quarta-feira, 22 de maio de 2019

MP-PR diz que 800 pessoas pagaram por procedimentos médicos que deveriam ter sido feitos pelo SUS no Paraná

Esquema criminoso foi desvendado pelo Ministério Público do Paraná (MP-PR) através da Operação Mustela; sete investigados foram denunciados por concussão.

MP denuncia sete pessoas num esquema que cobrava irregularmente de pacientes do SUS
O Ministério Público do Paraná (MP-PR) identificou 800 vítimas do esquema de propina entre médicos e empresários para furar a fila do Sistema Único de Sáude (SUS) no Paraná. 

Os pacientes são de todas as regiões do estado. Noventa e sete deles prestaram depoimentos e contaram histórias parecidas de que tiveram que pagar por um procedimento médico que deveria ser feito pelo SUS. A RPC teve acesso aos depoimentos. Veja abaixo.

Sete investigados no esquema foram denunciados pelo MP-PR por concussão, que é quando a pessoa usa o cargo público para exigir vantagem indevida. De acordo com os promotores, há provas que indicam que "dezenas de pessoas, dentre elas agentes públicos, estavam envolvidas na sistemática inserção de pacientes em filas de prioridade do SUS. 

Os denunciados são investigados pela Operação Mustela, deflagrada pelo Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado (Gaeco). 

Como funcionava o esquema

O esquema funcionava da seguinte forma: pacientes que esperavam por cirurgias, procuravam políticos e assessores que tinham contatos com médicos de várias especialidades. 

Os médicos davam prioridade para os pacientes indicados, mas cobravam de R$ 2 a R$ 8 mil pelos procedimentos que deveriam ser feitos gratuitamente.
 
De acordo com as investigações, as cirurgias eram feitas nos hospitais São Lucas e do Rocio, em Campo Largo, e no Angelina Caron, em Campina Grande do Sul, na Região Metropolitana de Curitiba.

Veja alguns dos depoimentos prestados ao MP-PR

Uma mulher, que preferiu não se identificar, disse que fez uma cirurgia de vesícula em 2018 e que pagou R$ 1,5 mil pelo procedimento no Hospital São Lucas. 

"Eu entrei oito horas e às dez horas eu já estava na mesa", contou a paciente. Ela disse que o procedimento foi agendado pelo vereador Marquinhos, de Siqueira Campos. A paciente contou ainda que não sabe o nome do médico que realizou a cirurgia e nem pra quem foi entregue o valor pago por ela. "Eu achei estranho", argumentou a mulher. 

Outra paciente, que também não quis se identificar, pagou pela mesma cirurgia. Ela afirmou que foi encaminhada por Lourival Pavão, que é ex-assessor do governador Ratinho Junior (PSD), e que o médico pediu R$ 2 mil em dinheiro. 

"Eu achava que a cirurgia era particular porque eu ia ter que pagar. Aí, eu chegando lá, fui fazer a avaliação antes da cirurgia com o doutor Volnei. E daí ele falou que ele não aceitava cartão e nem transferência, nada. Tinha que ser dinheiro. Pago em dinheiro", contou a paciente.

Médico afastado

O médico Volnei José Guareschi foi afastado das atividades pela Vara Criminal de Campo Largo. Ele foi um dos presos na Operação Mustela. 

Na decisão, o juiz afirmou que o médico permanecia exercendo a função no hospital. Situação, segundo ele, que necessitava de proibição urgente, tendo em vista que não se pode separar a atividade médica da atividade criminosa. 

"Essa é a grande maldade do esquema porque certamente pessoas podem ter falecido em razão da espera inadequada. Isso é muito difícil de comprovar, mas a corrupção tem esse efeito perverso", argumentou o promotor Hugo Corrêa Urbano. 

O que dizem as defesas

A defesa do médico Volnei José Guareschi, representada pela advogada Giovanna Prezutti Denardi, disse que foi surpreendida com a denúncia apresentada e com o afastamento do médico. Os advogados consideraram "absolutamente desnecessária a medida, uma vez que o cliente tem cooperado com as investigações realizadas". 

A defesa argumentou ainda que a medida desfavoreceu a rotina do Hospital São Lucas, e compromete o bom atendimento de todas as pessoas que dependem Sistema Único de Saúde e dos serviços por ele prestados. "Confiantes na justiça, demonstrarão que as acusações são descabidas e incondizentes com a realidade". 

A defesa de Lourival Pavão afirmou que ainda está analisando os documentos juntados na denúncia mas comprovará a inocência dele no decorrer do processo. 

O Hospital São Lucas disse que não foi intimado mas vai cumprir determinação judicial e avaliar as medidas cabíveis. 

O Hospital Angelina Caron disse que ainda não foi notificado e está à disposição para colaborar com as investigações. "O Hospital Angelina Caron atua dentro dos princípios da ética e do absoluto respeito ao ordenamento legal", diz trecho da nota. 

G1 


 
 
 
 
 

 

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