Equipe de reportagem teve acesso ao interior das unidades e presenciou as dificuldades de pacientes, familiares e funcionários. Enfermos, quando conseguem atendimento, ainda temem risco de infecções
Lista de problemas inclui falta de médicos no Antônio Bezerra, estrutura precária na Parangaba e superlotação em Messejana. |
Os três Frotinhas de Fortaleza, referências no atendimento a traumas e
que deveriam prover bons cuidados à população, enfrentam atualmente
graves problemas estruturais e técnicos, gerando apreensão e revolta de
pacientes, familiares e funcionários.
O Hospital Distrital Edmilson Barros de Oliveira, mais conhecido como
Frotinha de Messejana, apresenta cenário difícil com superlotação no
atendimento de emergência. Em alguns corredores, pacientes são
acompanhados em colchões no chão da unidade, conforme vídeos enviados
por familiares e confirmados em visita realizada pela reportagem do
Diário do Nordeste.
As cenas contrastam com os corredores da área reformada e inaugurada
em dezembro de 2017, que abriu 12 leitos. "Em alguns passos, você vai do
inferno ao purgatório", comenta uma funcionária que não quis se
identificar. "A gente está aqui porque precisa trabalhar e não quer que o
hospital feche", diz. Em setembro do ano passado, a unidade hospitalar
chegou a ficar sete dias sem eletricidade por problemas na fiação.
Já no Hospital Dr. Evandro Ayres Moura, o Frotinha do Antônio
Bezerra, o problema é a falta de médicos de clínica geral. Na manhã da
última quarta (8), a reportagem verificou diversos casos de pacientes
chegando angustiados, em busca de atendimento, mas a explicação era dada
já na portaria. Um homem curvado por dor lombar e uma mulher prostrada
na cadeira de rodas, com cólica biliar, disseram que recorreriam a
alguma Unidade de Pronto Atendimento (UPA) para minimizar os quadros.
Danos
A situação também é penosa no Hospital Distrital Maria José Barroso
de Oliveira, o Frotinha da Parangaba. Embora não haja superlotação, a
estrutura da unidade agoniza. Piso rachado, teto com mofo, instalações
elétricas improvisadas e enfermaria amontoada, sem divisão por gênero,
refletem a urgência de uma ampliação que é prometida há 13 anos. A obra
foi reiniciada em agosto de 2016 e tinha previsão de duração de seis
meses, mas, ainda hoje, exibe apenas o esqueleto do prédio.
Na semana passada, o Ministério Público do Estado do Ceará (MPCE)
ajuizou Ação Civil Pública (ACP) para que o Município de Fortaleza
realize, em 90 dias, reformas físicas e estruturais na unidade e garanta
equipamentos e insumos necessários ao atendimento integral dos
pacientes.
As carências foram apuradas durante vistoria da 137ª Promotoria de
Justiça de Defesa da Saúde Pública. O descumprimento de qualquer decisão
pode levar a multa diária de R$ 10 mil. "Os hospitais secundários estão
abandonados, sem manutenção, reforma ou ampliação. Eles vão funcionando
só na gambiarra, sendo empurrados com a barriga", observa Regina
Cláudia, diretora setorial de saúde do Sindicato dos Servidores Públicos
do Município de Fortaleza (Sindifort), destacando que os hospitais de
trauma têm mais gastos porque o paciente passa, em média, cerca de 100
dias internado.
Magda Almeida, professora da Universidade Federal do Ceará (UFC) e
especialista em Saúde Pública, esclarece que um ambiente insalubre reduz
a segurança do paciente, aumentando riscos e acidentes. Projetos mal
concebidos e ausência de manutenção preventiva podem levar à umidade
excessiva, incomum no ambiente hospitalar porque proporciona "habitat
favorável ao desenvolvimento de bactérias gram negativas, as quais são
de grande importância nas infecções hospitalares".
Para a especialista, a superlotação dos hospitais só irá reduzir
quando a Estratégia de Saúde da Família (ESF) de Fortaleza "for
acessível e resolutiva, evitando o adoecimento e o agravamento de
doenças, fazendo com que as pessoas resolvam suas queixas e problemas de
saúde no primeiro nível de atenção". "Esses problemas se agravam ou
agudizam, fazendo com que a pessoa doente procure os serviços de
urgência e emergência das UPAS e hospitais", explica.
Segundo o coordenador de Hospitais e Unidades Especializadas de
Fortaleza, Romel Araújo, até 2020, todos os três Frotinhas estarão
reformados. Depois das enfermarias e da área administrativa, já
concluídas, o de Messejana terá reparos no bloco cirúrgico e no da
emergência. "Como não podemos suspender os atendimentos, fazemos tudo
aos poucos", descreve.
No do Antônio Bezerra, haverá quatro salas cirúrgicas e dez leitos de
recuperação. Até o começo de julho, deve ser inaugurada a reforma do
bloco cirúrgico, com incremento de 40% no número de procedimentos
realizados. Já o da Parangaba deve começar a ser reformado "em junho ou
julho". "A emergência e o centro cirúrgico serão ampliados. Teremos
praticamente um novo hospital", define.
Autonomia
Quanto à superlotação, Araújo afirma que a ampliação das unidades
conseguirá facilitar a rotatividade dos atendimentos. "Na realidade,
hoje, a escala dos profissionais é compatível com o atendimento. O
problema é que, como são prédios antigos, o centro cirúrgico fica com
algumas salas interditadas", diz.
Sobre a falta de médicos, o coordenador explica que as unidades têm
autonomia para manter as equipes completas, mas não conseguem
profissionais disponíveis em determinado momento. "Todos os servidores,
obrigatoriamente, têm que bater o ponto eletrônico, senão levam falta ou
podem ser penalizados por não cumprirem ou se ausentarem durante o
período de trabalho", completa o gestor municipal em entrevista.
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