Paciente retornou delirando, em um carrinho de mão, e deu entrada pela
segunda vez como morador de rua. Família denuncia negligência
Paciente conseguiu passar pelo porta da frente do HGE sem que ninguém percebesse. Foto: Google Maps |
Um idoso de 65 anos, em estado de abstinência alcoólica, conseguiu
fugir pela porta da frente do Hospital Geral do Estado e retornou à
unidade um dia depois, em um carrinho de mão, como morador de rua e com o
quadro de saúde mais grave. É o que denuncia a filha do paciente,
Adriana Marques, que chegou a registrar um Boletim de Ocorrência (BO),
na Central de Flagrantes I, em Maceió.
O paciente é de São Miguel dos Campos e convive com o vício em
bebidas alcoólicas há mais de 30 anos. Segundo a filha, em alguns
momentos ele tem crises, principalmente quando sente falta da bebida. Na
segunda-feira (22), ela afirma que o idoso foi para uma Unidade de
Pronto Atendimento (UPA) na cidade onde moram, mas, devido à situação,
ele foi transferido no mesmo dia para o HGE em Maceió. Ele deu entrada
na unidade às 16h da segunda com um quadro de ansiedade e muita
agitação, ficando na área azul do hospital. Depois, de acordo com a
filha, foi diagnosticado com hemorragia digestiva alta.
“É um senhor difícil. Durante sua internação, chegou muitas vezes a
levantar a mão para meu primo que estava o acompanhando, além de ter
deixado os demais pacientes do ambiente assustados, mas em nenhum
momento ele tentou agredir ninguém. O meu primo, que o acompanhou, por
diversas vezes pediu ajuda aos profissionais de saúde do setor, mas foi
ignorado e muitas vezes chegou a ouvir ironias ao pedir que o paciente
fosse sedado ou até mesmo contido”, conta Adriana.
Ela afirma que uma enfermeira a questionou se ela amarraria o pai
para que aplicassem o medicamento porque o idoso não quis se medicar.
“Como um idoso, de 65 anos, naquele estado, iria ter a capacidade de
escolher se iria querer se medicar ou não?”, questiona, alegando que
houve negligência do hospital, já que ouviu dos profissionais que não
havia maqueiros para segurar o paciente, além de se negarem a fazer um
exame de endoscopia, da qual ele precisava.
“Meu pai deixou o hospital por volta das 16h, passando por todos os
seguranças e funcionários do hospital, e o que mais me causa indignação
é: um paciente há três dias internado no hospital, ainda com a roupa que
chegou, não teve direito ao menos a um banho? Onde estava a
identificação do braço do meu pai? E a roupa do hospital para
identificá-lo também como paciente, e como que um senhor, na situação em
que estava, conseguiu passar por todos do hospital e sair como uma
pessoa qualquer, em um lugar desconhecido, despreparado, e correndo
risco de vida?”, desabafa a filha do idoso.
Fuga e volta com a ajuda de desconhecido
Adriana afirma que o pai fugiu da unidade na quarta-feira (24) pela
tarde e não houve mais nenhum contato dele com a família que,
desesperada, registrou um Boletim de Ocorrência na Central de Flagrantes
I, no Farol, em Maceió. Neste tempo, a família teve medo que, na
situação de crise, ele fosse achado sem vida. O paciente só foi
encontrado, segundo ela, porque, ao ir em uma segunda delegacia próximo
ao hospital, um policial informou à família ter visto o paciente.
A informação recebida por ela pelo policial é de que o idoso chegou
acompanhado, em um carrinho de mão, por uma pessoa que não foi
identificada. Logo após, o policial ajudou o idoso a retornar ao HGE por
volta das 17h de quinta-feira (25). Ele teria dado entrada como morador
de rua.
“Ele foi encontrado em um terreno baldio e acredito que algum gari o
encontrou e o levou no carrinho de mão para a delegacia. Não recebemos a
notícia do retorno dele pelo hospital, e sim pelo policial, que nos
levou até ele. Meu pai estava sem documentos e entrou como morador de
rua. Uma situação deplorável, que causa indignação”, comenta a filha,
afirmando, que o quadro de saúde dele se agravou enquanto ele esteve
fora do hospital.
“Meu pai voltou totalmente debilitado. Retornou ao hospital
delirando, sem falar, só murmurava. O quadro dele piorou bastante.
Quando ele entrou pela primeira vez, não entrou nesse estado. Ele
falava, ele andava devagar porque estava fraco e vinha sem comer por
conta do vício dele. Ele reconhecia todo mundo e desta segunda vez não
reconhecia ninguém. Quando cheguei e vi, temi pela vida dele”, finaliza.
O OP9 entrou em contato com o HGE para saber o
estado de saúde do paciente e o posicionamento da unidade sobre o que
ocorreu. Confira nota na íntegra:
O Hospital Geral do Estado (HGE) informa que o usuário José
Marques dos Santos, de 65 anos, está internado na Área Vermelha Trauma.
Seu estado de saúde é considerado estável, porém inspira cuidados devido
ao quadro de hemorragia digestiva alta. Sua primeira entrada aconteceu
no último dia 22, quando estava sendo estabilizado para avanço do
tratamento. Entretanto, dois dias depois, mesmo acompanhado de um
familiar, o usuário conseguiu fugir do hospital movido por uma crise de
abstinência. Seu histórico na internação aponta agressividade e
resistência à conduta médica, mesmo com acompanhamento da equipe
multidisciplinar. No dia seguinte à evasão, José Marques foi resgatado e
trazido para a unidade, onde segue hospitalizado para estabilizar nos
níveis de glicemia e, posteriormente, recuperar o tratamento médico
iniciado.
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