sábado, 4 de maio de 2019

Imagem mostra estudante viva após dar à luz com uso de fórceps

Foto divulgada pelo companheiro tirada após o parto mostra a estudante de 18 anos instantes antes de morrer em hospital. A jovem queria cesariana, mas como não havia anestesista foi feito parto normal com uso do fórceps

A jovem Ana Paula ao lado da bebê Estella e do companheiro Igor Aparecido. A estudante não resistiu ao pós-parto e morreu (Imagem divulgada por Igor Aparecido)
Ana Paula Saqui, de 18 anos, morreu na manhã do último sábado (27) depois de ser submetida a um parto normal com uso do fórceps no Hospital São Luiz, na cidade de Boituva (SP).
 
Grávida de nove meses, a estudante deu entrada no hospital na noite de quinta-feira (25). A médica que a atendeu prescreveu que Ana Paula tomasse um soro com um medicamento e sugeriu que ela esperasse pelo trabalho de parto no hospital ou em casa.

Ana Paula e Igor Aparecido Pereira, companheiro dela, optaram por voltar para a casa. No entanto, na madrugada de sexta-feira (26) eles retornaram ao Hospital São Luiz.

A gestante recebeu atendimento da equipe de enfermagem e por volta da meia noite a médica verificou que a dilatação de Ana Paula estava apta para o parto normal.

A estudante pediu que fosse feita cesariana e a médica perguntou pelo anestesista. Segundo o Boletim de Ocorrência realizado pela família da vítima, o anestesista informou que só conseguiria chegar ao hospital apenas às 16h.

Em seguida, a médica voltou a tentar o parto normal; dessa vez, com o uso do fórceps. O parto aconteceu e Ana Paula foi encaminhada ao quarto do hospital, mas ela passou a ter hemorragia.

Nas horas seguintes, o quadro de Ana Paula se agravou e ela foi encaminhada para um outro hospital, na cidade de Sorocaba (SP). A jovem não resistiu e morreu antes de chegar na unidade na manhã de sábado (27).

“Minha filha tinha tudo para viver feliz com a família dela, com a filhinha, o marido. E ela não está mais aqui para viver essa vida com eles”, lamenta a mãe de Ana Paula.

Última foto

Igor Aparecido divulgou a última foto (imagem acima) de sua companheira com vida. A imagem foi tirada imediatamente após o parto e mostra Ana Paula com a bebê e o companheiro.

Igor diz que vai cuidar da criança junto da família de Ana Paula. “A família ficou abalada e eu fiquei muito abalado, mas tem que ser forte por causa da [bebê] Estella. Já estou com ela em casa e ela está boazinha, graças a Deus. Todo mundo dá assistência. Até os amigos”.

A bebê recebeu alta hospitalar na terça-feira (30). “Agora que ela recebeu alta todo mundo junto vai cuidar. Ela vai ficar um pouquinho comigo e um pouquinho com a avó. Vamos cuidar muito bem, dar muito amor e carinho”.

Abertura de CEI

A Comissão de Ética do Hospital São Luiz de Boituva abriu uma sindicância na segunda-feira (29) para investigar a morte da jovem. Seis vereadores da cidade protocolaram o pedido para a criação de uma Comissão Especial de Inquérito (CEI) para apurar a morte da estudante.

Assinaram o pedido para abertura da CEI: Adilson Eletricista (PTB), Nelson da Farmácia (DEM), Haroldo do Recanto (PSDB), Cida do Orley (Rede), Nei Bom (PSD) e Rodrigo Calzzetta (PCdoB).

Fórceps

O fórceps é um instrumento que agarra a cabeça do bebê com o intuito de puxá-lo pelo canal da vagina da mulher. Há riscos num parto com fórceps e recomenda-se que seu uso seja apenas em último caso, quando há perigo para a mulher e para a criança.

Os riscos e consequências para a mãe são muito mais frequentes e são consideradas de maior gravidade do que os riscos associados ao bebê.

O parto com fórceps aumenta o risco de sofrer distensões vaginais, uterinas, perineais e no esfíncter anal. Também são usuais os deslocamentos musculares e de algumas partes do corpo como a pélvis.

O Ministério da Saúde cita o fórceps na lista dos “métodos a serem evitados, quando possível”. Outros procedimentos que devem ser evitados são: episiotomia (corte no períneo), lavagem intestinal antes do parto e a “manobra de Kristeller”, quando se pressiona o útero da mulher para ajudar a expulsão da criança.

A Organização Mundial da Saúde (OMS) emitiu em 2018 novas diretrizes para estabelecer padrões de atendimento globais para mulheres grávidas saudáveis e reduzir intervenções médicas desnecessárias, a menos que existam riscos reais de complicações.

A nova recomendação reconhece que cada trabalho de parto é único e que a duração da primeira etapa do processo varia de uma mulher para outra. O documento da OMS inclui 56 recomendações e pode ser lido aqui.

180

O ‘Ligue 180’ recebe denúncias de violência obstétrica. O programa foi criado em 2005, no governo do então presidente Luiz Inácio Lula da Silva para orientar mulheres sobre direitos e serviços públicos.

Em 2014, no governo da então presidente Dilma Rousseff, o Ligue 180 também passou a ser disque-denúncia, com capacidade de envio de denúncias para as secretarias de Segurança Pública estaduais e para os ministérios públicos locais.
A jovem Ana Paula Saqui






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