria sair dali. Eu não aguentava de tanta dor. Eles puxavam lá embaixo e o médico chegou a socar minha barriga duas vezes pra minha menina nascer", contou Carine.
A Central de Atendimento à Mulher, do governo federal, registrou, nos quatro primeiros meses de 2019, um número dez vezes maior de denúncias desse tipo de violência do que no mesmo período do ano passado. De janeiro a abril de 2018, 26 mulheres ligaram pro 180 e disseram ter sofrido violência obstétrica. No mesmo período desse ano, foram 260. Os dados foram adiantados para a CBN. Antes de 2018, casos desse tipo eram registrados no índice geral de denúncias de violência. Para a professora da UFRJ Lígia Bahia, o aumento no número de registros pode indicar que mais mulheres decidiram denunciar agressões.
"O que a gente tem que olhar não é exatamente esse número tão absoluto. 'Aumentou tantos por cento'. Significa que isso é uma ponta do iceberg. Várias outras mulheres devem ter sofrido situações semelhantes. Aumentou graças, primeiro, à divulgação de pesquisas sobre o que está ocorrendo com o parto no Brasil. A gente conseguiu ter sucesso na divulgação de violências ao parto. E isso é muito importante porque estimula, então, que as pessoas denunciem", afirma a especialista.
Já pra defensora pública Flávia Nascimento, esse aumento pode estar ligado também à precarização da rede de saúde:
"A gente vem percebendo que, de um determinado momento pra cá, a atenção à saúde da mulher vem sofrendo reveses, principalmente na atenção primária. Isso contribui muito para o aumento de casos de violência obstétrica, que é um fenômeno ligado também à negligência."
Mas o problema não se restringe à rede pública. A Patricia Borbolla fez duas cesarianas numa maternidade particular de São Paulo - e afirma ter sofrido violência e ambas. Numa delas, os profissionais chegaram a amarrar seus braços.
"E quando eu entrei na sala, o médico começou a falar pro outro que a parte boa de cesárea em menina muito nova é que dava pra treinar corte de churrasco. Quando meu filho nasceu, ele veio pro meu colo e ninguém me desamarrou. Eu não pude abraçá-lo nem nada, ele ficou ali. Então é culpa de um sistema mesmo, eu podia ter tido dois partos normais e eu não tive porque os médicos não queriam. Eu podia ter tido um parto respeitoso", lamenta ela.
O Ministério da Saúde disse que os dados são do Ministério da Mulher e que, por isso, não comentaria os números. Já o Ministério da Mulher disse que acha a pauta "sensível" e decidiu não responder os questionamentos da CBN.
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