Foto divulgada pelo companheiro tirada após o parto mostra a estudante de 18 anos instantes antes de morrer em hospital. A jovem queria cesariana, mas como não havia anestesista foi feito parto normal com uso do fórceps
A jovem Ana Paula ao lado da bebê Estella e do companheiro Igor Aparecido. A estudante não resistiu ao pós-parto e morreu (Imagem divulgada por Igor Aparecido) |
Ana Paula Saqui, de 18 anos, morreu na manhã do
último sábado (27) depois de ser submetida a um parto normal com uso do
fórceps no Hospital São Luiz, na cidade de Boituva (SP).
Grávida de nove meses, a estudante deu entrada no
hospital na noite de quinta-feira (25). A médica que a atendeu
prescreveu que Ana Paula tomasse um soro com um medicamento e sugeriu
que ela esperasse pelo trabalho de parto no hospital ou em casa.
Ana Paula e Igor Aparecido Pereira, companheiro
dela, optaram por voltar para a casa. No entanto, na madrugada de
sexta-feira (26) eles retornaram ao Hospital São Luiz.
A gestante recebeu atendimento da equipe de
enfermagem e por volta da meia noite a médica verificou que a dilatação
de Ana Paula estava apta para o parto normal.
A estudante pediu que fosse feita cesariana e a
médica perguntou pelo anestesista. Segundo o Boletim de Ocorrência
realizado pela família da vítima, o anestesista informou que só
conseguiria chegar ao hospital apenas às 16h.
Em seguida, a médica voltou a tentar o parto
normal; dessa vez, com o uso do fórceps. O parto aconteceu e Ana Paula
foi encaminhada ao quarto do hospital, mas ela passou a ter hemorragia.
Nas horas seguintes, o quadro de Ana Paula se
agravou e ela foi encaminhada para um outro hospital, na cidade de
Sorocaba (SP). A jovem não resistiu e morreu antes de chegar na unidade
na manhã de sábado (27).
“Minha filha tinha tudo para viver feliz com a
família dela, com a filhinha, o marido. E ela não está mais aqui para
viver essa vida com eles”, lamenta a mãe de Ana Paula.
Última foto
Igor Aparecido divulgou a última foto (imagem acima) de sua companheira com vida. A imagem foi tirada imediatamente após o parto e mostra Ana Paula com a bebê e o companheiro.
Igor diz que vai cuidar da criança junto da família
de Ana Paula. “A família ficou abalada e eu fiquei muito abalado, mas
tem que ser forte por causa da [bebê] Estella. Já estou com ela em casa e
ela está boazinha, graças a Deus. Todo mundo dá assistência. Até os
amigos”.
A bebê recebeu alta hospitalar na terça-feira (30).
“Agora que ela recebeu alta todo mundo junto vai cuidar. Ela vai ficar
um pouquinho comigo e um pouquinho com a avó. Vamos cuidar muito bem,
dar muito amor e carinho”.
Abertura de CEI
A Comissão de Ética do Hospital São Luiz de Boituva
abriu uma sindicância na segunda-feira (29) para investigar a morte da
jovem. Seis vereadores da cidade protocolaram o pedido para a criação de
uma Comissão Especial de Inquérito (CEI) para apurar a morte da
estudante.
Assinaram o pedido para abertura da CEI: Adilson
Eletricista (PTB), Nelson da Farmácia (DEM), Haroldo do Recanto (PSDB),
Cida do Orley (Rede), Nei Bom (PSD) e Rodrigo Calzzetta (PCdoB).
Fórceps
O fórceps é um instrumento que agarra a cabeça do
bebê com o intuito de puxá-lo pelo canal da vagina da mulher. Há riscos
num parto com fórceps e recomenda-se que seu uso seja apenas em último
caso, quando há perigo para a mulher e para a criança.
Os riscos e consequências para a mãe são muito mais
frequentes e são consideradas de maior gravidade do que os riscos
associados ao bebê.
O parto com fórceps aumenta o risco de sofrer
distensões vaginais, uterinas, perineais e no esfíncter anal. Também são
usuais os deslocamentos musculares e de algumas partes do corpo como a
pélvis.
O Ministério da Saúde cita o fórceps na lista dos
“métodos a serem evitados, quando possível”. Outros procedimentos que
devem ser evitados são: episiotomia (corte no períneo), lavagem
intestinal antes do parto e a “manobra de Kristeller”, quando se
pressiona o útero da mulher para ajudar a expulsão da criança.
A Organização Mundial da Saúde (OMS) emitiu em 2018
novas diretrizes para estabelecer padrões de atendimento globais para
mulheres grávidas saudáveis e reduzir intervenções médicas
desnecessárias, a menos que existam riscos reais de complicações.
A nova recomendação reconhece que cada trabalho de
parto é único e que a duração da primeira etapa do processo varia de uma
mulher para outra. O documento da OMS inclui 56 recomendações e pode ser lido aqui.
180
O ‘Ligue 180’ recebe denúncias de violência
obstétrica. O programa foi criado em 2005, no governo do então
presidente Luiz Inácio Lula da Silva para orientar mulheres sobre
direitos e serviços públicos.
Em 2014, no governo da então presidente Dilma
Rousseff, o Ligue 180 também passou a ser disque-denúncia, com
capacidade de envio de denúncias para as secretarias de Segurança
Pública estaduais e para os ministérios públicos locais.
A jovem Ana Paula Saqui |
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