Esquema criminoso foi desvendado pelo Ministério Público do Paraná (MP-PR) através da Operação Mustela; sete investigados foram denunciados por concussão.
MP denuncia sete pessoas num esquema que cobrava irregularmente de pacientes do SUS |
O Ministério Público do Paraná (MP-PR) identificou 800 vítimas do
esquema de propina entre médicos e empresários para furar a fila do
Sistema Único de Sáude (SUS) no Paraná.
Os pacientes são de todas as regiões do estado. Noventa e sete deles
prestaram depoimentos e contaram histórias parecidas de que tiveram que
pagar por um procedimento médico que deveria ser feito pelo SUS. A RPC teve acesso aos depoimentos. Veja abaixo.
Sete investigados no esquema foram denunciados pelo MP-PR por concussão,
que é quando a pessoa usa o cargo público para exigir vantagem
indevida. De acordo com os promotores, há provas que indicam que
"dezenas de pessoas, dentre elas agentes públicos, estavam envolvidas na
sistemática inserção de pacientes em filas de prioridade do SUS.
Os denunciados são investigados pela Operação Mustela, deflagrada pelo Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado (Gaeco).
Como funcionava o esquema
O esquema funcionava da seguinte forma: pacientes que esperavam por
cirurgias, procuravam políticos e assessores que tinham contatos com
médicos de várias especialidades.
De acordo com as investigações, as cirurgias eram feitas nos hospitais
São Lucas e do Rocio, em Campo Largo, e no Angelina Caron, em Campina
Grande do Sul, na Região Metropolitana de Curitiba.
Veja alguns dos depoimentos prestados ao MP-PR
Uma mulher, que preferiu não se identificar, disse que fez uma cirurgia
de vesícula em 2018 e que pagou R$ 1,5 mil pelo procedimento no
Hospital São Lucas.
"Eu entrei oito horas e às dez horas eu já estava na mesa", contou a
paciente. Ela disse que o procedimento foi agendado pelo vereador
Marquinhos, de Siqueira Campos. A paciente contou ainda que não sabe o
nome do médico que realizou a cirurgia e nem pra quem foi entregue o
valor pago por ela. "Eu achei estranho", argumentou a mulher.
Outra paciente, que também não quis se identificar, pagou pela mesma
cirurgia. Ela afirmou que foi encaminhada por Lourival Pavão, que é
ex-assessor do governador Ratinho Junior (PSD), e que o médico pediu R$ 2
mil em dinheiro.
"Eu achava que a cirurgia era particular porque eu ia ter que pagar.
Aí, eu chegando lá, fui fazer a avaliação antes da cirurgia com o doutor
Volnei. E daí ele falou que ele não aceitava cartão e nem
transferência, nada. Tinha que ser dinheiro. Pago em dinheiro", contou a
paciente.
Médico afastado
O médico Volnei José Guareschi foi afastado das atividades pela Vara
Criminal de Campo Largo. Ele foi um dos presos na Operação Mustela.
Na decisão, o juiz afirmou que o médico permanecia exercendo a função
no hospital. Situação, segundo ele, que necessitava de proibição
urgente, tendo em vista que não se pode separar a atividade médica da
atividade criminosa.
"Essa é a grande maldade do esquema porque certamente pessoas podem ter
falecido em razão da espera inadequada. Isso é muito difícil de
comprovar, mas a corrupção tem esse efeito perverso", argumentou o
promotor Hugo Corrêa Urbano.
O que dizem as defesas
A defesa do médico Volnei José Guareschi, representada pela advogada
Giovanna Prezutti Denardi, disse que foi surpreendida com a denúncia
apresentada e com o afastamento do médico. Os advogados consideraram
"absolutamente desnecessária a medida, uma vez que o cliente tem
cooperado com as investigações realizadas".
A defesa argumentou ainda que a medida desfavoreceu a rotina do
Hospital São Lucas, e compromete o bom atendimento de todas as pessoas
que dependem Sistema Único de Saúde e dos serviços por ele prestados.
"Confiantes na justiça, demonstrarão que as acusações são descabidas e
incondizentes com a realidade".
A defesa de Lourival Pavão afirmou que ainda está analisando os
documentos juntados na denúncia mas comprovará a inocência dele no
decorrer do processo.
O Hospital São Lucas disse que não foi intimado mas vai cumprir determinação judicial e avaliar as medidas cabíveis.
O Hospital Angelina Caron disse que ainda não foi notificado e está à
disposição para colaborar com as investigações. "O Hospital Angelina
Caron atua dentro dos princípios da ética e do absoluto respeito ao
ordenamento legal", diz trecho da nota.
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