A morte de um recém-nascido horas após o parto, registrada no último
sábado (4), na maternidade do Hospital Municipal Nossa Senhora da Luz
dos Pinhais, está sendo investigada pela Secretaria de Saúde Municipal e
pelas prefeituras de Pinhais e Piraquara. A família alega que a
gestante procurou o hospital duas vezes antes de ser feita a cesárea de
emergência. Nas duas tentativas ela reclamava de fortes dores, mas foi
mandada para casa. Além disso, a bebê – que estava em estado grave – não
teria sido transferida a tempo para a Unidade de Terapia Intensiva
(UTI).
Priscila Nogueira, de 27 anos, contou à reportagem do portal Massa News
que o parto da pequena Sofia estava previsto para o dia 30 de abril,
mas que sua filha ainda não estaria pronta para nascer. A gestante,
porém, estava sentindo fortes dores e procurou o hospital na
quarta-feira (1º) para conversar com a equipe médica. “A doutora fez o
toque e a cardiotocografia, onde vê se o bebê está em sofrimento, e
estava tudo certinho. No toque ela constatou que o colo do útero estava
alto e grosso, e a bebê estava encaixando ainda”, disse. Desta forma, a
médica recomendou que Priscila voltasse à unidade para uma consulta no
sábado e informou que o parto seria realizado até, no máximo,
terça-feira (7).
Ao questionar sobre as fortes dores que estava
sentindo, a grávida foi informada de que “sentir dores era normal” e,
caso piorasse, poderia retornar à unidade para fazer novos exames. “No
sábado pela manhã começaram as dores bem fortes, estava travando minhas
pernas, de três em três minutos. Cheguei lá [no hospital] e a doutora me
atendeu, me pediu para fazer o exame de novo e disse que estava tudo
certo. Relatei que estava com dores muito fortes, que não conseguia
andar, e ela disse que não, que não eram contrações e que não era
necessidade fazer o exame de toque”, detalhou Priscila. Mesmo com dores e
sem conseguir andar, a gestante foi mandada para casa mais uma vez.
A
jovem foi para sua residência, almoçou e, ao perceber que as dores
estavam piorando, decidiu retornar ao hospital. Na maternidade, Priscila
relatou que foi tratada com grosseria pela mesma médica e, após ser
feito a cardiotocografia, exigiu que o exame de toque também fosse
feito. “Exigi que fizesse o toque em mim, pois eu estava morrendo de
dor. Então minha mãe ajudou a baixar a calça, ela [a médica] falou assim
‘abre essas pernas para ver certinho como tá aí, não tinha
necessidade’. Foi constrangedor, minha mãe chegou a chorar, ela forçou
bastante. Mas aí veio a contração e eu forcei também, e estourou a
bolsa”. Neste momento, a gestante foi levada às pressas para o centro
cirúrgico, onde foi realizada uma cesárea de emergência.
Priscila
percebeu que as coisas não estavam normais quando uma “correria” começou
no hospital. “Perguntei para o doutor se estava tudo bem e ele disse
que sim, que ia fazer cesárea de emergência. Ele perguntou ainda se eu
tinha ido de manhã, se eu tinha almoçado... e eu almocei pois me
liberaram, sendo que para fazer cesariana tem que estar em jejum”,
comentou.
“Quando vi ela já estava chorando, e pensei ‘Graças a Deus acabou meu pesadelo’. Mas eu nem imaginava que ele só estava começando a partir daquele momento”.
Assim que
Sofia nasceu, a mãe de Priscila foi até o local em que a recém-nascida
estava e tirou uma foto da pequena, que passaria por diversos
procedimentos. “Aí a pediatra veio e falou que era um caso grave, que
ela tinha engolido água pois não podia nascer chorando. Quando é cesárea
de emergência tem que nascer quietinho. Só que se você está no
hospital, você acredita que vão fazer o melhor para o seu filho, para
mim já estava tudo encaminhado. Eles falaram que se piorasse, ela ia ser
transferida para o Angelina Caron, achei que estava tudo certo”, disse.
Começou, então, um novo problema: a vaga na UTI. De acordo com
Priscila, a vaga não foi solicitada de imediato.
Indignada, a
jovem relatou que a transferência só foi pedida à noite, quando o
plantão médico já tinha sido trocado. “Se é um bebê que nasceu perfeito,
apesar da complicação no parto, eles sabiam que ela tinha aspirado a
água, porque não pediram uma vaga na UTI desde este momento? Eu não
acredito que eles tenham tido a capacidade de esperar até às 20h uma
vaga na UTI. A pediatra vinha o tempo todo falar que o caso era grave,
que teria que ser transferida”, lembrou.
Priscila afirmou, ainda, que o Samu chegou ao hospital
aproximadamente duas horas depois para buscar a recém-nascida, mas que
nesse momento a sua filha já não estava mais viva. “Foi tudo muito
rápido, a gente ficou sem ação. Tiveram tempo, era tempo suficiente para
fazer a transferência. Se fosse fatalidade, a dor não ia mudar, mas
seria mais fácil de aceitar. Mas eles tiveram tempo, ela era saudável, a
gestação foi perfeita, é impossível esquecer cada momento que passei
lá”, desabafou.
Priscila, que tem uma filha de nove anos, disse
que a menina sonhava com a irmãzinha. “A primeira coisa que ela
perguntou para a avó foi onde estava a irmã. Ela nunca perdeu ninguém
próximo, a primeira foi a irmã que ela tanto sonhou”, concluiu.
Investigação
Em
nota, a Prefeitura de Pinhais informou que irá instituir uma comissão
interna para apurar eventuais situações de imperícia, imprudência e
negligência. Confira a nota na íntegra:
A
Prefeitura de Pinhais informa que o pré-natal da gestante foi realizado
em Piraquara e que a gestão do Hospital Municipal Nossa Senhora da Luz
dos Pinhais é terceirizada. O atendimento à gestante foi realizado pela
equipe de pediatria do grupo INCS, que esclarece os fatos sobre o caso
de Óbito do RN, ocorrido no dia 4 de maio de 2019. A paciente avaliada
pela equipe da Obstetrícia foi encaminhada para cesárea de emergência
devido sinais de Sofrimento Fetal detectado no exame físico da gestante.
A criança nasceu as 16h31 horas, banhado por líquido meconial espesso.
Realizado o atendimento imediato do recém nato conforme orientação dos
Protocolos da Sociedade Brasileira de Pediatria e Protocolos de
Reanimação Neonatal. Entretanto, o mesmo evoluiu com dificuldade
respiratória, gemência e dessaturação importante, com necessidade de
suplementação de oxigênio e cuidados intensivos. Solicitado vaga com
sucesso em UTIN do Hospital Angelina Caron e transporte avançado via
Samu.
O
recém nascido contudo, evoluiu gravemente com hemorragia pulmonar
importante, com piora clínica progressiva e rápida. Procedido intubação
orotraqueal e medidas intensivas de suporte, com evolução para parada
cardiorrespiratória refratária, sendo constatado o óbito às 21h43. Os
familiares durante todo o atendimento foram informados sobre o quadro da
criança, gravidade e esclarecido dúvidas.
A
Síndrome de Aspiração Meconial é considerada grave, com alta
mortalidade (cerca de 50-60% dos casos). O INCS reafirma a preocupação
quanto a prevenção
desses
tipos de incidentes, e atualmente estão preocupados em traçar o perfil
dos pacientes assim como definir planos de ação para que tais danos
tenham seus riscos minimizados.
A
Prefeitura de Pinhais salienta que, a Secretaria Municipal de Saúde de
Pinhais, irá instituir uma comissão interna, para apurar eventuais
situações de imperícia, imprudência e negligência. Lembrando que, para
casos de óbitos materno e infantil, as Secretarias Municipais de Saúde
contam com o Comitê Municipal de Prevenção a Mortalidade Materna e
Infantil.
Nenhum comentário:
Postar um comentário