Na manhã deste sábado (4) o hospital amanheceu superlotado - havia 18
mulheres no corredor aguardando avaliação, outras dez no pré-atendimento
e a todo momento chegavam parturientes.
Mulheres de Feira de Santana e de várias cidades da Bahia ainda sofrem
por conta do descaso das autoridades, principalmente de prefeitos da
microrregião que não investem na ampliação de leitos de obstetrícia em
seus municípios. O resultado não poderia ser outro: Crianças estão
morrendo no Hospital da Mulher, em Feira, por falta de leitos. É
praticamente o único hospital público que abre as portas para gestantes
de vários lugares.
Na manhã deste sábado (4) o hospital amanheceu superlotado - havia 18
mulheres no corredor aguardando avaliação, outras dez no pré-atendimento
e a todo momento chegavam parturientes.
Além dessa situação, presenciada pelo Acorda Cidade, a notícia da
sexta-feira foi péssima: Duas crianças morreram por conta da demora no
atendimento obstétrico. Uma delas nasceu morta e a outra morreu logo
após o parto. Os dois partos foram cesáreos.
A diretora do complexo materno infanto-juvenil da Fundação Hospitalar, a
enfermeira Charline Portugal, informou que vai abrir uma sindicância e
apurar se houve alguma negligência.
Charline, ressaltou que a demanda de pacientes é muito grande, mas que a
estrutura é 100%. "O hospital tem uma estrutura que corresponde às
condições de trabalho, equipamentos devidos e equipe de trabalho
suficiente, mas só encher o hospital de profissionais pra dar
resolutividade não resolve", garantiu.
A diretora explica que o problema esta na grande demanda que busca o hospital por causa da falta de leitos no estado da Bahia. "Só neste sábado recebemos pacientes de vários municípios e essas parturientes deveriam estar sendo atendidas em seus munícipios porque a maioria e parto normal", afirmou.
Outra situação que provoca essa demanda de parturientes de acordo com
Charline, é o fato de alguns profissionais de saúde orientarem as
pacientes a não informarem que São de outras cidades.
A diretora médica do Hospital da Mulher, Marcia Sueli D' Amaral disse
que a capacidade da unidade é limitada mesmo o hospital tendo 78 leitos
de maternidade.
“Não estamos conseguindo dar conta da demanda de Feira de Santana e
outros munícipios. Tivemos sim dois óbitos porque não tínhamos leitos
para as gestantes serem atendidas. Na segunda avaliação os bebes foram a
óbitos", esclareceu. Ela confirma que as pacientes não foram internadas
devido a completa falta de leitos.
A dona de casa Elisabete dos Santos Pereira, de 18 anos, estava
aguardando para ser atendida hoje pela manhã. Ela tinha acabado de
chegar da cidade de São Gonçalo dos Campos. Ela é uma paciente de alto
risco porque estava com a pressão arterial elevada. A cunhada de
Elisabete, a dona de casa Eliane de Jesus informou que em São Gonçalo
não tem maternidade e que lá não se faz parto. "Mandaram que a gente
viesse para aqui. A enfermeira falou que como ela tem problema de
pressão alta e esta com quatro centímetros de dilatação viesse logo pra
um atendimento", disse.
Eliane disse ainda que tentou levar Elisabete no Hospital Estadual da
Criança (HEC) onde funciona uma maternidade de alto risco, mas não
conseguiu o atendimento. "Nos enviaram aqui para o Hospital da Mulher.
Só um hospital fica difícil porque eu acho que quando uma gestante entra
no hospital e para ter um bebê e não correr riscos" observa.
Bebê morto na barriga
Outro drama na porta do Hospital da Mulher era o da dona de casa Vanessa
dos Santos Santana. Ela tem 22 anos e chegou ao hospital na sexta
feira. Ela não poderia mais ter o filho porque ele estava morto.
"Cheguei aqui para saber o sexo do bebe e a médica disse que o coração
tinha parado. Era dez da manhã quando cheguei e onze horas fui informada
que não tinha vaga. Estou com o filho morto na barriga e talvez precise
fazer uma cessaria, mas não tem vaga", disse indignada.
Ela disse que também tentou um atendimento no Hospital Estadual da
Criança, mas teve que voltar. "Lá no HECl me disseram que não é caso
mais de alto risco porque a criança estava morta", salienta Vanessa.
Revoltada com o atendimento, a comerciária Viviane de Jesus acompanhava
Vanessa, que é sua cunhada, e uma irmã dela, que estava internada no
Hospital da Mulher. "Eu acho que isso tudo e uma falta de respeito. Não
critico o hospital em si por estar superlotado. A direção não tem culpa
de receber tanta gente em um lugar só. Mas quando você vai para o
Hospital Estadual reclamar dizem que não pode fazer nada. Fica um jogo
de empurra", afirmou.
A presidente da Fundação Hospitalar (entidade que mantem o Hospital da
Mulher), Gilberte Lucas, informou ao Acorda Cidade que aumentou de 29
para 40 mil atendimentos entre 2016 e 2018. Em 2019, segundo ela, os
atendimentos aumentaram 15%. Ela disse ainda que a equipe foi ampliada
com mais um obstetra e estão em construção, seis leitos e que o hospital
é municipal, tem portas abertas para todo o estado, mas não recebe
verbas do governo da Bahia.
Sobre São Gonçalo dos Campos, ela informou que aquele município não tem
pactuação com Feira de Santana, mas já enviou de janeiro até marco 223
gestantes com a realização de 83 partos.
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